PCC mapeou Distrito Federal para se instalar em áreas nobres
Escolha por regiões como lagos Sul e Norte e Jardim Botânico levou em consideração menor policiamento na área e proximidade com presídio
atualizado
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Alvo de megaoperação deflagrada pela Polícia Civil (PCDF), o Primeiro Comando da Capital (PCC) fez um mapeamento do Distrito Federal em busca de pontos estratégicos para abrigar “casas de apoio” da facção. Os imóveis seriam locados em áreas de alto poder aquisitivo e serviriam de abrigo para criminosos de outros estados, além de depósito para armazenamento de drogas e armas.
As informações foram levantadas pela Divisão de Repressão a Facções Criminosas (Difac) durante investigação que sucedeu a Operação Guardiã 61. De acordo com os investigadores, os membros do PCC já haviam mapeado residências nos lagos Sul e Norte, além do Jardim Botânico.
A localização escolhida pelos criminosos se deve, também, à proximidade das regiões administrativas ao Presídio Federal de Brasília, que atualmente abriga o líder do PCC: Marcos Willians Herbas Camacho, mais conhecido como Marcola.
Além da curta distância entre os imóveis e a unidade prisional, o alto poder aquisitivo das regiões foi outro ponto positivo observado pelos suspeitos, uma vez que o policiamento tende a ser maior em regiões consideradas mais perigosas.
“A escolha dessas casas de apoio se deu em função da proximidade com o presídio. O Lago Sul e o Lago Norte foram escolhidos não por acaso, mas para não gerar qualquer tipo de suspeita”, explicou o delegado-chefe da Difac, Guilherme Sousa Melo.
As residências seriam locadas em nome de advogados ligados ao PCC, que também foram alvo da operação deflagrada nessa terça-feira (07/01/2020).
“O poder econômico dessa facção é muito grande e permite selecionar esse tipo de endereço. Então, esse mapeamento e essa seletividade são dados preocupantes, que foram observados nessa investigação, que podem servir para nortear outra. Nós investigamos uma casa de apoio, em que o período de aluguel durou quatro meses”, continuou o delegado.
Operação Guardiã 61
Deflagrada na manhã de terça-feira, a megaoperação da PCDF mostrou que a célula do PCC no DF ameaçou policiais e juízes. Investigadores observaram que informações pessoais de quem trabalhou na ação foram divulgadas.
Com a transferência da alta cúpula do PCC para Brasília, a Polícia Civil intensificou as investigações para coibir a instalação de células criminosas na capital.
Inicialmente, os investigadores tiveram acesso a bilhetes com ameaças a uma magistrada do DF. “Isso comprova a existência da facção no Distrito Federal e, inclusive, a presença dos chamados “gravatas”: advogados responsáveis por transmitir as ordens de dentro para fora dos presídios”, explicitou o delegado-chefe da Difac (divisão da Coordenação Especial de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado), Guilherme Sousa Melo.
Com o decorrer das apurações, até mesmo os investigadores entraram na mira dos criminosos. Delegados envolvidos na operação tiveram fotos divulgadas entre os faccionados e receberam ameaças. Foram cumpridos 14 mandados de prisão preventiva, 10 de busca e apreensão, além da colocação de tornozeleira eletrônica em um dos alvos, conforme ordens expedidas pela da 5ª Vara Criminal do DF.
Segundo os investigadores, a célula da organização criminosa tinha ao menos 30 integrantes e atuava praticando crimes como roubos e tráfico de drogas. O grupo, composto por advogados, presidiários e egressos do sistema prisional, se dividia em núcleos específicos de atuação.
Plano de fuga
Em 20 de dezembro de 2019, o Metrópoles revelou, em primeira mão, que os integrantes da organização planejam colocar em prática o plano de resgate de Marcola. A Operação Guardiã 61, inclusive, foi retardada por causa dessa ação do grupo criminoso.
Condenado a mais de 300 anos de prisão, Marcola cumpre pena no Presídio Federal de Brasília. A unidade chegou a receber reforço de tropas do Exército. As informações sobre o plano de resgate partiram de São Paulo. O estado é berço da facção criminosa. Marcola foi transferido para a capital federal em março de 2019 sob forte aparato policial.
Há indícios de que o suposto resgate estaria pago e seria feito pelo traficante internacional Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido como Fuminho. Ele é um dos principais nomes do PCC que estão soltos e atuam nas ruas.
De acordo com informações, os criminosos estariam aguardando o aval de Fuminho para colocar o plano em prática. O PCC teria reunido um verdadeiro exército de alto nível e com integrantes que possuem conhecimento militar e de armamentos. A facção já teria mapeado os arredores do complexo penitenciário em Brasília com o uso de drones.