Mãe fala sobre Maurício, morto por causa de um videogame
A catadora de materiais recicláveis Marlene Costa Silva diz que o filho era uma criança tranquila, obediente e organizada
atualizado
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A casa é simples, de madeira. A cozinha fica do lado de fora e, embora seja pequena, tem quatro cômodos. Um deles, no qual dormiam dois irmãos, ficou mais vazio na noite de sábado (18/6), quando Maurício Costa Souza foi brutalmente assassinado por um amigo de infância, de 15 anos. A violência, segundo a Polícia Civil, foi motivada por uma discussão envolvendo um videogame Playstation.
Maurício foi degolado e teve o corpo carbonizado a 100 metros da residência onde morava, no Setor de Chácaras Santa Luzia, na Estrutural. Emocionada, a mãe, a catadora de materiais recicláveis Marlene Costa Silva, 30 anos, não acreditava na tragédia. “Eu queria ele vivo, aqui”, lamentou, em entrevista ao Metrópoles.
Marlene conta que o filho dividia o quarto com uma das duas irmãs mais novas. Ele ainda tinha outros três irmãos, que não moram na residência. “Ele era calmo e organizado, bem obediente”, disse a moça, lembrando que Maurício gostava de manter o quarto arrumado e colocou panos na parede para tampar a madeirite.A mãe lembra que o menino, estudante do 3° ano de uma escola pública da região, tinha duas paixões. Uma era o futebol: “Ele costumava jogar no campo do Sesi”, diz Marlene. A outra era videogames. “Ele pedia o videogame emprestado ao vizinho.”
Veja depoimentos da mãe de Maurício:
Brutalidade
Amigo de infância de Maurício, J.S.J., 15 anos, confessou o crime. Ele foi apreendido e encaminhado à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), na Asa Norte. Ainda de acordo com a Polícia, durante a briga, “J.S.J. degolou a garganta da vítima, que foi jogado em um local onde se queima lixo e coberto por um colchão velho. O corpo acabou carbonizado, provavelmente devido à queima de lixo no local”.
O padrasto do adolescente infrator foi conduzido à delegacia após ter sido abordado por policiais portando crack para consumo próprio. Ele foi autuado por uso e porte de drogas e liberado após assinatura do termo de compromisso de comparecimento à Justiça. J.S.J. responderá por ato infracional análogo ao crime de homicídio.
Maurício estava desaparecido desde o sábado (18). De acordo com o pai da criança, o catador de materiais recicláveis Francisco de Assis, 43, o filho sumiu na tarde de sábado, depois de os pais negarem pedido para ir até a Vila Olímpica. “Ele brincava lá todos os dias. Ontem (sábado), pedi para que ele ficasse em casa. Depois de um tempo, ele sumiu”, contou Francisco ao Metrópoles.
“O primeiro lugar em que procurei foi na casa do amigo dele (o adolescente que confessou o crime), que era aqui perto. Falaram que ele tinha passado por lá e ido embora. Rodei a madrugada toda atrás dele e nada”, continuou o pai da criança. Ele registrou a ocorrência do desaparecimento de Maurício por volta de 1h deste domingo (19), na 4ª Delegacia de Polícia (Guará).
“De manhã, me deu um estalo e voltei para a casa desse amigo para ver se o Maurício tinha dormido lá. Quando cheguei, só estava o rapaz e o padrasto dele, que apontaram o corpo queimado próximo à grade do Parque Nacional”, acrescentou Francisco, emocionado.
De acordo com Francisco, além do adolescente, o padrasto do rapaz foi levado para a 8ª DP (SIA), que investiga o caso. “Tinha sangue na casa deles e o homem chegou a fugir quando viu a movimentação de polícia”, revelou o pai.
Francisco contou ainda que Maurício nunca tinha fugido de casa, especialmente dormido fora, sem avisar os pais. “A mãe não chegou nem a ver o corpo. Estava todo queimado, mas depois da perícia deu para ver certinho, era ele.”