Obras abandonadas de duas delegacias somam prejuízos de quase R$ 6 milhões
Construções começaram em 2013 em Ceilândia e Planaltina. Empresa responsável abandonou projeto em janeiro deste ano, mas contratos só foram rescindidos pela Polícia Civil em agosto e setembro
atualizado
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De um lado falta dinheiro para pagar servidor, contratos com fornecedores, remédios e merendeiras das escolas. Do outro, a verba escorre pelo ralo. Previstas para serem entregues em março deste ano, duas delegacias da Polícia Civil do DF, uma em Planaltina e outra em Ceilândia, estão com as obras abandonadas. Já consumiram quase R$ 6 milhões, mas não saíram do alicerce. São esqueletos formados por vigas de ferro enferrujadas. Um relatório da própria corporação aponta diversas irregularidades estruturais, colocando em xeque procedimentos e materiais empregados.
As duas obras eram tocadas pela mesma empresa: a FR Alvorada. Em Planaltina, a construção da 16ª Delegacia de Polícia, orçada em R$ 5.310.520,07, foi abandonada em janeiro deste ano. Dias depois, saiu um relatório da Divisão de Arquitetura e Engenharia (DAE) da Polícia Civil com um laudo técnico apontando sérios problemas na construção.
Segundo a perícia, a construtora levantou paredes de drywall (placas de gesso) sem o conhecimento da direção da PCDF. O material é frágil e impróprio para ser utilizado em uma delegacia. Além disso, instalaram vigas para a passagem de tubulação de águas pluviais, não previstas no projeto, que podem ter comprometido a estrutura do prédio.
Entre os problemas apontados pelos técnicos, está a qualidade do revestimento, feito à base de “pedaços de restos de obra”. O estacionamento externo não tem drenagem de captação de águas pluviais nem meio-fio. A equipe técnica também identificou a ausência de impermeabilização nos banheiros da unidade. Durante a inspeção, ainda encontraram fios elétricos desencapados.Negligência
Mesmo diante do abandono e das irregularidades apontadas na obra, o contrato com a FR Alvorada – que recebeu R$ 3.157.932,07 antes de iniciar o serviço – só foi cancelado em 10 de agosto deste ano. Enquanto isso, agentes e delegados de Planaltina atendem o público em um prédio alugado, que custa aos cofres públicos R$ 16 mil mensais.
A falta de agilidade para tomar providências se repetiu em relação às obras da 15ª Delegacia de Polícia em Ceilândia, orçada em R$ 5.612.278,13. Somente na última quinta-feira (10/9), a Direção da Polícia Civil rescindiu o contrato firmado com a mesma construtora contratada para executar o serviço. Além disso, notificou os donos da empresa para se defenderem em relação às irregularidades apontadas nos serviços.
A FR Alvorada também havia recebido adiantamento de R$ 2.578,142,60 pela execução desse serviço em 19 de junho de 2013. Os quase R$ 6 milhões já pagos dificilmente voltarão aos cofres públicos. Numa distração, os gestores do contrato perderam prazos e não cancelaram os dois acordos firmados com a FR Alvorada antes que o seguro das obras vencesse. O prejuízo extrapola as fronteiras do Distrito Federal, já que recursos da União foram usados para custear a obra.
Os contratos para a construção dos novos prédios para as duas delegacias foram assinados em 2013 pelo diretor do Departamento de Administração Geral, Silvério Antônio Moita, durante a gestão do ex-diretor da Polícia Civil, Jorge Luiz Xavier.
Procurada pela reportagem, a Direção da Polícia Civil não se manifestou sobre o assunto. O Metrópoles também entrou em contato com a construtora FR Alvorada, mas os responsáveis pela empresa não retornaram a ligação.