Quebrando a banca. Polícia do DF quer atacar a parte mais sensível dos grandes traficantes: o bolso
Coordenação de Repressão às Drogas pretende abalar a estrutura financeira por trás das quadrilhas. Lavagem de dinheiro será um dos focos para combater a ação dos criminosos e, dessa forma, reduzir o poder econômico desses grupos
atualizado
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As forças de segurança do Distrito Federal vão incluir uma nova estratégia no combate ao tráfico de drogas que promete atacar a parte mais sensível das grandes quadrilhas: o bolso. Segundo o responsável pela Coordenação de Repressão às Drogas da Polícia Civil do DF, delegado Rodrigo Bonach, a ideia é minar o poderio econômico dos criminosos e, ao mesmo tempo, fazer com que eles respondam por outras infrações.
O alvo das investigações será a lavagem de dinheiro feita por quadrilhas e traficantes. O trabalho será intensivo para atacar o patrimônio dos criminosos e desestabilizá-los financeiramente. Esperamos, no futuro, ter um desabastecimento maior de drogas no Distrito Federal, além de encontrar outras formas de penalizar quem pratica o comércio de substâncias ilícitas
Rodrigo Bonach, delegado responsável pela Coordenação de Repressão às Drogas da Polícia Civil do DF
A estratégia inovadora tem razão de ser, e é fundamentada em números. Ao mesmo tempo em que a ação dos grande traficantes está cada vez mais sofisticada, cresce a apreensão de drogas em todas as regiões administrativas. Na manhã de terça-feira (11/1), por exemplo, foram apresentados os dados relativos à segurança pública no Distrito Federal em 2015. Entre os itens que chamaram a atenção, está o aumento considerável nas apreensões de alguns tipos de entorpecentes em comparação ao ano anterior.
Para o consultor em segurança pública George de Lima Dantas, a medida será importante para coibir o tráfico de drogas. “No caso de traficantes de grande porte, há um grande volume na entrada de valores. Nessa situação, há uma busca por legitimar essas quantias. Ao investigar essas movimentações, pode-se desarticular as atividades que emulam um sistema empresarial. Dessa forma, pelo menos em um primeiro momento, costuma-se causar um desabastecimento do narcotráfico”, explica.
O especialista, porém, acredita que outras ações devem ser tomadas paralelamente às investigações financeiras. “Ao desarticular um grupo, o sistema tende a mudar de loco. O tráfico costuma se adaptar. Dessa forma, outras ações, como abordagem de possíveis suspeitos, com identificação e revistas sistemáticas, são fundamentais. Soa como óbvio, mas essa é uma prática contemporânea eficiente”, afirma Dantas.
Aumento nas apreensões
De 2014 para o ano passado, o número de ações contra o tráfico de drogas aumentou em 25%, segundo os dados apresentados pela Secretaria de Segurança Pública e Paz Social. Foram 2.911 ações contra 2.329 em 2014. A repressão ao uso e ao porte também apresentou crescimento, de 5,2 mil casos para 7,3 mil, representando acréscimo de 37,8%.
Produtividade
O crescimento nas apreensões de drogas em 2015 foi visto como positivo para o delegado Bonach. “O aumento na quantidade de drogas apreendida não representa necessariamente maior consumo. Pelo contrário. O acréscimo mostra o sucesso da atividade policial”, explica.
Um dos focos da polícia foi a venda de cocaína e derivados, especialmente o crack. Segundo Bonach, o enfoque nesse tipo de droga se deve à prevenção a outros crimes. “Usuários de crack costumam praticar outros delitos, como furtos, roubos e mesmo homicídios em busca de formas para financiar o vício. Reduzir o tráfico dessa droga costuma levar à diminuição de outros índices de criminalidade”.
A opinião é condizente com a visão de George de Lima Dantas. “Hoje, vivemos uma epidemia no uso de crack. O vício muitas vezes é relacionado a uma degeneração do comportamento do indivíduo, que acaba cometendo delitos no afã de conseguir a droga.”
Sintéticas
Outro alvo das operações policiais em 2015 foram as drogas sintéticas, com aumentos consideráveis nas apreensões de ecstasy, LSD e lança-perfume. Para se ter ideia, em 2014, foram recolhidos 1.045 microsselos de dietilamida do ácido lisérgico, mais conhecido por LSD. No ano seguinte, mais de 9,6 mil microsselos da droga foram interceptados.
“Os estudos e as investigações apontaram para públicos específicos desses entorpecentes, normalmente frequentadores de festas e raves. Assim, ações de desarticulação de redes de tráfico tiveram sucesso”, revela Bonach.
Maconha
A única modalidade de droga que mostrou decréscimo em apreensões, segundo o estudo apresentado, é a maconha. A queda foi de mais de 50%, sendo recolhidos 2,3 mil toneladas da droga no ano passado contra 4,7 toneladas em 2014. “Em 2014, batemos recordes de apreensão da droga e prisões de traficantes do ramo. Isso gerou um reflexo de desabastecimento e desincentivo do tráfico em 2015”, acredita.
Dantas, por sua vez, aponta uma mudança de estratégia como possível causadora na redução. “A polícia tem percebido que há drogas socialmente mais prejudiciais, como as derivadas de cocaína. Assim, os esforços têm se concentrado nessas modalidades”, crê o especialista.