Nova facção criminosa quer tomar o controle do Sol Nascente
A quadrilha tenta ganhar espaço depois que a 19ª Delegacia de Polícia (P Norte) desmantelou o Comando do Sol Nascente
atualizado
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O surgimento de uma nova facção criminosa intitulada “Os Cão do Inferno” (OCI), que avança sobre a região do Sol Nascente, em Ceilândia, reacendeu a preocupação da Polícia Civil do DF em evitar a prática de novos crimes na região. A quadrilha tenta ganhar espaço depois que a 19ª Delegacia de Polícia (P Norte) desmantelou o Comando do Sol Nascente (CSN).
O grupo aterrorizava a população local alimentando o tráfico de drogas, cometendo roubos, homicídios e expulsando moradores de suas próprias casas para faturar com a grilagem de terras.
Os integrantes da OCI tentam se organizar no que eles chamam de “reduto”. O local de concentração do bando fica estrategicamente na Rua 84, nos fundos da região. A via é próxima a uma área verde desocupada. A geografia facilita uma possível fuga caso a polícia apareça. Alguns integrantes da quadrilha estão presos, e a missão de fazer a facção ganhar força e fama ficou a cargo de adolescentes que, apesar de praticar uma onda de crimes, permanecem em liberdade.A rivalidade entre as duas facões está estampada nos muros de casas e comércios. Em represália ao CSN, que está enfraquecido, os integrantes da OCI rasuram as iniciais do grupo inimigo. As ruas ainda vivem a tensão de uma guerra anunciada entre as gangues rivais. A Equipe do Metrópoles percorreu os principais pontos de atuação dos criminosos em companhia de equipes comandadas pelo delegado-chefe da 19ª DP, Fernando Fernandes.
Espólio
Os remanescentes da facção CSN tentam segurar o espólio deixado pelos líderes, que atualmente estão presos no Complexo Penitenciário da Papuda. O topo da hierarquia era formado por membros de uma única família. Havia o pai, conhecido como “Fernandão”, e dois filhos, Moisés, de 18 anos, e Tiago, 20. Fernandão e Tiago, considerados líderes da organização, foram presos em janeiro do ano passado. Moisés foi detido em seguida. Porém, adolescentes considerados seguidores da facção continuam cometendo crimes isolados na região.
Segundo o delegado Fernando Fernandes, as investigações envolvendo as organizações criminosas são contínuas, tanto para retirar de circulação quem ainda está solto quanto evitar que os grupos se reorganizem. “É um trabalho que não pode cessar. Quando esses bandos começam a se reestruturar, nós deflagramos outra ação e prendemos os principais envolvidos”, explicou.
Uísque e energético
Apesar de boa parte dos integrantes das facções criminosas terem sido presos durante as operações policiais realizadas em 2016 e 2017, moradores e comerciantes ainda se sentem intimidados pelas quadrilhas. A reportagem conversou com pessoas que sofrem na pele a influência do CSN e da OCI. Funcionário de uma padaria, um rapaz relatou as constantes invasões no estabelecimento por parte dos criminosos à procura de mercadorias.
Segundo ele, os bandidos entram no local e, sem cerimônia, pegam produtos caros, como garrafas de uísques importados, latas de energético e uma série de alimentos como salame e presunto. “Eles entram sem falar nada, pegam o que querem e saem sem pagar ou dar qualquer satisfação”, contou o homem que tem medo de se identificar.
Dona de um restaurante na região, uma comerciante também disse ter prejuízos, pois precisa alimentar uma multidão de criminosos, que também não pagam pelas refeições. “Já estava muito preocupada, pois eu ia fechar o meu estabelecimento por falta de condições em arcar com todos esses gastos impostos pelas facções criminosas. Após o trabalho dos policiais da 19ª DP, a situação melhorou”, afirmou.
Segunda maior favela
Mesmo com a atuação policial, o medo impera e tem até toque de recolher naquela que é considerada a segunda maior favela da América Latina – perde apenas para a Rocinha, no Rio de Janeiro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A área do Sol Nascente tem 940 hectares. Os moradores se dividem entre os setores P Sul, P Norte e as quadras QNQ. O terreno começou a ser fracionado a partir da década de 1990, mas as irregularidades cresceram nos anos 2000.
As construções irregulares estão por toda parte. Os grileiros fazem aterramentos, degradam a natureza e parcelam lotes. Cada unidade pequena, de até 200 metros quadrados, é vendida por um preço médio de R$ 30 mil. Do total de 25.299 habitações, 379 são improvisadas (barracos) e apenas 42 são próprias e quitadas.