Drogas embalam festa eletrônica no coração de Brasília

Um dos principais pontos de tráfico e consumo de drogas sintéticas do Distrito Federal tem data e hora para funcionar: às quintas-feiras, 23 horas. No coração do Plano Piloto, uma festa de música eletrônica é o pano de fundo para traficantes despejarem um cardápio infindável de “mercadoria”. Ecstasy, LSD, cocaína e maconha são consumidos de forma frenética, acompanhando o ritmo do bate-estaca que embala a festa “5uinto”, no clube da Associação dos Empregados da Companhia Energética de Brasília (Asceb), na 904 Sul.

A reportagem do Metrópoles esteve no evento na última quinta-feira (24/9). Já passava da meia-noite quando a fila teimava em aumentar. Homens e mulheres na faixa dos 30 anos e bem-vestidos não viam a hora de entrar.

A única entrada para o espaço é vigiada por um grupo de pelo menos quatro seguranças. Trajados com ternos escuros e ponto eletrônico em um dos ouvidos, eles fazem uma revista supostamente minuciosa, averiguando os bolsos das calças e blusas dos frequentadores. Como um volume tão grande de drogas entra na festa ainda é um mistério.

Dinheiro vivo
Para estar no 5uinto, é preciso ter em mãos o objeto de desejo para qualquer traficante: dinheiro vivo. Apenas para entrar no ambiente é necessário desembolsar R$ 70. Uma vez lá dentro, o clima se transforma. O cenário mais parece uma das locações do filme “Paraísos Artificiais”, com muita gente bonita, drogas vendidas e consumidas em excesso e efeitos visuais psicodélicos. Não são todos os frequentadores que são embalados pelas drogas, mas boa parte deles consome a “mercadoria”.

A festa é improvisada em um salão – parte coberto, parte ao ar livre. Um palco, onde os DJs tocam, foi erguido no fundo do ambiente. Os músicos deveriam ser a atração principal, porém são os coadjuvantes da noite, perdendo para os “caras” mais procurados da festa. Afinal, traficante de sucesso no 5uinto é aquele que tiver o maior arsenal de drogas para torrar no evento.

Os efeitos provocados pelos telões fixados nas áreas interna e externa expõem, mesmo que de forma discreta, as transações. Pelo menos quatro traficantes foram identificados. Na parte externa, um homem distribuía o chamado “doce” ou simplesmente “papel”. O LSD é consumido ali mesmo, ao lado de uma área onde, durante o dia, crianças brincam nas piscinas do clube. Mas, nas noites de quinta, a diversão passa longe da inocência.

Consumo em segundos
Como formigas ao redor do açucareiro, mulheres jovens e bonitas cercam o homem, que abre um pequeno saco plástico e coloca o microsselo na boca de cada uma. Em minutos é possível perceber o efeito. Bebendo litros de água, a sede das usuárias aumenta, sempre em compasso com a euforia. São horas dançando no mesmo ritmo, noite adentro. Outros frequentadores preferem uma “bala”, apelido dado ao ecstasy.

Ao mesmo tempo, outro traficante negociava com um grupo de três meninas. A certa altura, ele se assustou com as imagens feitas pela reportagem. Mas não se abalou. Finalizou o negócio e repassou a droga. Já na parte interna, em plena pista de dança, outros dois homens se encarregavam de abastecer de pó os usuários. Alguns tinham a habilidade de cheirar uma pequena quantidade de cocaína colocada em uma palheta de plástico.

No banheiro
São 3h da manhã. Enquanto vários cigarros de maconha são preparados e acesos por toda parte, carreiras de cocaína são delicadamente alinhadas no banheiro. O Metrópoles flagrou, dentro das pequenas cabines, todo o processo de preparo do pó sobre a tampa do vaso sanitário. Ao lado, traficantes contam o dinheiro faturado com a venda de drogas. Após a rápida contabilidade, eles voltam para a pista. A madrugada continua quente e o clima da festa não fica atrás: ferve de usuários.

Na parte externa, uma mulher segura uma garrafa de água mineral. Ela não bebe, mas aspira, pela boca, os gases liberados pelo lança-perfume. A garrafa corre de mão em mão pelo grupo de jovens. O consumo de drogas e a proximidade com os seguranças chama a atenção. Não existe qualquer reação dos responsáveis por manter a ordem no evento.

Não importa que droga é consumida pelos frequentadores do 5uinto. Todas são acompanhadas por bebidas alcoólicas em grandes quantidades. Espalhadas pelo salão, as mesas ficam repletas de “combos”. Baldes de gelo com uma garrafa de vodca e latas de energético são esvaziadas em pouco tempo. As horas passam e o ritmo da festa só aumenta. São 4h e o cansaço passa longe dos frequentadores. A reportagem deixa o local com o evento ainda em chamas.

Revista reforçada
Procurado pela reportagem, um dos organizadores da festa 5uinto, João Eduardo Komka, afirmou que existe uma determinação para o grupo de seguranças reforçar a revista na entrada do evento. “Demos uma determinação para que, caso o frequentador seja flagrado na entrada com algum tipo de droga, ele seja proibido de entrar no evento. Como não podemos reter a droga, pedimos para que ela seja deixada do lado de fora”, explicou. Komka também ressaltou que todos os profissionais de segurança foram orientados a ficar em estado de alerta para coibir o uso de drogas no interior da festa.

Sabemos que existe esse consumo dentro das festas, mas trabalhamos para evitá-lo.

João Eduardo Komka, organizador

Memória
Há um ano, em 27 de setembro de 2014, uma festa pra lá de animada bombou no Whatsapp. Era a Sbornia. Na Club 904 (904 Sul), mesmo local onde são realizadas as tradicionais 5uinto e Play!, a balada prometia strippers e cenas sensuais ao vivo. Missão dada, missão cumprida. Uma das moças contratadas tirou a roupa e os convidados fizeram sexo oral nela. Tudo devidamente registrado nos celulares e compartilhado.

São cenas fortes e explícitas, não apropriadas para menores de 18 anos, conforme mostra o vídeo abaixo: