Sargento da PM baleado é investigado por extorsão e grilagem
Amarildo da Cruz foi atingido na quarta (29/3). Há denúncias contra ele por ameaçar e obrigar moradores do Sol Nascente a deixarem lotes
atualizado
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A tentativa de assassinato do sargento da reserva Amarildo da Cruz Alves, 52 anos, em Ceilândia, pode ter sido motivada por um acerto de contas entre grileiros. O militar levou ao menos três tiros na noite de quarta-feira (29/3) na QNO 4. Os bandidos fugiram em um carro preto e ainda não foram localizados. A 24ª Delegacia de Polícia (Setor O) investiga o crime. Alves chegou a ser preso preventivamente no ano passado depois de ameaçar uma família do Sol Nascente e forçá-la a sair de casa.
Responsável pela apuração, o chefe da 24ª DP, delegado Ricardo Viana, informou que os policiais estão na fase de investigações para saber o que motivou o crime. Segundo agentes ouvidos pelo Metrópoles, Amarildo da Cruz é investigado por grilagem de terras no Sol Nascente, segunda maior favela da América Latina. No local, ameaçaria moradores e cobraria valores altos pelas casas. Ele disputaria lugar com outros grileiros.
O militar responde a um processo de extorsão na Primeira Vara Criminal de Ceilândia. No dia 4 de março de 2016, a auxiliar de serviços gerais Gláucia Sotero da Silva, 42 anos, registrou ocorrência contra o PM, o acusando de tentar tomar sua casa sob ameaças de morte. Segundo a mulher, o militar teria dito que iria colocar drogas em sua casa para que ela fosse presa. Ela disse, ainda, que Amarildo chegou a aparecer em sua casa fardado e que já havia expulsado outros moradores do local.Segundo o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), o militar, “no intuito de auferir vantagem indevida consubstanciada na posse do bem imóvel situado na QNP 17, teria constrangido, durante o período de 4 a 29 de março de 2016, vítimas diversas a desocuparem o bem”.
O sargento foi preso dias depois da denúncia de Gláucia. Mas conseguiu a liberdade em três meses. Na decisão, a juíza Edioni da Costa Lima reconheceu que as acusações eram “gravíssimas”. Porém, destacou que as vítimas foram intimadas e não compareceram à instrução do processo. “O alongamento da instrução – sem, em princípio, justificativa para tanto – não demanda outra medida a não ser a concessão da liberdade provisória ao acusado”, decidiu.
Amarildo da Cruz pagou fiança de R$ 1 mil e se comprometeu a ficar a uma distância mínima de 500 metros da casa das pessoas ameaçadas por ele. “Proíbo-o de manter qualquer contato com as vítimas, ainda que por intermédias pessoas, sob pena de revogação do benefício”, sentenciou a juíza.
O Metrópoles entrou em contato com a Polícia Militar para que a corporação se manifestasse sobre as acusações que pesam contra o sargento, mas não obteve resposta até esta publicação. A reportagem não conseguiu contato com o sargento ou seus advogados.
O crime
Por volta das 21h50 de quarta, um Ford Fiesta preto parou ao lado de Amarildo da Cruz. Um dos ocupantes do veículo atirou pelo menos três vezes. Em seguida, eles fugiram. Um homem que estava em um bar próximo ao local ouviu os disparos e, ao sair do local, encontrou o sargento ensanguentado, encostado em um muro, ao lado do seu veículo.
Ainda segundo relato à Polícia Civil, Amarildo teria dito que era policial e que estava saindo da igreja quando foi atingido. A testemunha entrou no carro da vítima e a levou para o Hospital Regional de Ceilândia (HRC). Ele passou por cirurgia e seu estado de saúde é estável.
Grilagem
Em janeiro deste ano, o Metrópoles publicou reportagem especial mostrando que o medo e a grilagem dominam o Sol Nascente. As construções irregulares estão por toda parte. Os grileiros fazem aterramentos, degradam a natureza e parcelam lotes. Cada unidade pequena, de até 200 metros quadrados, é vendida por um preço médio de R$ 30 mil.
Imagens mostram irregularidades na ocupação do Sol Nascente:
A comercialização é fácil e rápida. Muitas vezes, a dívida é quitada em apenas uma parcela ou paga com a entrega de carros ou imóveis em outras regiões do DF. Os anúncios são feitos por meio de faixas e em sites de venda na internet.
A comercialização ilegal de lotes e a ação de criminosos são investigadas pela Polícia Civil do Distrito Federal.