Explosão no Buriti: “Vi um homem saindo com fuzil”, diz testemunha
Numa ação audaciosa, na sede do Governo do Distrito Federal, bandidos explodiram caixas eletrônicos e dispararam tiros para o alto
atualizado
Compartilhar notícia
“Foi uma cena que jamais vou esquecer. Um barulho muito alto. Meu ouvido dói até agora. Vi um homem saindo com fuzil. Ele deu três disparos. Um acertou a lâmpada do poste”. A declaração de um vigia de carros, que testemunhou a explosão de caixas eletrônicos no anexo do Palácio do Buriti, sede do Governo do Distrito Federal, revela que os bandidos não se intimidam em agir nas barbas do poder e reforçam a sensação de insegurança dos brasilienses.
Na madrugada desta terça-feira (24/7), criminosos explodiram dois caixas eletrônicos por volta das 3h40. Os equipamentos estavam instalados na área do restaurante dos servidores. De acordo com a Polícia Militar, os suspeitos fugiram em um Pálio branco. Durante a ação, os bandidos efetuaram de dois a quatro disparos no local.
Segundo a testemunha, ouvida pelo Metrópoles, um morador de rua que dorme no local foi rendido pelos bandidos na hora do assalto. Nesta manhã, ele teria sido levado pela Polícia Civil para prestar depoimento.
A reportagem apurou que o acesso ao anexo do Palácio do Buriti fica sem vigilância durante a madrugada. Uma guarita, a 200 metros do local, é o único ponto de vigilância.
Um funcionário, na condição de não se identificar, disse que durante a manhã nove vigilantes fazem a segurança no Anexo. À noite, quatro são lotados no Palácio do Buriti. “Tinha apenas um segurança na guarita quando tudo aconteceu. Ele estava armado com um 38. Os bandidos estavam encapuzados e fortemente armados. Atiraram para que ele voltasse para dentro da guarita”, contou outra testemunha.
Viaturas da PM e um helicóptero da Polícia Civil realizaram buscas e, minutos depois, um veículo foi encontrado pegando fogo nas proximidades do Estádio Nacional Mané Garrincha e do Colégio Militar de Brasília. Após verificação, os policiais confirmaram que se tratava do automóvel envolvido no crime.
No local da explosão, foram encontradas cápsulas de munição 5,56mm. O Esquadrão de Bombas do Bope foi acionado e atuou com a Operação Petardo, a fim de verificar se foram deixados explosivos próximo ao incidente.
A Polícia Civil faz perícia no local. A PM informou que os criminosos conseguiram levar dinheiro, mas não soube especificar a quantia.
A entrada do anexo do Palácio do Buriti amanheceu como um cenário de guerra. Pedaços dos caixas eletrônicos e vidros ficaram espalhados até o estacionamento que fica atrás do prédio.
A Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão, em nota, informou que o acesso ao restaurante está bloqueado e as atividades suspensas nesta terça-feira (24), em razão da ocorrência registrada no local na madrugada. Não há alteração quanto ao expediente de trabalho. O acesso ao prédio está sendo realizado pela entrada sul, voltada para o Eixo Monumental.
Insegurança
Reportagem do Metrópoles mostra que o sentimento de insegurança atormenta os brasilienses. A ação dos bandidos na sede do GDF reforça a sensação.
Mesmo com a redução dos indicadores de criminalidade computados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), o brasiliense não tem percebido melhoria da segurança nas ruas nem mesmo em casa. Não é por acaso.
Só no mês de junho, 40 pessoas foram assassinadas no DF. Durante todo o primeiro semestre, a Polícia Militar (PMDF) atendeu 196.893 ocorrências – uma média de mais de mil casos por dia. Os números da Polícia Civil são parecidos: 204.679 ocorrências de janeiro a junho de 2018, indicando média de 1,1 mil registros a cada dia.
Apesar de nem todos os casos serem de assaltos, multiplicam-se histórias de cidadãos sob a mira de bandidos. Muitas vezes, a vítima tem se defendido por conta própria, colocando os criminosos para correr (prática desaconselhada pela polícia). Relatos espalham ainda mais o medo e aumentam o desassossego pelas cidades do DF.
Cidadãos reagem
Nessa segunda-feira (23), um criminoso foi baleado durante assalto no Conjunto 2 da QL 4 do Lago Sul, na casa do desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) Pedro Aurélio Rosa de Farias, 72 anos. Ele reagiu ao roubo e baleou o suspeito que o rendeu por volta das 14h – outros dois bandidos participaram da ação. O aposentado também se feriu.
Ao Metrópoles, o desembargador detalhou a abordagem do trio. “Estava chegando de um almoço quando fui surpreendido pelos três assaltantes. Um deles desceu armado e os outros dois ficaram no carro”, disse. De acordo com o magistrado, os bandidos saíram do veículo gritando e perguntando onde estava o cofre.
Pedro Aurélio foi levado para dentro da casa. “Me prenderam no banheiro junto com a secretária. Roubaram relógios e correntes”, afirmou. A esposa dele também foi vítima de violência: recebeu várias coronhadas. Quando o desembargador viu que os bandidos estavam fugindo, subiu no quarto, pegou a arma e disparou seis vezes. Um dos assaltantes foi atingido, mas escapou.
Max Melo, 30 anos, é advogado e mantém escritório na mesma rua onde mora o desembargador e a família. Ele acredita que o crime desta tarde tenha sido premeditado. “Escolheram a dedo a vítima e o local. Chegaram exatamente no momento em que ele [Pedro Aurélio] estava entrando em casa. Foi tudo pensado”, avaliou Max.
O desembargador aposentado não foi a única vítima de assalto recente a tentar se defender. No domingo (22), um morador de Ceilândia, de 54 anos, foi preso. De acordo com a ocorrência, ele esfaqueou um homem, 49, e tentou golpear uma mulher de 40. O motivo: a dupla o teria roubado e ameaçado de morte na véspera.