Apreensão de adolescentes envolvidos com o uso e o tráfico de drogas cresce 57,8% no DF
Dados da Polícia Civil comparam primeiro semestre deste ano com o mesmo período de 2014. As regiões administrativas de maior poder aquisitivo estão entre as que apresentaram aumento mais significativo
atualizado
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Cada vez mais crianças e adolescentes são apreendidos no Distrito Federal com drogas. Dados da Polícia Civil obtidos pelo Metrópoles revelam um aumento alarmante nas ocorrências de porte, uso e tráfico, especialmente nos bairros mais ricos de Brasília. Enquanto no primeiro semestre de 2014 foram 751 casos, no mesmo período deste ano, houve 1.186 — um crescimento de 57,8%.
O estudo policial separa as regiões administrativas por setores, e o que apresentou explosão na quantidade de menores de idade apreendidos com entorpecentes foi justamente o que concentra alguns dos bairros com a maior renda do DF. Na área metropolitana (que engloba Plano Piloto, Guará, Lago Sul, Sudoeste, Cruzeiro, Park Way, SIA e Estrutural), as ocorrências saltaram de 206, nos primeiros seis meses de 2014, para 393 entre janeiro e junho deste ano: uma variação de 90,7%.Policiamento
O consultor em segurança George Felipe de Lima Dantas ressalta que esses dados não refletem, necessariamente, um crescimento no consumo. “Quanto mais policiais nas ruas, maior o número de ocorrências. Nem sempre um volume maior de casos aponta aumento no tráfico de drogas. Outra variável diz respeito ao fechamento dos postos comunitários de segurança, o que reforçou o policiamento móvel nessas regiões.”
O outro setor em que o uso, o porte e o tráfico de entorpecentes aumentou significativamente compreende as regiões administrativas de Ceilândia, Taguatinga, Samambaia, Brazlândia, Águas Claras e Vicente Pires. Nesses locais, o salto foi de 239 para 374 casos (56,4%).
Dinheiro fácil
Na avaliação do especialista em segurança pública Nelson Gonçalves, o crescente envolvimento de crianças e adolescentes com as drogas, especialmente em regiões de menor poder aquisitivo, é reflexo da oportunidade de ganhar dinheiro que os adolescentes acreditam ter no mundo do crime.
Infelizmente, o tráfico acaba oferecendo a esses jovens o que a sociedade não consegue dar. Eles são aceitos no meio, pertencem ao grupo e encontram meios para ganhar dinheiro. O crime se torna uma opção atrativa
Nelson Gonçalves, especialista em segurança pública
O delegado-chefe da 11ª Delegacia de Polícia (Núcleo Bandeirante), Victor Dan, confirma a avaliação de Gonçalves. “Na Candangolândia e no Núcleo Bandeirante, os traficantes têm usado adolescentes para vender e carregar a droga. Os adultos apenas gerenciam o esquema”, ressaltou.
Esta semana, por exemplo, duas moradoras da Candangolândia que aliciavam menores para o crime foram presas. A dupla, que usava uma adolescente de 12 anos para vender cocaína, era investigada havia cinco anos. De acordo com Victor Dan, elas podem pegar pena de 5 a 15 anos de cadeia.
Justiça
As penas brandas para os adolescentes, de acordo com Nelson Gonçalves, estimulam os criminosos a recrutarem menores de idade. “Eles não praticam crimes, são atos infracionais, não passam muito tempo apreendidos e são influenciáveis”, destaca o especialista em segurança.
Contudo, Gonçalves acredita que melhorar as políticas sociais é a saída para diminuir os índices de criminalidade. “É preciso aprimorar o sistema educacional e dar mais oportunidade para essas pessoas, desenvolver programas sociais e se atentar para a estrutura familiar.”
Perfil
Uma pesquisa feita pelo Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea) com base em denúncias apresentadas pelo Ministério Público em todo o país envolvendo delitos praticados por maiores e menores de idade mostra que cerca de 70% dos adolescentes apreendidos no país tinham entre 16 e 18 anos. Quase 85% deles adolescentes eram do sexo masculino.
O estudo indica ainda que, quando cometeram o delito, os menores tinham consumido drogas, especialmente maconha e crack. A maior parte dos delitos praticados envolvia furto, roubo e ligação com o tráfico. Apenas 14%, ou 3,2 mil dos 23 mil pesquisados, haviam cometido delitos contra a vida — homicídio, estupro e lesão corporal.