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PCDF investiga se coronel da PM ajudou quadrilha que roubava cargas

Um apartamento em Águas Claras está em nome do oficial, mas quem morava lá era o chefe de um bando responsável por revender as mercadorias

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1 de 1 Quadrilha-presa-por-roubo-de-arga1 - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

A amizade entre um coronel da Polícia Militar do Distrito Federal e o chefe de uma quadrilha de roubo de cargas é investigada pela Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais, unidade da PCDF. O oficial da ativa foi intimado e prestou depoimento na Corpatri para explicar por que um apartamento em Águas Claras, de propriedade do PM, estava ocupado por Eduardo Fidelis, 44 anos, preso e acusado de ser o cabeça de uma organização criminosa suspeita de movimentar mais de R$ 100 milhões com mercadorias afanadas de caminhões em estradas e vendidas a seis supermercados da cidade.

O coronel e Eduardo nutrem uma amizade de longa data. Os investigadores querem saber, agora, se o militar teria envolvimento na ocultação de bens desviados pelo bando. Em sua defesa, o oficial alegou ter vendido o imóvel avaliado em meio milhão para o criminoso em abril de 2015. O pagamento teria sido feito da seguinte forma: R$ 100 mil de sinal e 420 parcelas de R$ 4,2 mil.

Apesar de ter dado detalhes do negócio, chamou a atenção o fato de a residência seguir em nome do PM, que, inclusive, declarou o apartamento no seu último Imposto de Renda. Conforme apuração do Metrópoles, o coronel passou apenas uma procuração em nome da mulher de Eduardo, Juliana Rodrigues Ramos, 30, também detida pela Corpatri na Operação Vocatus, deflagrada no último dia 13.

Eduardo tem outro imóvel na mesma região administrativa – onde a sua ex-mulher mora com os filhos. Para ocultar o dinheiro decorrente da atividade criminosa, ela também trocava de carros constantemente. A conta usada pelos suspeitos tinha uma grande movimentação e constantes saques da ordem de R$ 30 mil. Segundo a PM, “o coronel só firmou negócio com uma pessoa investigada” e não é alvo da operação.

Centro de distribuição
O grupo investigado atuava há, pelo menos, quatro anos de forma especializada no Distrito Federal e no Entorno. O esquema funcionava como um verdadeiro centro de distribuição, tendo como fornecedores assaltantes moradores das cidades situadas nos arredores do DF.

Eles agiam, principalmente, às margens das BRs 060 e 153. A quadrilha costumava fazer o pagamento aos salteadores em dinheiro vivo. O lugar mais usado para acertar as contas era em um outlet de Alexânia (GO). Neste ano, um dos investigados chegou a ser preso no local enquanto fazia o transbordo de caixas de óleo de cozinha.

Havia, ainda, integrantes responsáveis apenas por negociar a venda da carga roubada com os supermercados, os chamados “atravessadores” (Confira o “Quem é Quem?” na arte abaixo). Eles ganhavam uma comissão de 5% do valor da nota fiscal. As mercadorias eram repassadas aos empresários por uma quantia que alcançava 70% da preço original.

A Polícia Civil descobriu que a carga era armazenada em galpões alugados por R$ 9 mil e R$ 5 mil em Ceilândia e no Gama, respectivamente. Posteriormente, os produtos eram comercializados em supermercados das mencionadas regiões administrativas, de Santa Maria e Samambaia.

Os criminosos usavam empreendimentos de fachada na emissão irregular de notas fiscais para “esquentar” as mercadorias roubadas e inseri-las nas prateleiras de estabelecimentos comerciais. A principal empresa, a Atlanta, “funcionava” em uma igreja de Santa Maria. Um contador, já identificado e ouvido pela PCDF, abriu a firma usando o nome de uma garota de programa.

Veja a lista de mercados que foram alvos da Polícia Civil

Coisas da Roça, em Ceilândia. Os responsáveis alegaram não ter havido apreensão no local e que todos os produtos do mercado têm nota fiscal. No entanto, admitiu que um dos fornecedores era a Atlanta.

Bonamix, no Gama e em Samambaia. O advogado Denis Farausa diz que a empresa é tão vítima quanto as outras partes envolvidas. “Compramos somente produtos com nota fiscal e a diferença oscila de um fornecedor para o outro. As notas foram emitidas pela Atlanta. Até então, não tínhamos noção dos fatos. Estamos dispostos a colaborar com as investigações para demonstrar nossa boa-fé e elucidar o caso”.

Mercado Ideal, em Valparaíso. O proprietário do estabelecimento, Edson Coelho, garantiu ter adquirido todos os produtos da forma correta. Argumenta, ainda, que a Atlanta emitia nota fiscal e não era possível perceber irregularidades.

Mercado Progresso, em Santa Maria. O encarregado do comércio informou desconhecer informações de compras irregulares. Disse, ainda, que apenas o gerente ou o dono se manifestariam, mas não informou os contatos dos dois

Super Santa, em Santa Maria. A reportagem ligou nos telefones disponíveis na internet, mas constam como inexistentes.

Mercado Minas, em Santa Maria. Ninguém atendeu aos telefonemas

Veja como atuava cada um dos integrantes da organização criminosa:

 

Editoria de Arte/Metrópoles

 

Operação Vocatus
Ao todo, 11 pessoas foram alvo de mandados de prisão da megaoperação. A PCDF saiu às ruas na manha do último dia 13 com 200 homens para cumprir também três conduções coercitivas (quando a pessoa é obrigada a depor) e 22 ordens judiciais de busca e apreensão. A ação ocorreu em Águas Claras, São Sebastião, Gama, Estrutural e Cidade Ocidental (GO).

      A Vocatus é um desdobramento de outra operação, deflagrada em 7 de março deste ano, na qual foram apreendidas aproximadamente 50 toneladas de mercadorias roubadas. O flagrante ocorreu em Ponte Alta, no Gama.


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