Cadeirante liderava facção criminosa que agia em Planaltina, diz PCDF
Operação realizada pela Polícia Civil neste sábado (16/9) terminou com a prisão de oito pessoas e apreensão de armas e drogas
atualizado
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A Polícia Civil do Distrito Federal, por meio da 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina), deflagrou neste sábado (16/9) a Operação TEC- 9 para desarticular a atuação de gangues na região. Até as 8h25, oito pessoas haviam sido presas. Mais de R$ 20 mil e uma arma de fogo também foram apreendidos. Foram cumpridos 37 mandados de prisão e 32 de busca e apreensão.
Os policiais ainda cumpriram 21 mandados de prisão de suspeitos já recolhidos no sistema penitenciário do DF e que atuam nos grupos criminosos. Foram mobilizados 10 delegados de polícia, 10 escrivães e cerca de 200 agentes para a operação. Além da 31ª DP, a ação conta com o apoio da 16ª DP, Divisão de Operações Especiais (DOE) e Divisão de Operações Aéreas (DOA).
Segundo a Polícia Civil, desde 2009 a população de Planaltina sofre com a criminalidade decorrente das guerras de gangues. Para adquirir renda, os criminosos atuam com o tráfico de drogas, roubo e latrocínio (roubo seguido de morte). A rivalidade entre os criminosos também tem sido motivo de assassinatos.A 31ª DP já promoveu várias operações para a desarticulação dessas organizações como, por exemplo, em 2009, 2011 e 2014. No entanto, a reorganização das gangues se dá em ciclos de dois anos, apesar do esforço constante da PCDF para a sua extinção.
delegado-chefe da 31ª DP, Pedro Luís de Moraes
O Metrópoles antecipou que a Polícia Civil estava monitorando os grupos em Planaltina. De acordo com as apurações, três gangues — a Pombal, a Pé de Rôdo (que age no Arapoanga) e a que domina a área Buritis IV — se juntaram em uma. A facção deu origem a um grupo criminoso que passou a se chamar Crime, Morte e Maldição (CMM). O bando faz questão de deixar sua marcas nos muros das quadras que dividem seus territórios. A CMM é inimiga da gangue que age no bairro Jardim Roriz, que se uniu a outras facções do Arapoanga, como as quadrilhas do Triunfo, Bola 10, Morrinho e Dona América.
De acordo com a Polícia Civil, a gangue tinha uma organização meticulosa, com coordenadores, gerentes e funcionários. O líder seria um suspeito identificado apenas como Wanderson, que é cadeirante. Outros três acusados ocupavam cargos de coordenadores e outros quatro, de gerentes. A ação policial foi batizada de TEC-9 em referência a uma submetralhadora que foi apreendida em uma operação anterior, batizada de Tocaia, também de combate a gangues.
Tráfico como combustível
O tráfico de drogas é o combustível que alimenta a guerra entre as gangues. Explorando os pontos de venda, os integrantes das facções encontram facilidade para comprar armas, munições e veículos. O armamento é essencial para impor respeito e executar desafetos. O comando das quadras é disputado à bala.
Em um dos acertos de contas, ocorrido em 2008, câmeras de uma agência bancária no Jardim Roriz flagraram a violência do ataque. As imagens fazem parte do relatório de investigações da 31ª DP e ajudaram a identificar integrantes de gangues da região (veja vídeo).
O vídeo mostra dois adolescentes armados surpreendendo integrantes de uma gangue rival. No episódio, um jovem morreu e outros dois ficaram feridos. As imagens ainda registraram o momento em que uma das vítimas se arrasta pelo chão na tentativa de fugir sem ser baleada. Os autores foram identificados e, depois de cumprirem medida socioeducativa, colocados em liberdade.
Hierarquia bem definida
Como em uma empresa, as gangues definiram postos de comando, execução e contenção, como atuam os chamados “frentes” – homens ou adolescentes armados que saem às ruas para combater os rivais. O chamado “patrão” tem a função de abastecer a boca de fumo.
A figura do chefe é quem faz contato com grandes fornecedores e cuida da logística para a droga chegar ao ponto onde será comercializada, garantindo o fluxo principal do tráfico na região. O patrão é quem dá as ordens, cuida da contabilidade geral, possui o maior poder financeiro e obtém o lucro mais fácil. O líder dificilmente lida com usuários ou mantém contato com a droga.
Os chamados “gerentes” coordenam as vendas, dão ordens aos funcionários e cuidam da proteção da área dominada. Eles atuam diretamente na divisão da droga dentro do grupo, realizam o “acerto de contas” no caso de devedores ou daqueles que desobedecem às leis. Também é de responsabilidade dos gerentes aliciar os adolescentes que compõem as gangues. Os gerentes raramente atendem aos usuários. Como de costume, eles fecham o negócio, definindo valores e quantidades, pegam o dinheiro e ordenam aos funcionários a entrega da droga.
Os empregados realizam atendimento direto aos usuários, cumprindo as ordens dos gerentes. São eles que retiram a droga dos esconderijos, entregam aos usuários, fazem a “correria” – termo usado para definir a negociação – a fim de adquirir mais droga, em caso de urgência. Além disso, atuam na linha de frente, armados, no caso de necessidade de proteção ou de ataque aos rivais.