Perito da PCDF desenvolve programa capaz de identificar criminosos
Software verifica estatura do autor do delito com base em imagens dos crimes flagrados por câmeras de segurança
atualizado
Compartilhar notícia
O trabalho de peritos no caso Marielle Franco foi fundamental para que os investigadores chegassem aos suspeitos do crime. Sem descer do veículo, eles executaram a vereadora e o motorista dela, Anderson Gomes. A partir da análise de imagens do circuito de segurança, e com o uso de técnicas apuradas, os policiais chegaram aos dois acusados, presos na terça-feira (12/3). No Distrito Federal, uma equipe de audiovisual do Instituto de Criminalística da Polícia Civil faz trabalho semelhante e já ajudou a elucidar crimes graves.
Elas foram fundamentais, por exemplo, para comprovar que um motociclista pilotava sua moto entre 245 km/h e 248 km/h quando atingiu uma mulher de 56 anos em frente ao Palácio do Planalto. Outro vídeo também forneceu provas sobre a identidade de um criminoso que disparou 15 tiros contra um jovem em Samambaia.
O trabalho minucioso e técnico é feito por peritos audiovisuais da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). A partir de uma única gravação, sete profissionais da Seção de Perícias de Biometria Forense e de Audiovisuais (SPBA) do IC são capazes de obter uma gama de provas que podem ajudar a apontar a autoria de crimes graves.
Mas como nem sempre os vídeos produzidos por câmeras de sistemas de segurança atendem aos requisitos mínimos para um exame, a criatividade e o conhecimento dos especialistas entram em campo para checar outras características que possam ajudar a reduzir o rol de suspeitos.
Um exemplo é o software desenvolvido pelo perito Admilson Gonçalves Junior (veja no vídeo abaixo). O programa é capaz de identificar a estatura da pessoa filmada. No exame, é feita a análise completa do indivíduo, da sua forma de andar e da postura dele na cena. Além de perito, Junior é bacharel em ciência da computação com mestrado em engenharia elétrica.
Em um homicídio ocorrido em Samambaia no ano de 2017, o perito conseguiu chegar a uma estimativa da altura de um assassino flagrado pelo circuito de uma distribuidora de bebidas: 1,79 m. O rosto do homem estava praticamente coberto, e ele usava roupas que dificultavam a visualização de outras características.
Para fazer esse exame, segundo o policial, foi preciso levar em consideração a distância focal, a altura e o ângulo de inclinação da câmera que capturou o alvo. A partir de coordenadas marcadas da cabeça aos pés do suspeito, o especialista traçou uma escala de referência em diversos quadros do vídeo e chegou a uma estatura com alto grau de confiança.
“O nosso objetivo é extrair a maior quantidade de informações, que vão além dos vestígios deixados no local ou das provas testemunhais. No homicídio, a principal finalidade é identificar o autor. Trabalhamos para conseguir o maior número de provas possível. Verificamos as vestes, algum objeto que ele transporta e a dinâmica do crime”, explicou Admilson.
Um outro projeto que começou a ser testado pela equipe do DF é a projeção em 3D dos suspeitos. Com base em características físicas levantadas em imagens, o software faz a identificação facial de forma virtual.
Para executar o trabalho, é preciso ter amplo conhecimento em anatomia humana. A técnica facilita a identificação do suspeito. Veja abaixo um modelo feito pelo perito Renato Queiroz Nogueira Lira, da PCDF. Ele tem mestrado em odontologia, o que lhe permite reproduzir a estrutura da face de forma mais realista.
Confira outros exames feitos pela equipe da SPBA:
Detalhes
Em um roubo a uma criança registrado em março de 2018, os peritos analisaram a roupa usada pelo criminoso. Apesar de a imagem gravada pelo circuito de segurança aparecer um pouco borrada, a equipe conseguiu identificar detalhes da bermuda. A veste foi apreendida pela polícia, e os exames ajudaram a materializar a denúncia feita à Justiça.
“Pela imagem, é difícil constatar que a bermuda é estampada. Esse efeito monocromático é causado pela câmera, mas com uma análise mais profunda conseguimos detectar detalhes que batiam com a roupa apreendida pela polícia. A partir de então, classificamos as evidências com base na probabilidade de ser a mesma peça”, detalhou Junior. Na ocasião, os peritos também fizeram a estimativa de altura do suspeito.