Mulher morta com cinco facadas no peito já havia denunciado ex-marido
Segundo a Polícia Civil, Stefanno Jesus de Souza Amorim agrediu a ex-mulher pelo menos duas vezes antes do crime
atualizado
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O feminicídio ocorrido nesse sábado (14/7) era uma tragédia anunciada, assim como outros 15 crimes contra mulheres registrados nos primeiros meses de 2018 no Distrito Federal. O principal suspeito pelo assassinato da funcionária terceirizada do Ministério dos Direitos Humanos (MDH) Janaína Romão Lúcio, em Santa Maria, é o ex-marido da vítima. Ele já tinha sido denunciado à Polícia Civil por violência doméstica contra ela.
Stefanno Jesus Souza de Amorim, 21 anos, é suspeito de matar a ex-mulher, de 30 anos, a facadas e fugir. Antes disso, Amorim teria agredido Janaína, com quem tem duas filhas, em pelo menos outras duas ocasiões, segundo informação do delegado-chefe adjunto da 33ª DP (Santa Maria), Alberto Rodrigues, e divulgada pela Divisão de Comunicação da Polícia Civil.
Stefanno não havia sido preso pelas agressões anteriores, apesar das denúncias da vítima. Ainda de acordo com o delegado, o homem “pode ser considerado perigoso por conta de antecedentes criminais”. Stefanno está foragido desde o dia do crime.
Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Paz Social do DF (SSP-DF), foram registrados 13 crimes contra mulheres de janeiro a maio de 2018, aumento de 23% em relação ao mesmo período de 2017.
Ciúmes e crimes violentos
Os casos de 2018 chocaram o DF. Um deles foi o de Jéssyka Laynara da Silva Souza, 25 anos, em Ceilândia. Ela morreu em maio assassinada a tiros pelo ex-namorado, o então soldado da Polícia Militar Ronan Menezes. Ciúme teria motivado a ação do rapaz, que baleou também o personal trainer Pedro Henrique da Silva Torres, 29, por achar que ele tinha relacionamento amoroso com a mulher.
Em outra ocasião, a advogada Jusselia Martins de Godoy, 50, morreu cinco dias após ter sido alvejada por três tiros disparados pelo ex-marido, Evandro Alves de Faria, 56. O homem suicidou-se em seguida. O crime ocorreu no escritório da vítima, no bairro Jardim Roriz, em Planaltina. O motivo seria ciúme e briga patrimonial.
Em março, o ex-vigilante Elson Martins da Silva, 39, matou a própria mulher, Romilda Souza, 40, na Asa Sul. Na sequência, ele tirou a própria vida. Destino semelhante teve Mary Stella Maris Gomes Rodrigues dos Santos, 32. Ela foi assassinada pelo companheiro, o piloto do Metrô-DF Júlio César dos Santos, 38. Ele se matou após o crime.
No último 6 de junho, um dia após sair da prisão, Vinícius Rodrigues de Sousa, 24, matou a ex-companheira Tauane Morais dos Santos, 23, a facadas, em Samambaia. Em depoimento à 26ª DP (Samambaia), a mulher havia dito que o rapaz sempre foi agressivo e ciumento. Em todos esses casos, as vítimas haviam denunciado à Polícia Civil ou relatado a familiares os incidentes violentos cometidos pelos companheiros.
Machismo
Para Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres Brasil, os motivos passionais, como ciúmes, não podem continuar a ser justificativa para a prática de violência contra a mulher. “O assassinato de Janaína Romão foi motivado pelo machismo e pelo sentimento de posse que os homens ainda têm sobre as mulheres. Quem ama, não mata”, afirma.
Elisa Matos Menezes, antropóloga (UnB) e mestre em Estudos da Mulher (UAM-X, México), acrescentou :“O assassinato de Janaína coloca, mais uma vez, em evidência o contexto social que naturaliza a violência contra as mulheres”.
Segundo a especialista na área, o fato de Stefanno esfaquear nove vezes a ex-companheira expõe características comuns de casos de feminicídio: a crueldade dos assassinatos de mulheres caracterizado pelo uso de armas brancas (quando comparados estatisticamente aos casos relacionados a homens) e o sentimento de posse decorrente da objetificação da mulher presente nos relatos da motivação do crime (ciúmes)”.
“A tipificação do crime de feminicídio no direito penal brasileiro constitui um ganho fundamental para conseguirmos quantificar de forma qualificada e fundamentar a urgência de se pensar em políticas de direitos para as mulheres. É importante destacar: o Brasil está em 5º lugar no índice de crimes contra a mulher no mundo, segundo as estatísticas da OMS
Elisa Matos Menezes, antropóloga
Falta de apoio
Em 2013, o governo federal anunciou a construção de espaços para oferecer a mulheres vítimas de violência serviços necessários para se sentirem menos vulneráveis. Trata-se da Casa da Mulher Brasileira. Na época, estavam previstas obras para 27 unidades de atendimento no país. No entanto, cinco anos depois, há só 7 centros prontos. Destes, apenas dois estão em pleno funcionamento: o de Mato Grosso do Sul e o de São Luís.
Cada unidade custou mais de R$ 10 milhões ao Estado. As sedes do DF, de Roraima e de São Paulo estão fechadas há mais de dois anos. A Casa situada em Brasília chegou a ser inaugurada em 2015 e foi interditada três anos depois por risco de desabamento. Atualmente, encontra-se em obras, sem previsão de entrega.