Irmão de mulher morta por PM: “Botou a arma na cara dela várias vezes”
Adriana Santos foi assassinada pelo companheiro e policial militar Epaminondas Silva, que não concordava com o divórcio. Ele se matou
atualizado
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“Ele botou a arma na cara dela várias vezes. Ameaçava matá-la e os meninos, pois não concordava com a separação.” O relato de Marcelo Adson, irmão de Adriana Castro Rosa Santos, 40 anos, expõe que o episódio de feminicídio de terça-feira (7/8), no Riacho Fundo II, era mais uma “tragédia anunciada”. Após assassinar a ex-companheira, o policial militar Epaminondas Silva Santos, 51, lotado no 8º Batalhão, tirou a própria vida.
Em um intervalo de três dias, o Distrito Federal registou três casos de feminicídio. O brutal assassinato de Adriana foi o mais recente, ocorrido no dia em que a Lei Maria da Penha completou 12 anos de sanção.
Adriana e Epaminondas estavam se divorciando e deixam dois filhos: uma menina de 8 anos e um menino de 11. Segundo Marcelo, o relacionamento entre Adriana e seu algoz tornou-se abusivo quando ela decidiu iniciar o processo de separação.
Responsável pelas investigações, o delegado-chefe da 29ª Delegacia de Polícia (Riacho Fundo I), Amarildo Fernandes, confirmou as ameaças. “Ele dizia que ia matar ela e a família”. No entanto, contra ele, não constam denúncias ou ocorrências.
Mesmo com as constantes ameaças, Adriana foi “incapaz de denunciá-lo”, diz o irmão dela. A preocupação com o futuro da família e a carreira do companheiro eram maiores e acabaram silenciando-a. “Tinha medo de deixá-lo mais agressivo. Entendia que seria pior e temia pela vida dos filhos”, disse Marcelo.
Para Marcelo, a frieza e a brutalidade do crime cometido pelo PM comprovam que Epaminondas “estava disposto a tudo e tinha capacidade para cometer atrocidades maiores”. O delegado também classifica o episódio como uma “barbárie”. “Não temos maiores detalhes ainda, mas nada justifica uma atrocidade dessas. Foi um crime gravíssimo”, disse o titular da 29ª DP.
Ainda em choque, as crianças pouco falaram ao longo do dia e estão sob cuidados dos familiares. Inicialmente, o filho mais velho ficou sob custódia do Conselho Tutelar do Riacho Fundo II, mas parentes compareceram ao local e levaram o menino para a casa da avó.
O crime
Por volta das 10h, o policial chegou ao endereço em uma motocicleta, chamou a vítima até o lado de fora da residência e efetuou pelo menos dois disparos contra a mulher. Em seguida, tirou a própria vida. O óbito dos dois foi constatado no local pelos bombeiros.
De acordo com testemunhas, os filhos estavam na garagem de casa e teriam presenciado o crime. A mãe de Adriana entrou em desespero ao ver a filha agonizando. “Ela desabou”, contou uma vizinha.
Uma das testemunhas contou à reportagem que chegava em casa no momento em que o casal conversava em frente ao portão. Tão logo entrou na residência, ouviu dois disparos de arma de fogo. “Quando saí para ver o que ocorria, os corpos estavam caídos”, disse.
Uma comerciante que tem uma loja de roupas na mesma rua disse ter ouvido os tiros e corrido para ver o que estava ocorrendo. “Pensei que era um assalto. Saímos assustados e ainda vimos os dois agonizando. Uma cena muito triste”, destacou Maria do Amparo, 53 anos.
Por volta das 12h, os corpos ainda estavam no local. A arma usada pelo policial, uma pistola calibre .40, também permanecia na cena do crime. Uma vizinha que mora há 22 anos no local disse que todos estão muito chocados. “Nunca aconteceu um crime desse aqui na rua”, destacou a dona de casa Givanilde Cavalcante, 36.
Epaminondas era segundo sargento da Polícia Militar. O caso deixou os colegas de farda perplexos, uma vez que ele era considerado de temperamento tranquilo.
A corporação divulgou nota, no início da tarde de terça (7), lamentando o ocorrido: “O trabalho diário dos policiais militares nas ruas do DF visa, entre outras coisas, evitar esse tipo de crime. A PMDF se solidariza com os familiares e está à disposição para auxiliar no que for necessário”.
Outros casos
Em um intervalo de três dias, o Distrito Federal registou três casos de feminicídio. Na noite de segunda (6), outro crime bárbaro. Jonas Zandoná, 44 anos, foi autuado em flagrante por feminicídio, homicídio triplamente qualificado por motivo torpe e sem chance de defesa da vítima. Para a Polícia Civil, o agressor jogou a mulher do terceiro andar de um prédio residencial na 415 Sul.
Carla Grazielle Rodrigues Zandoná, 37, chegou a ser socorrida. No entanto, teve uma parada cardíaca e morreu por volta de 19h35. A vítima havia denunciado o companheiro por agressão duas vezes. A última, em 2016, na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam).
Na noite de domingo (5), o taxista Edilson Januário de Souto executou a tiros a esposa, Marília Jane de Sousa Silva, após uma discussão do casal. Depois de matar a companheira, estacionou o carro da vítima dentro do terreno, fechou o portão e saiu. O crime foi cometido na Quadra 405 do Recanto das Emas, por volta das 20h30.
Somente em 2018, pelo menos 18 mulheres foram assassinadas no Distrito Federal.