Vídeo: “Fila da maconha” abastece gangues que aterrorizam Planaltina
Bocas de fumo do Beco do Pombal ganharam fama pela grande movimentação de usuários. Esquema ajuda a financiar a atividade criminosa na região. Bandidos usam redes sociais para se vangloriar e ameaçar rivais
atualizado
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A organização e a popularidade são fundamentais para o sucesso de qualquer negócio que explore o comércio varejista. Com o tráfico de drogas, não é diferente. As bocas de fumo, por exemplo, são a fonte de renda das gangues que impõem uma rotina de medo e violência em Planaltina. Os pontos de venda de drogas alimentam as facções criminosas e financiam a compra de armas e munições. Uma delas, instalada no Beco do Pombal, região de Buritis II, ganhou fama pela fila de usuários que se formava enquanto a maconha era repassada pelo traficante que dominava a área.
O Metrópoles teve acesso a imagens inéditas que mostram o volume de usuários que costumava ir até o local em busca da erva. Enquanto o traficante finalizava uma transação, outras pessoas aguardavam a sua vez na “fila da maconha”, conforme apelidaram os investigadores.Os usuários chegavam aos montes a pé, de bicicleta, sozinhos ou com amigos. A clientela era de várias faixas etárias, de ambos os sexos. Adultos, adolescentes, homens e mulheres. Dezenas de pessoas foram flagradas comprando droga durante a campana feita pela polícia na boca de fumo mais famosa de Planaltina.
As filmagens mostram que o movimento era intenso ao longo de todo o dia, o que rendia uma quantia de até R$ 2 mil por jornada (veja vídeo). “Impressionante. O movimento no Beco do Pombal é enorme. Desse comércio, brota o dinheiro necessário para comprar revólveres, pistolas e até carros usados nos crimes”, explicou um dos agentes da Seção de Repressão às Drogas (SRD) da 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina) que registrou as imagens, mas pediu anonimato.
Ao longo de 12 anos, os investigadores travaram uma batalha para acabar com a boca de fumo do Beco do Pombal. O homem que aparece nas imagens é Edvando Mendes, detido e condenado em 2015 por tráfico de drogas. Atualmente, cumpre pena de sete anos e noves meses no Complexo Penitenciário da Papuda. Contudo, após a prisão de Gordo, como é conhecido, a venda de drogas na região acabou pulverizada e se espalhou por várias quadras. A importância do tráfico para as gangues, porém, permanece a mesma: financiar a guerra com grupos rivais.
De acordo com a delegada-chefe da 31ª DP, Jane Klebia, o comércio de entorpecentes no Beco do Pombal faz parte da raiz do problema envolvendo as gangues que cometem crimes na cidade.
É de onde o grupo retira os recursos para sua subsistência, como a compra de casas, pagamento de advogados e mantimentos para as famílias. Por isso, consegue se restabelecer muito rápido, mesmo com a prisão de vários integrantes
Jane Klebia, delegada-chefe da 31ª DP
Nesse contexto, ressalta a delegada, o fluxo de capital se mantém e o ciclo se renova facilmente, com mais droga, dinheiro, ataques contra grupos rivais, roubos, latrocínios e adolescentes aliciados para o crime.
Ameaças pelas redes sociais
Além dos embates violentos nas ruas de Planaltina, integrantes das gangues que atuam na cidade utilizam a internet para ameaçar de morte os desafetos. Monitoramento feito pela Polícia Civil nas redes sociais de integrantes das facções criminosas mostram a agressividade dos criminosos. Revólveres, pistolas e até espingardas são expostos como sinal de poder.
Mensagens de provocação trocadas entre as gangues rivais são comuns nas páginas. Quando um deles é morto, é motivo de ridicularização por parte dos desafetos. “Bandidão morreu gritando e pedindo pelo amor de Deus”, diz um integrante de um dos grupos que havia matado um inimigo.
Em outra mensagem, um suspeito de participar da guerra disse que não está fazendo nada e iria “sair para matar um rival”.
Em Numa postagemn, uma jovem baleada na perna desabafa dizendo que levou um tiro sem ter qualquer envolvimento com a disputa entre as facções. “Covardes, acertando inocentes que não têm nada a ver com essa guerra infeliz”, diz a vítima.