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Maria Eduarda: vítima da violência que não dá trégua em Ceilândia

Segundo vizinhos da menina de 5 anos, tiroteios são comuns na região. Há dois meses, a casa da criança já tinha sido alvo de disparos

atualizado

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Maria Eduarda2
1 de 1 Maria Eduarda2 - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

O ataque à casa da família de Maria Eduarda Rodrigues de Amorim, 5 anos, ocorrido na noite dessa segunda-feira (21/5) em Ceilândia, é o segundo em dois meses. Só que, desta vez, a menina morreu baleada enquanto passava no quintal na intenção de pegar milho de pipoca para a tia. O alvo dos disparos, segundo os familiares, seria um irmão da vítima, mas não o que foi baleado. De acordo com vizinhos, tiroteios são comuns na região.

Maria Eduarda levou três tiros – na cabeça, no tórax e na nádega. Ao ser atingida, caiu no corredor da casa. Foi levada por parentes ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC), mas chegou à unidade de saúde sem os sinais vitais.

A menina, que ia completar seis anos em agosto, morava com a família nos fundos da casa da avó, na QNO 18, Conjunto 36, em Ceilândia. O irmão, Marcos Rodrigues de Amorim, 19, entrava no quintal na noite de segunda quando dois homens chegaram em um Voyage preto e fizeram vários disparos. O rapaz levou um tiro no joelho. Ele está internado no HRC, mas não corre risco de morte.

O auxiliar administrativo Alan Jones Ferreira de Carvalho, 36, tio das vítimas, acredita que o alvo não era Marcos e, sim, o irmão dele, 15, que teria envolvimento com drogas. “Tentaram matá-lo há cerca de dois meses, aqui mesmo no quintal. Deram vários tiros, mas felizmente ninguém saiu ferido. Depois disso, ele foi embora e não sabemos onde está”, afirmou. As marcas de balas estão nas janelas e no portão da casa. A Polícia Civil não deu nenhuma informação sobre o caso nesta terça (22).

Marcos Rodrigues de Amorim tem diversas passagens pela polícia. Quando ainda era adolescente, o rapaz foi apreendido por atos análogos a furto e roubo a comércio, receptação de carro roubado e porte ilegal de arma de fogo. Em 2018, já adulto, chegou a ser preso e estava em liberdade provisória.

Rastros da violência
O muro da Escola Classe 56, onde a menina estudava, tem pichações que mostram a guerra de gangues na região. Segundo a diretora do colégio, Marlene de Oliveira, os educadores da instituição de ensino estão fazendo um trabalho com as crianças sobre a cultura da paz e da não violência.

Com base no relato de uma moradora da quadra onde a menina foi assassinada, a dona de casa Filomena Santiago, 59, os tiroteios são constantes na região. “Tenho vontade de ir embora em virtude da violência. Morro de medo por conta das minhas netas e filhas. Os bandidos estão na rua, matando e roubando. Nós, que somos honestos, ficamos trancados dentro de casa. Não temos sossego”, desabafou.

Conforme também contou o motorista Cláudio Miranda, 46, este não foi o primeiro tiroteio na quadra. “A minha casa já havia sido atingida em um dos casos. Fico com medo por conta das minhas duas filhas. O complicado é que a maioria dos criminosos são menores, então não existe punição. A Justiça manda soltar. É preciso mudar as leis”, pontua.

A aposentada Maria Cristina de Araújo, 54, garante ter ouvido vários tiros na região há umas duas semanas. “Era meio-dia e fizeram vários disparos. A gente vive com medo. Raramente a polícia passa por aqui. A impressão é de que eles têm medo dos bandidos, pois andam mais armados do que os próprios policiais”, destacou.

Clima de tristeza
Na quadra onde a menina morava, o clima é de tristeza e revolta. Assim como na escola. Na quarta (23), as aulas serão suspensas para que todos possam participar do enterro da criança. “Faremos cartazes em homenagem à Maria Eduarda pedindo paz. Ela cursava o segundo período da educação infantil, anterior ao primeiro ano. Era uma aluna tranquila, participativa e muito querida”, disse a diretora da instituição de ensino, Marlene de Oliveira.

Ela mostra um dos últimos trabalhos da garota no colégio, uma homenagem com a foto de Maria Eduarda em que a criança declarava amor à mãe, Cláudia Barbosa Rodrigues, 39. A mulher, muito abalada, não consegue falar sobre a tragédia que tirou a vida da única filha.

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Marcas de bala na janela da casa da avó de Maria Eduarda
QNO 18, em Ceilândia
Rua onde ocorreu o crime
Maria Eduarda
Trabalho de Maria Eduarda em homenagem à mãe, Cláudia
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Marca de bala no portão da casa da família de Maria Eduarda

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Marcas de bala na janela da casa da avó de Maria Eduarda

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QNO 18, em Ceilândia

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Rua onde ocorreu o crime

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Maria Eduarda

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Trabalho de Maria Eduarda em homenagem à mãe, Cláudia

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Muro do colégio onde Maria Eduarda estudava mostra sinais da violência na região

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Guerra de gangues
É a segunda morte na região em menos de 24 horas. Por volta das 21h30 desse domingo (20), um adolescente de 17 anos foi morto a tiros na frente da irmã, de 12, em uma parada de ônibus na QNO 17. A vítima não possuía passagens pela polícia e teria morrido, conforme dados preliminares dos investigadores, em razão de uma guerra entre gangues na área.

De acordo com informações dos agentes, o garoto esperava um ônibus na parada, em companhia da irmã, quando foi abordado por dois homens, ambos de bicicleta. Os suspeitos teriam perguntado à vítima se ela estava envolvido na guerra existente entre os moradores da QNO 17 e da QNO 18.

Mesmo após negar qualquer envolvimento na disputa, o adolescente foi baleado ao menos quatro vezes. Um dos disparos atingiu a cabeça do jovem, que morava com a família na QNO 16. Até a última atualização desta reportagem, nenhum suspeito havia sido preso.

Nota da PM
Segundo a Polícia Militar, as rondas em Ceilândia são feitas pelos 8º e 10º batalhões, que, juntos, prenderam 968 autores ou suspeitos de crimes e retiraram 105 armas das ruas, somente em 2018. No ano passado, de acordo com a corporação, os PMs fizeram 3.240 detenções e 351 armas foram recolhidas pelas mesmas equipes.

Sobre o caso de Maria Eduarda, a PM acredita que, a princípio, está relacionado à guerra de gangues. A corporação informou ter prendido, ainda na noite de segunda, um suspeito de ter disparado contra a menina.

Por fim, a Polícia Militar destaca que a criminalidade não está relacionada somente à falta de polícia nas ruas. “Fatores como educação, renda, convívio familiar, legislação e, principalmente, altos índices de reincidência cooperam para que a insegurança aumente. A PMDF tem feito sua parte. Ressalta-se que cerca de 50% desses presos são soltos e boa parte voltam a delinquir”. O assassinato de Maria Eduarda será investigado pela 24ª DP (Setor O).

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