Ação policial não coíbe venda de celular roubado na Feira do Paraguai
No mesmo dia em que uma quadrilha especializada em roubo de celulares foi desarticulada no DF, Metrópoles flagrou comércio pirata na Feira
atualizado
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A megaoperação que desarticulou, na terça-feira (20/6), uma quadrilha especializada em furto de aparelhos celulares e computadores em lojas do Distrito Federal não foi suficiente para coibir a compra e a venda de aparelhos suspeitos em um dos principais pontos da capital: a Feira dos Importados, também conhecida como Feira do Paraguai. O Metrópoles passou a tarde de terça (20) no local e presenciou o livre comércio de telefones portáteis sem nota fiscal e de procedência duvidosa. O delegado Carlos Diniz, adjunto da 8ª DP (SIA), unidade responsável pela área, classificou o problema como “crônico”.
“Desencadeamos ações frequentes para combater o mercado de equipamentos eletrônicos furtados que são revendidos na Feira. No entanto, muitos criminosos são soltos pouco depois da detenção e voltam a incorrer no crime”, afirmou Diniz. O delegado acrescentou que “a Polícia Civil tem agido com vigor no combate a esses delitos”.
Apesar dos esforços, o comércio irregular é diário na Feira dos Importados. Assim que a reportagem chegou ao local, no início da tarde de terça (20), os primeiros vendedores abordaram a equipe.
Um jovem de boné, camiseta, calça jeans e chinelos que aparentava ter cerca de 25 anos abriu uma mochila e ofereceu três modelos de celulares, amarrados por um elástico. Nenhum tinha caixa ou nota fiscal. Ao ser questionado sobre acessórios, o rapaz disse: “É de segunda mão, né, mano?”. Os aparelhos, um LG, um Samsung e um Motorola custavam entre R$ 150 e R$ 300.
Venda no varejo
A venda informal ocorre nas principais entradas e saídas da Feira. A estratégia é usada para encobrir as transações e não expor as bancas e lojas que faturam com a receptação dos aparelhos roubados ou furtados em todas as regiões do DF. “É possível encontrar essa venda no varejo no decorrer de todo o horário comercial”, explicou uma fonte que trabalha na Feira e que explicou à reportagem como funciona o comércio.
Manutenção de fachada
Além da oferta nas entradas que dão para os corredores da Feira, receptadores se aproveitam de lojas específicas para disfarçar a atividade criminosa. “Muitas das bancas que atuam como pontos de assistência técnica para celulares, tablets e notebooks são pura fachada. A maioria recebe produtos roubados ou furtados. Quando não revendem os aparelhos, eles são desmanchados, e as peças, revendidas”, disse a fonte.
Em três de quatro dessas lojas de manutenção visitadas pela reportagem, nenhuma revendia aparelhos usados com nota fiscal, caixa e acessórios. O preço também destoava das bancas que vendiam os celulares com a documentação correta: enquanto um iPhone 5s com nota era vendido a R$ 1,1 mil; o mesmo modelo num quiosque de conserto podia ser adquirido por R$ 800. Este, contudo, era usado e não tinha comprovação de origem.
Alta demanda
Segundo o especialista em segurança pública George Felipe Dantas, um dos motores que alimenta a venda ilegal de celulares é a demanda. “Enquanto houver um mercado receptador que absorva esses aparelhos, a prática criminosa permanecerá sendo alimentada.”
Os dados que envolvem esse tipo de delito são altos na capital federal. Apenas entre janeiro e maio deste ano, o DF registrou 3,4 mil casos de roubos a transeuntes, média de 113 por dia. Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social, em cerca de 70% das ocorrências os bandidos querem o celular da vítima.
Operação Parasitus
Além dos roubos a pessoas, o mercado paralelo é abastecido por furtos a lojas. Foi justamente este delito que motivou a Operação Parasitus, deflagrada pela Polícia Civil na manhã de terça (20). Na ação, foi desmantelada uma organização criminosa especializada em levar eletrônicos de comércios.
Os integrantes da quadrilha aliciavam menores de idade para cometer roubos e furtos nos estabelecimentos. Os itens, a maioria celulares e notebooks, eram comercializados na Feira dos Importados.
De acordo com as investigações, os criminosos mantinham uma base em Santo Antônio do Descoberto (GO) e, além do DF, onde foram registrados ao menos 19 furtos, coordenavam os crimes em outras regiões do país. O total de casos chegou a 47 nos últimos dois anos. Na Operação Parasitus foram cumpridos 32 mandados de prisão.