Servidor é suspeito de usar computador do STJ para golpe milionário
Organização criminosa atuava em sites de comércio eletrônico e teria gerado prejuízo de pelo menos R$ 12 milhões
atualizado
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A organização criminosa desarticulada pela operação E-commerce 2, da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), na manhã desta terça-feira (19/3), aplicava golpes em sites de comércio eletrônico. Os bandidos emitiam boletos falsos às vítimas para adquirir produtos para o grupo. Um servidor do Superior Tribunal de Justiça (STJ) é investigado por fornecer moedas virtuais, como bitcoins, aos membros da quadrilha.
Segundo o delegado da Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Propriedade Imaterial e a Fraudes (Corf), Rodrigo Carbone, o funcionário público é suspeito de atuar como fornecedor da organização criminosa. Com conhecimento elevado em computação, o servidor utilizaria máquinas do próprio tribunal para as operações. Ao Metrópoles, o STJ confirmou que um computador foi apreendido, mas a corte aguarda a conclusão das investigações para tomar, se for o caso, as medidas administrativas necessárias.
Ao todo, os policiais prenderam 12 pessoas – sete preventivamente e cinco de maneira provisória – e cumpriram mandados de busca e apreensão no STJ, em São Sebastião, Guará e Recanto das Emas, além municípios de Goiás, como Goiânia, Aparecida de Goiânia, Hortolândia e Anápolis. Nesses locais foram apreendidos R$ 300 mil em espécie, 10 veículos (incluindo modelos de luxo), um jet ski, seis motores de lancha, uma mineradora de bitcoins, pelo menos 88 notebooks e mais de 120 celulares.
O delegado da Corf explicou em entrevista coletiva, na tarde desta terça, que a PCDF foi acionada para apurar uma denúncia de falsificação de boletos bancários. A partir daí, os investigadores conseguiram constatar que se tratava de uma organização criminosa cujo modus operandi consistia em gerar códigos de barras falsos que enganavam os consumidores.
“Os criminosos entravam no site, geravam perfis falsos e interceptavam boletos por e-mail. Entravam em sites de e-commerce, geravam compras, trocavam o código de barras do boleto e mandavam para a vítima, dizendo que houve um erro no pagamento. A pessoa, então, pagava novamente a conta de luz, por exemplo, mas na verdade estava comprando produtos eletrônicos para a quadrilha”, explicou o policial.
A organização criminosa causou prejuízo de até R$ 12 milhões, clonando dados de cartões de crédito e fraudando boletos bancários para fazer compras de grandes volumes de eletrônicos e produtos importados. Só no site Mercado Livre, a quadrilha teria criado pelo menos 5 mil perfis fake, usando CPFs falsos, para perpetuar as fraudes. De acordo com os agentes, o portal “colaborou integralmente” com as investigações.
A operação é fruto de nove meses de investigação, conduzida pela Corf. Segundo o diretor-geral da PCDF, Robson Cândido, a operação demandou 208 agentes, 31 delegados, duas aeronaves, caminhões e 61 viaturas, além de peritos. “Uma operação a nível nacional”, completou.
R$ 6 milhões
A primeira fase da operação foi deflagrada em junho de 2018. Na época, a Corf identificou a associação criminosa que causou prejuízo estimado em cerca de R$ 6 milhões em sites de vendas pela internet. Duas pessoas foram presas no Cruzeiro Velho.
De acordo com as investigações, os estelionatários lesaram, pelo menos, mil consumidores em 2018. Entre as vítimas estão pessoas físicas e jurídicas. O golpe, segundo o delegado Rodrigo Carbone, consistia em falsificar boletos bancários por meio do monitoramento fraudulento de e-mails enviados pelos fornecedores e recebidos pelas vítimas.
“Elas recebiam boletos bancários de compras efetuadas em sites e lojas virtuais ou mesmo de fornecedores físicos já conhecidos. Porém, antes de efetuarem o pagamento, recebiam um segundo boleto, já adulterado, contendo um outro código de barras, na maioria das vezes com valor inferior em relação ao primeiro boleto emitido.”
A partir da denúncia de um empresário do DF, de 30 anos, a fraude se concretizava quando as vítimas realizavam o pagamento desse segundo boleto, supostamente enviado pelo fornecedor. Por conta da adulteração, os pagamentos eram feitos para a compra de produtos diversos, como celulares, computadores e cervejas especiais.
Na residência do Cruzeiro, os agentes realizaram a apreensão de várias mercadorias adquiridas pelo grupo de maneira fraudulenta. “O endereço servia de fachada. Demonstrava residir uma família com a presença de crianças, mas teria sido alugada pelo grupo para receber e armazenar os objetos, avaliados em pelo menos R$ 700 mil”, destacou Carbone.
Confira a entrevista dada pelo delegado na primeira fase da operação: