Facção criminosa de SP financia quadrilhas que roubam celulares no DF
Investigações da Coordenação de Repressão a Crimes Patrimoniais, da Polícia Civil, revelam novo braço de atuação da organização paulista
atualizado
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O faturamento de bandidos especializados em roubo a lojas de celulares no Distrito Federal chamou atenção da maior facção criminosa do país: o Primeiro Comando da Capital (PCC). De olho no lucro milionário, a organização teria passado a financiar quadrilhas que agem em Brasília para que elas cometessem outros crimes. A nova frente de atuação foi descoberta pela Coordenação de Repressão a Crimes Patrimoniais (Corpatri), da Polícia Civil (PCDF).
A unidade da PCDF deflagrou a Operação Edge na semana passada. Entre a quarta (5/9) e a quinta-feira (6), policiais desarticularam um grupo interestadual que agia, além do DF, na Bahia, Goiás, Minas Gerais e São Paulo, entre outras unidades da Federação.
Segundo os investigadores, a estimativa é de que esse bando tenha lucrado até R$ 4 milhões. O esquema chamou atenção dos líderes da facção paulista, que assegurou o fornecimento de armas pesadas e veículos para que as empreitadas fossem cada vez mais frequentes e profissionais. Violento, o grupo chegou a ter dois integrantes mortos durante confrontos com a Polícia Militar de Goiás.
“A quadrilha especializada em furtos e roubos de celulares tinha atuação permanente em Brasília e no Entorno do DF. Verificamos que há indícios de que a facção criminosa de amplitude nacional (PCC) tenha dado suporte humano e material a furtos ocorridos em agências dos Correios das cidades de Alexânia e Águas Lindas de Goiás”, contou o delegado Ronney Matsui, da Corpatri
Um dos receptadores ligados ao grupo, Wisllan Borges Sales usava duas lojas de limpeza de carros em Ceilândia para lavar o dinheiro faturado com a venda dos celulares. Wisllan está entre os 15 presos pela Corpatri. O Metrópoles teve acesso às imagens feitas durante a prisão dele.
Veja:
Lava a jato de fachada
Nos dois lava a jato de Wisllan em Ceilândia, foram cumpridos mandados de busca e apreensão. Em um deles, na QNN 24, os investigadores levaram documentos para ajudar nas apurações. Um dos principais objetivos da polícia é descobrir o quanto de dinheiro foi lavado nos estabelecimentos.
Segundo as apurações, além de receptar os produtos roubados e manter os lava a jato, Wisllan costumava “encomendar” alguns roubos a lojas de celulares.
No decorrer desses meses de investigação, nós conseguimos elucidar diversos crimes praticados pelos integrantes dessa organização criminosa e responsabilizar criminalmente os principais envolvidos
Delegado Marco Antônio Vergílio, coordenador da Corpatri
Operação Edge
Durante a Operação Edge, foram cumpridos 15 mandados de prisão preventiva e oito de busca e apreensão em Ceilândia, Samambaia e Santo Antônio do Descoberto (GO), no Entorno do DF. Somente em Brasília, o grupo cometeu sete crimes entre 5 de janeiro e 17 de fevereiro de 2018. Em Goiás, Minas Gerais, Tocantins, São Paulo, Bahia e Sergipe, foram contabilizadas 38 ocorrências em 2018.
“Passamos meses para conseguir identificar cada um dos envolvidos, o modus operandi e as articulações criminosas. O investimento em recursos humanos e materiais é fundamental para, continuamente, se reprimir de forma eficaz essas organizações criminosas especializadas. A meta é que elas não consigam, de forma alguma, se instalar e se fortalecer no Distrito Federal”, explicou Marco Aurélio Vergilio de Souza.
Durante as investigações, que duraram cerca de sete meses, os policiais descobriram que os crimes não ocorriam de forma aleatória. De acordo com a Corpatri, os autores se reuniam para planejar os furtos analisando e escolhendo os estabelecimentos que poderiam trazer mais lucro.
Conforme relatório da Divisão de Análise Técnica e Estatística da Polícia Civil, em 2016 foram constatados cinco roubos a lojas de telefonia em shoppings e centros comerciais no DF. O número subiu para 21 casos em 2017. Até maio de 2018, foram 11 casos, não havendo registros nos meses de junho e julho.
População também é alvo nas ruas
A mira dos criminosos não se restringe a lojas. No Distrito Federal, é difícil achar alguém que não tenha sido vítima de roubo ou furto de celulares, conforme mostrou a reportagem no sábado (8). Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), entre janeiro e agosto, 33.818 aparelhos foram alvo dos ladrões. A média é de 140 casos por dia. Mas o número pode ser maior, uma vez que nem todas as ocorrências são notificadas.
No feriado de sexta-feira (7), o Metrópoles esteve na Rodoviária do Plano Piloto para entrevistar personagens que tivessem passado pela frustração de ter o celular levado por criminosos. E o resultado foi assustador: todas as 15 pessoas abordadas pela reportagem já tinham ficado no prejuízo ao menos uma vez devido à ação de bandidos.
Facções criminosas em volta do DF
No último dia 27, o Metrópoles publicou matéria mostrando que as forças policiais da capital do país passaram a ter uma preocupação a mais em relação a duas cidades goianas próximas ao Distrito Federal: Formosa e Anápolis. Em fevereiro de 2018, o governo de Goiás inaugurou dois presídios nessas localidades, que passaram a abrigar detentos de alta periculosidade.
A fim de evitar confrontos entre presos integrantes das duas maiores facções criminosas do Brasil, a administração penitenciária do estado vizinho optou por segregá-las. Para a unidade de Formosa são mandados os detentos identificados como membros do Comando Vermelho (CV). Já os presos fiéis ao Primeiro Comando da Capital (PCC) são mantidos em Anápolis.
O agrupamento de encarcerados extremamente organizados e violentos em unidades distintas fez a Polícia Militar do Distrito Federal alterar a forma de patrulhar as regiões mais próximas às saídas para essas duas cidades.
Segundo o comando da corporação, houve orientação para os batalhões de área e as unidades especializadas da PMDF (Rotam e Patamo) reforçarem o efetivo em Planaltina – que faz divisa com Formosa – e nas redondezas de Alexânia, cidade vizinha do DF que está na rota para Anápolis.