PCDF soluciona crime da mala. Assassino foi abusado na infância
Após dois meses de investigação, a polícia prendeu o assassino de Ivonilson da Cunha, encontrado morto dentro de uma mala no Lago Paranoá
atualizado
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Vingança contra abusos sexuais sofridos na infância. Essa foi a motivação do crime que chocou Brasília em 27 de outubro, quando uma mala foi encontrada boiando próximo a uma área nobre do Lago Paranoá com um corpo dentro. Após dois meses de investigações, os policiais civis da 1ª DP (Asa Sul) prenderam o assassino do comerciário Ivonilson Menezes da Cunha, 39 anos.
Felipe Cirilo, 20 anos, confessou o crime e deu detalhes sobre a dinâmica do homicídio. Na noite de 26 de outubro, com a ajuda de R.T.S., um adolescente de 14, Felipe espancou, asfixiou, matou e colocou a vítima na mala antes de arremessá-la da Ponte Honestino Guimarães.
Apesar de ter apresentado contradições nas declarações dadas aos investigadores, Felipe relatou que ele e o comerciário se afastaram e se reencontraram em 2015. Naquela época, Ivonilson teria tentado manter uma relação, mas o rapaz se recusou. Segundo Felipe contou à polícia, Ivonilson se irritou e ameaçou tanto o jovem quanto a namorada dele, que está grávida. Foi o estopim para Felipe planejar o assassinato.
O Metrópoles teve acesso a trechos do inquérito. Os detalhes impressionaram até mesmo a equipe de investigação da 1ª DP. Era noite de 26 de outubro quando Felipe, armado com uma faca, e R.T.S. foram até a casa de Ivonilson, na Quadra 6 do Paranoá.
Dentro da residência, espancaram e asfixiaram a vítima com um saco plástico até matá-la. Para o corpo caber dentro da mala, os assassinos usaram uma fita adesiva e amarraram os braços e as pernas de Ivonilson.
Doce, camisinha, teclado e gasolina
Na bagagem, Felipe ainda deixou um doce, uma camisinha e um teclado de computador. Segundo os investigadores, seria um recado para indicar que a vítima se tratava de um pedófilo.
Em seguida, Felipe e R.T.S. colocaram o corpo no porta-malas do carro da própria vítima e seguiram para o Lago Sul. A dupla levou 5 litros de gasolina e a polícia suspeita que o combustível seria usado para atear fogo ao corpo de Ivonilson. No entanto, como a noite estava chuvosa, os dois teriam desistido da ação e decidiram jogar o cadáver no Lago Paranoá.
Após arremessar a mala com o corpo no espelho d’água, a dupla voltou para o Paranoá e abandonou o veículo de Ivonilson em um parque. Contudo, no dia seguinte, quando o crime foi descoberto, Felipe e R.T.S. levaram o carro para o Setor de Oficinas da cidade.
Câmeras de segurança flagraram os dois saindo do local por volta das 13h do dia 27. Naquele horário, a perícia da Polícia Civil ainda analisava, às margens do Lago, o corpo retirado do reservatório. A roupa que Felipe aparece usando nas imagens foi apreendida pela Polícia Civil na residência do acusado.
O Metrópoles teve acesso ao vídeo. Confira:
Adolescente segue em liberdade
Após o trabalho de investigação, a análise de imagens de câmeras e o depoimento de testemunhas, a 1ª DP chegou aos suspeitos. O adolescente de 14 anos chegou a ser apreendido em 9 de dezembro— mesmo dia em que a polícia prendeu Felipe —, mas foi liberado em seguida.
Apesar de ter sido levado à Delegacia da Criança e do Adolescente I (DCA I), na Asa Norte, e de a Polícia Civil ter feito o pedido de internação à Vara da Infância e Juventude (VIJ), a Justiça ainda não apreciou a solicitação. Dessa forma, ele continua em liberdade, mesmo com as provas colhidas e o depoimento do assassino confesso.
A prisão temporária de Felipe foi autorizada pela Justiça. Hoje, ele está no Departamento de Polícia Especializada (DPE), ao lado do Parque da Cidade. A 1ª DP concluiu o inquérito e o encaminhou ao Judiciário com o indiciamento de Felipe por homicídio duplamente qualificado (12 a 30 anos de prisão), corrupção de menores (seis meses a dois anos) e ocultação de cadáver (um a três anos).
Preso por pedofilia
O corpo de Ivonilson foi encontrado por um motoboy que passava pelo Setor de Clubes Sul na manhã de 27 de outubro. O homem viu a mala semiaberta, com partes de pele humana aparecendo e acionou a Polícia Militar. O cadáver apresentava vários hematomas, estava enrolado em uma toalha, com dois sacos na cabeça e os pés amarrados.
No Paranoá, Ivonilson da Cunha era conhecido como “Gato de Botas”. Em 2011, ele foi preso por pedofilia, após assediar e oferecer dinheiro a um menino de 13 anos em troca de sexo. Mas, dias após a detenção, conseguiu a liberdade provisória. O caso acabou arquivado sem que o comerciário fosse julgado.