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Ouça: “Estou com medo”, disse professor em áudio para amiga

O Metrópoles teve acesso às gravações com exclusividade. Nos áudios, o docente suspeita que foi envenenado por uma colega

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1 de 1 professorCharles1 - Foto: Reprodução

Após beber um suposto suco de uva, o professor Odailton Charles Albuquerque Silva (foto em destaque), 50 anos, enviou áudios para alguns amigos e comentou que estava começando a passar mal. O Metrópoles teve acesso às gravações com exclusividade.

Nos áudios, conforme a reportagem antecipou nesta semana, o servidor diz que foi ao Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410 Norte assinar alguns papéis, quando encontrou uma colega de trabalho com a qual tinha desavenças.

“Não é brincadeira, não. Tomei um negócio e estou passando mal mesmo. Será que essa desgraçada me envenenou? Ela esperou sair todo mundo para almoçar. (…) Estou até com medo de ligar para a minha mulher e deixar ela apavorada, coitada. Estou passando mal mesmo. Ela colocou algum purgante aqui, algum purgante”, reclamou o docente, em gravação enviada para uma amiga.

Após alguns minutos, ele volta a entrar em contato com a colega por meio do WhatsApp.

“Estou te mandando mensagem porque você demora a atender. Aí, eu fico agoniado. Cheguei aqui e a mulher com a cara feia. Os quadros que eu tinha deixado estavam empilhados para eu carregar. Folhas de ponto para assinar. Quase que ela não deixa eu entrar na escola, mas depois ela viu que eu estava de boa e tal”, relata Odailton.

“A mulher com ódio nos olhos. Me chamou na salinha ali para assinar a folha de ponto e, quando fui ver, ela ainda me deu uma garrafinha de suco de uva. Tomei até um susto, mas pensei: ‘Não vou tratar mal não, né? Não vou ser deselegante’. Fiquei receoso. Fui e tomei”, contou.

“Não sei, mas agora tem uns 15 minutos. Está me dando uma dor de barriga desgraçada. Será que colocou laxante para me sacanear? Dor de barriga, estou grilado. A mulher me olha com cara feia e, depois que o pessoal sai de perto, me coloca na salinha com suco de uva. Estou com medo. Vou até ligar para a minha mulher. Vou esperar, não deve ser nada. Deve ser do meu remédio. Não é possível que ela tenha coragem, ai meu pai do céu”, completou o professor.

Ouça o áudio:

Prontuário

A reportagem teve acesso ao prontuário médico de Odailton Charles. O documento emitido por médicos do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) aponta intoxicação, provavelmente causada por algum organofosforado, substância presente em inseticidas e agrotóxicos.

O docente será enterrado na tarde desta quinta-feira (06/02/2020). A 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) investiga o caso e aguarda a conclusão do laudo definitivo.

O servidor sofreu quatro paradas cardiorrespiratórias e permaneceu em estado gravíssimo e inconsciente. Os familiares chegaram a acionar a Justiça para conseguir uma vaga em Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), mas a situação evoluiu para o óbito.

No fim do prontuário, em um item denominado “Lista de problemas”, os médicos citam a “provável intoxicação por organofosforado”.

Os organofosforados, encontrados nas roupas e no organismo do docente, são inseticidas agrotóxicos muito utilizados tanto em fazendas no DF quanto em plantações e lavouras espalhadas pelas regiões rurais do país. A substância é de fácil acesso e pode ser encontrada em qualquer comércio especializado na venda de produtos agrícolas.

O caso, tipificado inicialmente como tentativa de homicídio, agora é tratado como como homicídio.

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Faixa no CEF 410 Norte: "Luto"
A faixa foi colocada momentos após a morte do docente
Escola onde Charles trabalhava
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Professor Charles: Polícia Civil investiga o caso

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Faixa no CEF 410 Norte: "Luto"

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A faixa foi colocada momentos após a morte do docente

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Dificuldades com colega

Segundo a reportagem apurou com pessoas próximas ao professor, ele chegou a relatar dificuldade de relacionamento com uma colega da escola, justamente a que teria oferecido o suco no dia da reunião.

Em uma das mensagens enviadas a um amigo que também trabalha na instituição, o docente pontuou que sua interlocutora “estava com a cara de poucos amigos”. Frisou ainda que não queria beber o suco, mas acabou aceitando a bebida para não fazer desfeita. Odailton desconfiava de que o líquido teria lhe feito mal.

O Metrópoles não vai divulgar o nome da servidora porque o caso está sob apuração e a polícia ainda aguarda o laudo definitivo.

“A investigação não descarta nenhuma possibilidade. As pessoas que prestaram depoimento apresentaram versões divergentes, que estão em análise”, disse o delegado-chefe da 2ª DP, Laércio Rossetto. Agentes da Polícia Civil do Distrito Federal estiveram na escola em busca de provas, mas não localizaram a garrafa de suco.

A instituição de ensino possui câmeras que poderiam ter registrado a dinâmica do incidente, mas servidores informaram à reportagem, na manhã de terça-feira (04/02/2020), que os equipamentos estavam desligados.

Odailton Charles, ou Charles como era conhecido, foi diretor do CEF 410 Norte por seis anos e, no dia em que passou mal, teria ido ao colégio justamente para passar a função à atual administração.

Tanto amigos como familiares disseram à polícia que Odailton vivia uma fase boa e fazia planos para o futuro. Casado e pai de uma menina de 7 anos, o morador de Águas Claras planejava abrir uma empresa de assessoria. Recentemente, ele havia sido promovido pela Secretaria de Educação.

Governo lamenta

Após o lançamento dos programas de cartões para creches e pequenos reparos em escolas, na quarta-feira (05/02/2020), o governador Ibaneis Rocha (MDB) e o secretário de Educação, João Pedro Ferraz, lamentaram a morte de Odailton Charles. “Uma situação bastante triste”, disse o chefe do Executivo local.

“Olha, a informação que tenho é a da imprensa. A rede está toda muito triste com o episódio. Mas não podemos adiantar absolutamente nada. Porque nem as autoridades que fazem as investigações nos passaram qualquer sinalização”, destacou o secretário.

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