metropoles.com

Polícia investiga comércio clandestino de airbags furtados no DF

Kits com os equipamentos de segurança possuem alto valor no mercado pirata, chegando a custar R$ 7 mil

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Ana Karolline Rodrigues/Metrópoles
setor-h-norte1
1 de 1 setor-h-norte1 - Foto: Ana Karolline Rodrigues/Metrópoles

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) investiga uma nova modalidade de crime que chegou à capital. Além de roubos e furtos de veículos, os bandidos estão se especializando no furto de airbags. De acordo com a Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri), da PCDF, kits com os equipamentos de segurança possuem alto valor no mercado clandestino, chegando a custar R$ 7 mil.

Segundo acreditam os investigadores, os bandidos agem sob encomenda. No DF, lojas de autopeças localizadas no Setor H Norte, em Taguatinga, já foram investigadas e autuadas pela venda de peças furtadas. O local é um dos principais pontos do comércio ilegal na capital do país.

“Existem alguns casos. Ainda não chega a ser significativo, mas começou essa nova ‘moda’. É difícil retirar o airbag sem danificar ou deflagrar o equipamento. Essa situação tem relação com aquela investigação das lojas de revenda de autopeças. Muitas ‘encomendam’ esse produto”, explicou o delegado Eric Salum, da Corpatri.

De acordo com ele, investigadores já estão em tratativas para formalizar um Acordo de Cooperação Técnica com o Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF), visando incrementar a fiscalização sobre as lojas e tentar inibir o comércio ilegal.

Ainda segundo Salum, a venda de airbags  e quaisquer itens de segurança usados é proibida por lei. “Para trocar o airbag, tem que ser sempre novo. O problema é que essa é umas das peças mais caras, então dá-se esse ‘jeitinho'”, destacou. “Com o furto dos equipamentos, algumas vezes, as seguradoras declaram perda total do carro, por ser um item muito caro”, completou o delegado.

A proibição da venda está regulamentada conforme o artigo 4º da Resolução 611 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran):

“Não poderão ser destinados à reposição, independentemente do estado em que se encontrem, os itens de segurança, assim considerados o sistema de freios, o sistema de controle de estabilidade, as peças de suspensão, o sistema de airbags, os cintos de segurança e seus subsistemas, o sistema de direção e os vidros de segurança com gravação da numeração de chassi, sendo sua destinação restrita para reciclagem e tratamento de resíduos.”

Venda ilegal é comum no DF

Na quinta (12/12/2019) e na sexta-feira (13/12/2019), o Metrópoles esteve em lojas do Setor H Norte. No local, a reportagem notou que a venda de kits de airbags usados é comum entre os comerciantes.

Em uma das lojas, o gerente relatou que a empresa compra os veículos usados em leilões do Detran e vende as peças a preços “duas, três vezes mais baratos” do que os itens novos. “Uma lateral de carro, dependendo do veículo, a gente pode vender por algo entre R$ 1 mil e R$ 3 mil. Na concessionária, você vai encontrar por R$ 8 mil”, exemplificou.

Questionado sobre o kit de airbag, o homem informou que o estabelecimento não vendia o produto usado e não falou mais com a reportagem.

Contudo, logo em seguida, um vendedor da mesma loja conversou com o Metrópoles e deu uma versão diferente: o local comercializa, sim, os itens de segurança usados. Segundo ele, o kit custa cerca de R$ 3 mil para um carro popular. “Um novo, na loja, você vai comprar por uns R$ 10 mil”, afirmou.

Em outro estabelecimento, o gerente informou que adquire veículos de São Paulo em leilões on-line de seguradoras, porque “os carros de lá são melhores”. No local, o kit completo de airbag usado também custa aproximadamente R$ 3 mil.

“Na concessionária a pessoa compra tudo separado, não vem em kit. Tem que pagar pelo cinto de segurança, a bolsa do volante, a bolsa do painel. Então sai muito mais caro”, comentou ele.

Em uma terceira loja em que a reportagem esteve, a faixa de preço do equipamento usado foi a mesma, de R$ 3 mil. Segundo um dos vendedores, o local só comercializa airbags usados “que não foram rasgados”. “Um carro com 12 mil quilômetros rodados está novinho”, argumentou.

Veja, no vídeo abaixo:

Questionados sobre a segurança de comercializar o kit com os itens de segurança retirados de carros usados, outros dois comerciantes garantiram que só são vendidas as peças que estiverem em bom estado. “Se não estragou o airbag, a gente vende. Se tiver estragado, não tem como vender”, disse um funcionário.

Ouça o que disseram os vendedores nos áudios a seguir:

Esquema milionário

No dia 30 de setembro deste ano, a Polícia Civil deflagrou uma megaoperação para desarticular uma organização criminosa especializada em roubo e desmanche de veículos. Cerca de 450 policiais cumpriram 120 mandados de prisão, preventiva e temporária, de busca e apreensão. Durante a ação, os agentes interditaram 20 lojas no Distrito Federal, em São Paulo e Goiás.

A ação policial expôs um esquema milionário de desmanche enraizado na capital federal há ao menos uma década. Em depoimento aos investigadores, empresários brasilienses confessaram que encomendavam peças de carros a criminosos de Campinas (SP).

Os carros eram roubados e furtados no município paulista de acordo com a demanda dos clientes, especialmente os do Setor H Norte, em Taguatinga. Ao Metrópoles, o Detran admitiu que a fiscalização nas lojas de autopeças não era feita na capital do país.

Riscos ao consumidor

Após a operação, o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e o Detran reforçaram a fiscalização nas lojas especializadas em vender peças de veículos. Segundo o promotor de Justiça Cláudio Portela explicou ao Metrópoles à época, empresas de peças usadas precisam estar cadastradas no Detran. No entanto, muitas delas não estão atuando dentro da lei.

Portela chamou atenção, então, para a possibilidade de o cliente que comprou peças roubadas ser investigado por receptação. “O cidadão não pode se preocupar só com o preço da peça, mas com a origem, até por que ele é passível de ser investigado pelo crime de receptação se for encontrada uma peça roubada no carro dele” disse.

Com isso, o promotor alertou a população do DF para, antes de comprar qualquer material em lojas do ramo, conferir se o estabelecimento tem o aval para exercer esse tipo de comércio. “Nós precisamos que a sociedade nos ajude. No momento de aquisição das peças, pedimos para que verifiquem se a empresa está adequada aos padrões da legalização, se está de acordo com o Detran”, solicitou.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?