Família de Luís Cláudio vai à Corte Interamericana de Direitos Humanos
Há um mês, motorista foi encontrado morto em uma cela da 13ª Delegacia de Polícia. Laudo aponta suicídio. Parentes contestam resultado
atualizado
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Nesta segunda-feira (14/8), faz um mês que o motorista Luís Cláudio, de 48 anos, foi encontrado sem vida dentro de uma cela da 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho). O advogado que representa a família dele, Paulo César Feitosa, prepara um dossiê para denunciar o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos. O resultado do laudo feito pelo Instituto Médico Legal (IML), obtido com exclusividade pelo Metrópoles, aponta que ele se matou por enforcamento.
Os parentes contestam o documento, embora não tenham acesso a ele ainda, e defendem que a morte foi decorrência de violência policial. “Existem casos reiterados de excessos praticados por policiais. Esse é um modus operandi da polícia e vamos denunciar”, explicou.
“Nós sentimos que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não está fazendo total esforço no caso e que, na Câmara Legislativa, distritais tentam barrar qualquer tentativa de convocação dos policiais para esclarecimentos”, desabafou César, numa referência ao deputado Wellington Luiz (PMDB), policial civil. Questionado pela reportagem, o parlamentar explicou que não é contra a ida dos policiais envolvidos no caso à Câmara.
Me opus ao chamado de convocação. A forma correta é um convite. Inclusive, os agentes já se despuseram a ir. Sou contra a transformação de um drama familiar num espetáculo político.
Wellington Luiz, deputado distrital e vice-presidente da Câmara Legislativa
Juliano Costa Couto, presidente da OAB-DF, explicou que criou uma comissão para acompanhar o caso e facilitar o acesso do advogado da família ao inquérito. “Eles trabalham com absoluta independência. Me espanta esse tipo de afirmação da família, pois eles nunca procuraram a OAB. Nós estamos agindo com o mesmo intuito e vigor para buscar esclarecer essa morte”, afirmou.
Amigos procurados
A família foi avisada que alguns amigos do motorista estariam sendo procurados, informalmente, por policias buscando informações que comprovassem problemas psiquiátricos da vítima. “A polícia nos pediu o celular do Luís Cláudio, mas não soubemos se os aparelhos dos policiais envolvidos também foram solicitados”, contou Paulo César. “Como o inquérito está com a Corregedoria, esses policiais não poderiam entrar em contato com os colegas do Luís Cláudio”, completou.
O perito particular Levi de Miranda, do Rio de Janeiro, foi contratado pela família e está examinando todos os documentos que eles conseguiram reunir até o momento. Ele prepara outro laudo que será confrontado com o da PCDF. O advogado antecipou que, em uma análise preliminar, o profissional informou que não se trata de suicídio. Agora, eles aguardam o documento oficial.
Paulo César esteve no IML na sexta (11) para buscar o laudo, mas não conseguiu. “A Corregedoria informou que apenas para responder nosso requerimento levará três dias. Não temos previsão de acesso ao inteiro teor do inquérito ou laudos”, reclamou.
Ao Metrópoles, a Divisão de Comunicação da Polícia Civil informou que os dados do andamento deste caso são protegidas por sigilo e são de responsabilidade da Corregedoria-Geral. Explicou, ainda, que os prazos para emissão de laudo podem ser prorrogados.
Preso por embriaguez
Luís Cláudio morreu dentro da carceragem da 13ª DP, após ser detido acusado de dirigir sob efeito de álcool. O carro que ele dirigia envolveu-se em acidente com o de um policial militar, por volta das 15h, do dia 14 de julho. De acordo com a Polícia Civil, o teste de bafômetro dele apontou 1,35 miligramas de álcool por litro de ar expelido. Depois que o delegado plantonista da unidade arbitrou o pagamento da fiança para a família, um dos agentes da corporação foi até a cela e o encontrou sem vida.
Em depoimento à corregedoria, uma testemunha contou que ficou na unidade das 15h30 às 18h30. Por volta das 18h, ela garante ter visto um escrivão sair de dentro da DP e dizer a seguinte frase para o atendente: “O cara tá ruim! Ajuda aqui, deu merda!”. Em seguida, afirmou que o delegado teria dito, também em voz alta: “Porra, já é a terceira vez que acontece isso aqui. Não dá para entender por quê”.
Veja as fotos divulgadas pela família:
Um possível quadro de depressão também é analisado pelos investigadores. Os hematomas que aparecem no corpo do motorista teriam sido decorrentes das algemas e de quedas sofridas antes e depois de ele chegar à unidade policial.
Outro fator que teria sido levado em consideração é que o policial militar responsável pela primeira abordagem a Luís Claudio, ainda na rua, em Sobradinho, o colocou sentado encostado em um muro “chapiscado”. O atrito do corpo do motorista com a superfície irregular teria causado pequenos ferimentos pelo corpo do homem.