Polícia do DF apura ameaça a jovem que desistiu do jogo Baleia Azul
Mãe da adolescente registrou ocorrência na 35ª DP. Ao Metrópoles, ela disse que agressor sabia de detalhes da rotina da filha, de 15 anos
atualizado
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O macabro jogo da Baleia Azul, que tem levado jovens do Brasil e do mundo a se mutilarem e cometerem suicídio, chegou ao Distrito Federal e virou alvo de uma investigação policial. Na quarta-feira (19/4), a mãe de uma adolescente de 15 anos registrou ocorrência na 35ª DP (Sobradinho II). Segundo a mulher, a filha aderiu a um grupo no Facebook e iniciou os 50 desafios impostos pelo moderador. No entanto, a garota desistiu e recebeu ameaças.
De acordo com o boletim de ocorrência, a pessoa que mandava a jovem cumprir determinadas tarefas, como se mutilar, disse: “Você vai se arrepender e morrerá de qualquer jeito”. Preocupada, a mãe decidiu acionar a polícia.
Segundo os pais, a adolescente chegou a cumprir três tarefas, incluindo fazer cortes nas mãos, assistir a filmes e ouvir músicas indicadas pelo grupo. Porém, após esses atos, ela teria pedido para deixar a corrente. Em resposta, recebeu as ameaças.
O pai relata que a menina não exibia comportamento estranho e só ficou sabendo do caso quando uma amiga de sua filha avisou a direção do colégio em que ambas estudam . “A diretora nos chamou para explicar o que estava acontecendo e nos orientou a buscar a polícia por causa das ameaças”, contou ao Metrópoles.
O que mais assustou os pais foi que, no bojo das ameaças, foram descritos detalhes da rotina da filha. Eles acreditam que as informações foram obtidas por meio do próprio perfil da adolescente nas redes sociais.
À polícia, a mãe contou que a adolescente “não tem mais as conversas nem as ameaças digitais, uma vez que apagou todos os registros e os relacionamentos com pessoas vinculadas ao jogo”. Segundo o pai, uma das orientações da corrente é justamente apagar pistas para dificultar futuras investigações.
Com o caso, o pai afirma que terá mais cuidados com a filha. “Como ela tem irmãs mais novas, às vezes, não damos a atenção necessária. Conversaremos mais e tentarei ter um pouco de controle sobre as redes sociais”, assegura o homem.
Diante da experiência negativa e assustadora, ele disse ter aprendido uma lição, que faz questão de compartilhar com outros pais: “É preciso ficar atento ao comportamento dos jovens, como uso de roupas para esconder ferimentos ou tempo excessivo nas redes sociais.”
A preocupação em relação ao jogo se espalhou pelo país depois que oito estados registraram casos de suicídio e mutilações. São eles: São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso, Pernambuco, Paraíba, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Em um dos casos, o de Bauru (SP), um adolescente de 17 anos tentou se jogar do viaduto sobre a Rodovia Marechal Rondon depois de postar em sua página no Facebook a frase: “A culpa é da baleia”.
Como funciona
Em geral, adolescentes são chamados para grupos fechados no Facebook e no WhatsApp — ou contatados até mesmo pelo Instagram — para participar do jogo, que consiste em cumprir 50 tarefas preestabelecidas por curadores.
Esses curadores, na maioria das vezes, também são adolescentes com perfis falsos nas redes sociais. Os 50 desafios incluem cortar os braços com facas, assistir a filmes de terror na madrugada, pendurar-se em parapeitos de prédios e, na tarefa final, suicidar-se.
Audiência no Congresso
A preocupação com a disseminação do jogo fatal não preocupa apenas os pais. Chegou também às autoridades brasileiras. Na quarta-feira (19), foi aprovada a realização de uma audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados.
Na oportunidade, representantes do Facebook e do WhatsApp estarão presentes para esclarecer o que está sendo feito para combater a propagação do jogo nas redes sociais.
“Queremos saber o que o Facebook está fazendo para deter as páginas com esses conteúdos criminosos. A Polícia Federal está investigando? Quem são os brasileiros por trás disso?”, questiona o deputado federal Sandro Alex (PSD-PR), autor do requerimento para a realização da audiência.
Dica de especialista
A psicóloga Stéphanie Sabarense, especializada em terapia cognitivo-comportamental e com experiência em depressão e suicídio de adolescentes, diz que não é possível apontar um único fator que explique a aderência cega desses jovens à tal “brincadeira”. Muito menos pode-se dizer que eles já possuíam tendências suicidas antes do encontro com o Baleia Azul.
“Não acho que seja a busca do suicídio propriamente dito”, sublinha. “Tem a ver com a procura por adrenalina, pelo proibido, que é própria do adolescente”, diz. Como a adolescência é uma fase de transição, todo o cuidado é pouco. “Se ela acontece de maneira tranquila – com o adolescente andando em grupinhos e não mais com a família, querendo se encontrar –, normal. Quando ele não se encaixa em grupo nenhum, começa a procurar essas coisas para sentir que faz parte de algo.”
Por fim, a especialista reforça que os pais devem ter sempre controle do que crianças e adolescentes fazem na internet, além de atenção total à rotina do filho — se ele tem chegado em horários distintos ou andado com grupos diferentes, por exemplo.