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Fechada, boate investigada pela PCDF se muda para loja vizinha

Apenas neste ano, a 21ª DP registrou 172 ocorrências de crimes ocorridos na área da People’s Lounge Bar, interditada na semana passada

atualizado

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André Borges/Especial para o Metrópoles
1 de 1 - Foto: André Borges/Especial para o Metrópoles

O vídeo que mostra uma jovem sendo agredida por segurança na porta da People’s Lounge Bar, no Pistão Sul, é apenas mais uma entre dezenas de ocorrências policiais na área próxima à boate. A região acumula registros de roubo, furto, tráfico de drogas, lesão corporal e até mesmo tentativa de homicídio.

Na semana passada, a Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística do Distrito Federal (DFLegal, antiga Agefis) interditou a People’s, que funcionava sem licenciamento. Mas a medida não impediu a continuidade das operações da boate, que “se mudou” para o imóvel ao lado.

Mesmo com as atividades suspensas, a People’s permaneceu anunciando a realização de eventos nas redes sociais. Um delas ocorreu na última  sexta-feira (13/12/2019), na boate que funciona ao lado, a Alfa Club. A festa “Sexta-feira 13” tinha bebida liberada até as 5h da manhã.

Reprodução

 

O Metrópoles apurou que, apenas neste ano, a 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul) registrou 172 ocorrências de crimes ocorridos no local. São quase duas por dia. Todos os episódios de violência se deram no período da noite, nos dias de festa promovidas pela People’s Lounge Bar.

Boa parte dos registros é de roubo e furto de celulares dentro e nas adjacências da casa de shows. “A delegacia investiga cada caso, com a possibilidade, inclusive, de responsabilizar o responsável pelo estabelecimento”, explicou o delegado-chefe da 21ª DP, Luiz Alexandre Gratão.

Drogas

A aglomeração de jovens nos dias de festa atrai, além de ladrões de celular, traficantes. Na última sexta-feira (13/12/2019), a reportagem constatou que a People’s estava fechada, mas a Alfa Club tinha muita fila para o evento “Sexta-feira 13”.

Dentro da boate, a reportagem flagrou consumo e tráfico de drogas, como maconha e comprimidos de Rohypnol. No salão, o DJ responsável pelas picapes tocava funk.

Veja:

Na área externa, uma espécie de varanda ficava escondida atrás de uma cortina de fumaça provocada pelo uso de narguilés. As essências queimadas se misturavam ao cheiro da maconha consumida pelos frequentadores. Pelo menos três traficantes faturavam dentro da boate com a venda de drogas. Cada um deles fazia o movimento em pontos diferentes da casa de shows.

A equipe de reportagem chegou a ser abordada por um dos jovens que estava na área externa da Alfa. Ele comento que estava “muito doido” após ter ingerido dois comprimidos de Rohypnol.

O rapaz estava na companhia de um grupo de jovens que enrolavam cigarros de maconha para fumar ao mesmo tempo em que usavam narguilé. Tudo regado ao consumo de bebidas alcoólicas.

Por volta de 1h da manhã, uma viatura da Polícia Militar estacionou em frente à boate. Um dos policiais desceu e se aproximou da entrada da casa. No entanto, após cerca de cinco minutos, a guarnição deixou o local.

Delivery

O tráfico e o consumo de drogas na boate e nas adjacência corre solto madrugada adentro. Quem não está na casa e pretende fazer uso de entorpecentes conta com um tipo de entrega delivery.

A reportagem flagrou diversos momentos em que veículos encostam na calçada para a entrega de pequenas porções de droga. Jovens entregavam dinheiro, pegavam saquinhos e os veículos deixavam o local em seguida.

As transações não demoravam mais do que 20 segundos. Quando a reportagem deixou a Alfa, por volta de 2h, dezenas de frequentadores permaneciam fazendo uso de drogas na boate.

Procurado, o DF Legal informou que, assim como a People’s, a Alfa será alvo de vistoria para verificar se possui as licenças necessárias.

Outro lado
Ao Metrópoles, os responsáveis pela Alfa Club negaram qualquer ocorrência de tráfico de drogas dentro da casa e afirmam que a tolerância é zero para entorpecentes. “Muitas vezes, o cigarro de palha é confundido com o de maconha”, disse um deles, que preferiu não identificar.

Informaram, ainda, que o local conta com 10 seguranças e dois brigadistas. Também acrescentaram que a Polícia Militar sempre é chamada quando necessário pela própria gerência do estabelecimento.  Os organizadores também negam qualquer relação com os organizadores da People’s. Afirmam que fazem eventos próprios e que, em hipótese alguma, alugam o espaço para festa de outros produtores ou particulares. Os proprietários da People’s também negaram que passaram a usar a casa ao lado para promover eventos e acrescentaram que o problema de tráfico na rua recorrente.

Agressão feita por segurança

A festa “Sexta-feira 13” foi promovida uma semana após a estudante Brenda Bernardes da Silveira, 21 anos, ser agredida por uma segurança na boate People’s.

Em 06/12/2019, ela bateu a coluna e a cabeça na calçada na hora em que foi atirada com força no chão pela mulher. A brutalidade foi filmada por um homem que estava no momento. As imagens viralizaram nas redes sociais.

Ao Metrópoles, Brenda disse que os seguranças começaram a bater nela dentro da boate, após a jovem tentar subir no palco para falar com o MC que se apresentava no momento.

“Foram me arrastando para cá”, contou, na frente do estabelecimento. “É um sentimento bem forte voltar aqui. Lembrar desse trauma foi muito ruim”, acrescentou a moça, que, na segunda-feira (16/12/2019), ainda caminhava com dificuldades.

Beatriz Bernardes da Silveira, 19, também estava na boate com a irmã, Brenda, no dia da agressão. Elas disseram que não costumavam frequentar o local, mas foram para assistir ao show do MC Menor da VG. As duas se divertiam em frente ao palco quando o cantor teria feito um gesto para que subissem.

Brenda tentou levantar a irmã, momento em que um segurança as empurrou para baixo. Na segunda tentativa, um dos homens, de acordo com a jovem, chegou dando um “mata-leão” nela, enquanto outro a pegava pelas pernas e a arrastavam para fora.

Veja:

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Brenda mostra as marcas da agressão
Brenda mostra as marcas da agressão
Brenda mostra as marcas da agressão
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Brenda e Beatriz

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Brenda mostra as marcas da agressão

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Brenda mostra as marcas da agressão

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Brenda mostra as marcas da agressão

Jak Spies/Metrópoles

 

“Eles deveriam ter conversado comigo. A gente não tentaria subir de novo. Ao chegar lá fora, a moça [segurança] ainda fez aquilo [que aparece no vídeo]. Fiquei desacordada, não lembro muito bem por causa da batida na cabeça”, disse Brenda. Ela está com diversos machucados pelo corpo e manca de uma perna.

Beatriz também alega ter sido agredida. “Depois que a levaram, não vi mais nada. Quando a vi caída no chão, fui pedir ajuda para um segurança e ele me deu um murro na boca, quebrando um pedaço do meu dente”, relembra. Segundo contou, um dos clientes da boate ajudou as irmãs, levando-as para a casa da mãe, que é enfermeira.

No caminho, a irmã afirma que Brenda teve uma convulsão. “Tive que por o dedo na língua dela para não enrolar. Estamos machucadas e Brenda ainda precisa fazer exames”, comenta.

As irmãs planejavam fazer Boletim de Ocorrência na 21ª Delegacia de Polícia (Pistão Sul) no mesmo dia. Mas Brenda conta que, na primeira vez que foram à DP, ela quase teve outra convulsão. “A policial me orientou a ir ao hospital primeiro, porque podia ser sério, pela batida forte. Fomos ao HRT [Hospital Regional de Taguatinga] e fiz uma tomografia”, conta.

De acordo com ela, os exames apontaram algo de errado. Mas é necessário fazer alguns testes neurológicos específicos, que Beatriz diz serem caros para elas arcarem. De acordo com as jovens, em nenhum momento elas foram procuradas pela boate para a reparação dos danos.

O dono do estabelecimento, Carlos Henrique Rodrigues de Oliveira, diz que, ainda no sábado (07/12/2019), a segurança foi afastada, e o contrato com a empresa Guerra Segurança, cancelado.

“A gente repudia completamente essa conduta. Tudo tem que ser investigado e estamos colaborando com a polícia. Não houve realmente um grau de preparo da segurança”, afirma o dono da People’s.

Nenhum representante da Guerra foi encontrado pela reportagem para comentar o episódio. A empresa de segurança não tem registro na Polícia Federal, segundo o Sindicato dos Vigilantes do DF.

A reportagem tentou novo contato com os responsáveis pela People’s e pela Alfa Club para comentar as denúncias, mas não obteve retorno.

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