Terceirizados recebiam dólar e euro para facilitar ataques a agências do BB
Na casa de um dos suspeitos, em Ceilândia, foram apreendidos 12.350 euros e 7.400 dólares, o que equivale a cerca de R$ 116,6 mil
atualizado
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Caixas de papelão cheias de notas de euro e dólar foram encontradas por policiais civis na manhã desta segunda-feira (04/05), em Ceilândia. O dinheiro estava na casa de um dos suspeitos de integrar uma organização criminosa que realizava ataques a agências bancárias de todo o país. O homem trabalha no setor de segurança do Banco do Brasil e tinha a função de desligar alarmes e retardar o acionamento da policia após cada furto.
Apenas nesse imóvel, foram apreendidos 12.350 euros e 7,4 mil dólares, o que equivale a cerca de R$ 116,6 mil. O grupo, que agia entranhado na sede do banco há pelo menos dois anos, faturou cerca de R$ 3 milhões com os assaltos. Até as 6h10, quatro pessoas haviam sido presas.
“Em relação à Operação Sentinela, o Banco do Brasil informa que mantém estrutura dedicada de prevenção à atuação de grupos criminoso e que noticia às polícias ocorrências contra seu patrimônio. O BB colabora com as investigações”, destacou, em nota, o BB.
Nenhum dos alvos têm antecedentes criminais e todos eram considerados acima de qualquer suspeita. Os investigados são da empresa Confederal. Entre eles, estão dois vigilantes e um supervisor.
A ação, batizada de Sentinela, é conduzida pela Coordenação de Repressão a Crimes Patrimoniais (Corpatri) e foi deflagrada pela Divisão de Repressão a Roubo e Furtos (DRF). Os policiais cumpriram cinco mandados de prisão preventiva, sendo quatro na sede do banco, no Setor Bancário e Sul, e um na Asa Norte, em uma das unidades da instituição.
Sistema
Os suspeitos trabalham como terceirizados em esquema de plantão, operando sistemas de vigilância e segurança de forma remota e englobando centenas de agências espalhadas pelo país. Também foram cumpridos mandados de buscas na Asa Sul, Asa Norte, Ceilândia, Planaltina, São Sebastião, Núcleo Bandeirante e Sobradinho.
De acordo com as investigações da DRF, com acesso irrestrito ao comando para acionamento da polícia após uma agência ser alvo de assalto, o braço da organização infiltrada na sede do banco tinha facilidade para retardar, ao máximo, o sinal de alerta feito às autoridades. Com isso, o grupo armado da quadrilha ganhava minutos preciosos a fim de arrombar os cofres e fugir com o dinheiro antes da chegada das primeiras viaturas.
Ataques pelo país
Segundo as apurações da DRF, os cinco suspeitos teriam facilitado pelo menos três ataques milionários a cofres da instituição financeira. No primeiro deles, em agência localizada no município baiano de Teixeira de Freitas, em 29 de novembro de 2019, foi furtada a quantia aproximada de R$ 1 milhão.
Três dias após a empreitada, parte do grupo foi detido no aeroporto de Porto Seguro, na Bahia, com R$ 760 mil em várias malas.
O segundo ataque ocorreu na região sul do país, na agência da Zona Industrial de Tupy, em Joinville (Santa Catarina), em 14 de abril deste ano. Na ocasião, três criminosos foram presos e outro morreu em confronto com a polícia.
A última participação dos cinco alvos presos nesta segunda-feira (04/05) foi no ataque ocorrido na agência de Anápolis, em Goiás, em 25 de abril deste ano, em plena pandemia do coronavírus, quando foi furtada a quantia de R$ 924 mil.
Todos foram presos preventivamente por ordem do Juiz Titular da Segunda Vara Criminal de Brasília. A prisão foi decretada para fazer cessar a atividade da organização criminosa, diante do risco real de novo ataque milionário aos cofres da instituição bancária.
Outras suspeitas
Outros ataques suspeitos, ocorridos no Brasil nos últimos 10 meses, consumados e tentados, estão sendo checados pela DRF, em parceria com a instituição bancária. De acordo com diretor da unidade, delegado Fernando Cocito, os criminosos eram altamente organizados e usavam de toda a tecnologia disponível para protagonizar roubos cada vez mais seguros e sofisticados.
“São invasões complexas ao sistema de monitoramento, de difícil aferição em tempo real e que podem permitir a facilitação da subtração de milhões de reais, não apenas em agências, mas também em locais de guarda de valores da instituição bancária”, explicou.
Segundo o delegado, a operação foi deflagrada antes de um novo roubo, que poderia resultar em mais um prejuízo milionário.
“Havia o perigo de um novo e milionário ataque real, dada a expertise dos suspeitos, a pluralidade de senhas e matrículas envolvidas e o tipo de manipulação, ainda nova para a instituição bancária. Houve uma grande parceria com o banco, que robusteceu as investigações da DRF”, observou.
De acordo com a PCDF, os integrantes do grupo são originários de Joinville e anteriormente cometeram crimes no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás. Os envolvidos, há alguns anos, mudaram-se para o Entorno do Distrito Federal. A organização criminosa havia sido presa em 2013 pela Polícia Civil do Mato Grosso do Sul. O bando ficou conhecido, à época, como a “Quadrilha do Guarda Sol”, em razão da atuação com guarda-sóis, que burlam os sensores de presença.
A reportagem questionou a empresa Confederal sobre o caso e aguarda retorno.