“Provas frágeis”, diz juíza ao soltar acusado de chacina no DF
A decisão foi tomada em audiência de custódia realizada nesta segunda-feira. A barbárie em acampamento cigano resultou em quatro mortes
atualizado
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Dos três suspeitos de participar da chacina ocorrida em um acampamento de ciganos em Sobradinho, dois permanecerão presos por tempo indeterminado. A decisão foi tomada em audiência de custódia na manhã desta segunda-feira (03/02/2020). A barbárie resultou em quatro mortes. O terceiro envolvido ganhou liberdade provisória devido à “fragilidade das provas”.
Na peça processual, a juíza Flávia Pinheiro Brandão de Oliveira detalhou que os suspeitos teriam aberto fogo no acampamento cigano, no sábado (01/02/2020), colocando em risco todos os moradores da redondeza, inclusive crianças. “Cabe destacar o depoimento de uma das testemunhas, no sentido de que, no momento dos fatos, estaria com sua filha no colo. Após ceifar a vida de três vítimas, os custodiados teriam recolhido as armas portadas por elas e se evadido no local a pé”, assinalou.
Ainda de acordo com a magistrada, quando já estavam na saída do acampamento, os dois dispararam contra uma quarta pessoa, que morreu na hora. A dupla roubou o veículo da vítima, um Fiat Siena, e fugiu. A juíza frisou que a periculosidade social de Luís Fernando Vicente Carvalho também é revelada por sua folha de passagens, uma vez que ostenta condenação definitiva pela prática de tentativa de homicídio e tráfico de drogas. Ele cumpre pena em regime domiciliar desde dezembro de 2018.
Já Wanderson Ferreira de Assis, apesar de tecnicamente primário, já respondeu por posse ilegal de arma de fogo, ocasião em que foi beneficiado com a suspensão condicional do processo. “Tudo isso conduz à inevitável conclusão de que, em liberdade, encontrarão estímulos à prática de novas infrações penais, mormente pelo fato de que, pelo que se depreende do depoimento de Wanderson, eles teriam ido até o local para efetuar um acerto em relação a um veículo comprado anteriormente por seu irmão e que era produto de roubo”, anotou a juíza ao converter a prisão em flagrante por preventiva.
Flávia Pinheiro explicou que manter a custódia dos presos é o único instrumento que atende às peculiaridades do caso. Segundo a magistrada, nem mesmo a tornozeleira eletrônica os impediria de voltar a delinquir e, inclusive, atrapalhar a instrução processual, uma vez que os fatos ainda precisam ser esclarecidos no que tange à motivação do delito e aos ocupantes do veículo HRV.
O preso Luiz Henrique Cruz Costa, reconhecido por uma testemunha como um dos autores dos disparos, acabou ganhando liberdade provisória sem o pagamento de fiança. A juíza considerou os “elementos de provas frágeis” para tomar tal decisão. “Verifica-se que esse reconhecimento ficou isolado nos autos, especialmente porque todas as pessoas ouvidas foram unívocas em apontar que ele teria permanecido no interior de sua residência durante todo o desenrolar dos fatos, tendo saído apenas para levar os outros dois autuados ao hospital, tendo em vista que eles estavam baleados”, explicou a delegada.
Carro motivou chacina
A principal linha de investigação da 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho) para a chacina é referente à venda de um carro. O desentendimento entre o vendedor e o comprador do automóvel teria dado início ao episódio violento.
O delegado-chefe da 13ª DP, Hudson Maldonado, confirma que o cerne da questão consiste na desavença entre dois homens. “Dois chegaram a pé no acampamento. Um deles teria vendido um carro por R$ 15 mil. No entanto, o veículo tinha vários problemas, incluindo clonagem e adulteração. O comprador, inclusive, foi preso ao ser flagrado com o automóvel”, detalhou o policial.
Os envolvidos não teriam qualquer relação com o grupo cigano. Apenas teriam marcado de “desfazer” o negócio no local. O comprador chegou em um Honda HRV com cinco homens. Eles desembarcaram e, em seguida, a troca de tiros foi iniciada. Três ocupantes do veículo foram baleados e morreram na hora.
“Os dois que chegaram antes conseguiram fugir a pé. Eles encontraram um cigano no caminho e, de forma covarde e brutal, atiraram na vítima (atingindo o olho e o tórax) e fugiram no veículo dele”, contou o delegado.
A dupla foi localizada e presa pela Polícia Civil. Durante o depoimento, usaram o direito de permanecer calado. Os investigadores também conseguiram identificar e prender um dos ocupantes do automóvel. Ele afirmou que os tiros foram iniciados por dois dos acusados. Outro autor está ferido e sob escolta policial no Hospital Regional de Sobradinho.
Veículos apreendidos
Nas buscas, os investigadores apreenderam quatro veículos de passeio vinculados aos suspeitos. Além disso, descobriu cartões bancários, joias e R$ 1.127 em espécie. Todo o material recolhido foi encaminhado para os peritos analisarem.
As execuções aconteceram no Condomínio Serra Verde, na altura da DF-440. Como explicou o tenente da PMDF Adson Ramos, por volta das 15h, dois suspeitos deram entrada com ferimentos à bala nos hospitais do Gama e de Santa Maria. Wanderson Ferreira de Assis foi atingido no braço, liberado e detido em seguida.
Mediante fotos, ele foi reconhecido por moradores do acampamento como um dos autores dos disparos. Outro acusado, Luís Fernando Vicente Carvalho foi baleado nas costas e permanece internado.
Encontro marcado
Até a manhã desse domingo (02/02/2020), apenas uma das vítimas ainda não havia sido identificada. Delegado responsável por preservar a área do crime, Égiton Rocha disse que, pela dinâmica, não descarta ter havido um encontro marcado entre os grupos, pois uma das vítimas fatais estava vestida com um colete à prova de balas.
Segundo informações levantadas pela PMDF, um dos abatidos no confronto integrava uma gangue de São Sebastião chamada Facção do Residencial Oeste.
As vítimas ainda apresentavam marcas de perfurações feitas com objetos cortantes, além agressões físicas. A irmã de um dos homens mortos tentou agredir os policiais e acabou detida.