Quadrilha de roubo de cargas ameaçava matar familiares de motoristas
O Metrópoles teve acesso a detalhes da investigação que levou para a cadeia um bando especializado em assaltar veículos com carregamentos
atualizado
Compartilhar notícia
Uma quadrilha fortemente armada agia nas ruas do Distrito Federal em plena luz do dia. Roubos de cargas cometidos pelo grupo foram registrados em locais de grande movimentação, como um posto de gasolina na Asa Norte. As câmeras de segurança ou dispositivos de monitoramento de grandes empresas de cigarro, medicamentos e produtos agrícolas não eram suficientes para intimidar a organização criminosa desarticulada pela Polícia Civil na quarta-feira (12/9).
O Metrópoles teve acesso a detalhes da investigação, que revela a forma como os ladrões se organizavam. Especializado, o bando fazia o levantamento completo da rotina dos motoristas e ajudantes das firmas e ameaçava, inclusive, familiares das vítimas, pois dispunham de endereços e telefones.
Esse era um dos métodos usados para aterrorizar funcionários e fazer com que não reagissem. As apurações comprovam, ainda, que a quadrilha mantinha pessoas infiltradas dentro das empresas a fim de conseguir informações privilegiadas com relação às rotas e às cargas transportadas.
Um assalto em 2018, na Asa Norte, foi filmado por câmeras de segurança. Os policiais também rastrearam o local para onde mercadoria foi levada.
Veja imagens cedidas pela Polícia Civil:
Quem é quem
Nos últimos quatro meses, foram realizados seis roubos, o que rendeu cerca de R$ 500 mil aos criminosos. O dinheiro era investido em armamento e carros. Alexandre Ferreira Lima, um dos presos, comprou um Hyundai HB20.
Além de dar fuga ao comparsas, Lima atuava como motorista de aplicativo e buscava informações de empresas — entre elas, a agropecuária do próprio tio — para fornecer à organização criminosa e arquitetar as abordagens.
Bruno Alessandro Soares, também preso, é apontado como o líder. Era o proprietário das armas utilizadas nos crimes e ficava responsável pela guarda da carga roubada e dos veículos empregados durante o assalto, além de vender as mercadorias.
Os outros presos são: Erinaldon do Santos, Thiago da Silva Nunes, Pedro Henrique Souza de Oliveira, Francisco Ubiratan Maia Chaves, Márcio Dias do Nascimento, Daniel Pereira Marques, Isaac Lincoln Evangelista e Pedro Gabriel de Souza Galdino.
Durante a operação batizada de Pullum, os policiais apreenderam aparelhos usados para “embaralhar” rastreadores de veículos, máscaras e luvas cirúrgicas que compunham o disfarce dos bandidos. Os veículos dos suspeitos, incluindo uma van, foram recolhidos.
Confira imagens da ação policial:
Dois grupos
Os policiais da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri) traçaram um perfil do modus operandi das quadrilhas e as separou em dois grupos: os que cometem roubos dentro do DF e os que atuam nas rodovias.
O principal alvo do primeiro grupo são as cargas de cigarro. As mercadorias são vendidas rapidamente a pequenos comerciantes por 40% a 60% do valor total da nota fiscal. Os roubos cometidos nas rodovias federais que tangenciam o DF, geralmente, envolvem carregamentos de alimentos, materiais de higiene pessoal e limpeza. Os produtos também acabam comercializados na capital federal.
Outro detalhe desvendado pelos policiais configura o chamado “roubo de boleia”. É quando os integrantes do bando preferem esperar os motoristas pegarem o pagamento das cargas em dinheiro vivo. Esse era um meio considerado mais rentável e seguro para os ladrões, que não precisavam se preocupar em fazer o transbordo da carga nem entrar em contato com receptadores para revender a mercadoria.
Os investigados foram indiciados por organização criminosa (cuja pena é de três a oito anos de reclusão) e roubo de carga majorado (quatro a 10 anos), com aumento de dois terços devido ao emprego de arma de fogo. Se condenados, podem pegar mais de 30 anos de reclusão.