Ameaçados, sem-teto usam coquetel molotov
Invasores dão uma mostra de que vão resistir à retirada de hotel. PM traça estratégia para cumprir determinação judicial
atualizado
Compartilhar notícia
Os sem-teto que ocupam o hotel St. Peter, na área central de Brasília, estão dispostos a permanecer no local mesmo com a ordem judicial para que saiam. No início da tarde desta terça-feira (15/9), sentindo-se ameaçados por uma movimentação da polícia, eles atiraram dois coquetéis molotov (bomba caseira) na pista de acesso ao Setor Hoteleiro Sul. Reunidos na área da piscina, soltaram fogos de artifícios e gritaram palavras de ordem. A Polícia Militar estuda qual a melhor opção para retirar os invasores, já que entre eles estão muitas crianças.
Os representantes do hotel ainda aguardam que um oficial de Justiça notifique os invasores e determine a saída. Os integrantes do Movimento de Resistência Popular (MRP), por sua vez, informam que não vão sair do local, já que não conseguiram fechar um acordo com o Governo do DF.
Em entrevista na tarde desta terça-feira (15/9), um dos líderes do movimento, Edson Silva, mudou o discurso inicial e afirma que os manifestantes não aceitarão auxílio-aluguel. Agora, garantem que só deixarão o hotel quando o governo distribuir lotes a eles. “Não temos para onde ir”, afirmou. Segundo ele, se for necessário, os manifestantes irão para o confronto com a polícia.
Hamilton Pereira, secretário da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Legislativa, prometeu encaminhar um relatório sobre o caso ao deputado distrital Ricardo Vale. O parlamentar é responsável pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar da Câmara Legislativa. Ao todo, 450 adultos e 90 crianças estão no hotel, de acordo com o líder do MRP.
Para reforçar a segurança e evitar a entrada de mais invasores, o hotel contratou oito vigilantes. Como alguns sem-teto saíram na manhã desta terça para trabalhar, a ordem é que eles não entrem de volta. Apenas uma viatura da Polícia Militar monitora a área. Uma equipe do Corpo de Bombeiros foi chamada para dar plantão no local, já que as bombas caseiras fabricadas pelos invasores podem causar algum estrago maior.
Como existem muitas crianças entre os invasores, o Conselho Tutelar foi chamado. De acordo com a ordem de desocupação, assinada pelo juiz João Luiz Zorzo, para cada dia que os invasores permanecerem no local, após a notificação, será cobrada uma multa de R$ 10 mil do MRP.
Cerca de 10 estudantes que participaram da manifestação contra o fim da isenção do Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília (UnB) se uniram aos manifestantes. Eles fazem parte da Assembleia Nacional dos Estudantes Livres.
Bebidas importadas
O hotel foi ocupado na madrugada desta segunda. Cerca de 150 pessoas invadiram os quartos. Nem a suíte presidencial escapou. Segundo os sem-teto, as portas das unidades estavam abertas e eles entraram. Já os donos do hotel denunciam que houve arrombamento. Os quartos são equipados com televisão, ar-condicionado e banheira de hidromassagem. Além disso, os invasores estão utilizando a área da piscina e da cozinha, onde encontraram pratos e talheres. Um deles contou à reportagem do Metrópoles que há muitas bebidas importadas no bar do hotel. Mas não quis informar se foram consumidas.
Muitos invasores disseram que aceitam sair do hotel caso o GDF pague o auxílio-aluguel, benefício de R$ 600 mensais. “Estou com uma ordem de despejo porque estou com o aluguel da minha casa atrasado dois meses”, conta a desempregada Cristiana Oliveira, 33 anos, moradora de Samambaia. O mesmo diz Francisnete Alves, 55: “Se me pagarem o auxílio-aluguel eu saio”.
Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles