“Eu algemei, mas não o agredi”, diz PM que abordou motorista da Caixa
À reportagem, o policial militar deu detalhes do que ocorreu no dia em que Luís Cláudio foi encontrado morto na 13ª DP
atualizado
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O motorista da Caixa Econômica Luís Cláudio Rodrigues (foto em destaque), 48 anos, encontrado sem vida em uma cela da 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho) na última sexta-feira (14/7), precisou ser algemado pelo policial militar que o abordou e acionou uma viatura para levá-lo preso. “Eu algemei, mas não o agredi”, contou ao Metrópoles o sargento que pediu para não ter o nome divulgado. De acordo com ele, Luís apresentava fortes sinais de embriaguez e representava uma ameaça ao conduzir o veículo em via pública.
“Ele deu uma esbarrada no meu carro. Coisa pequena, só no para-choque. Mas, na rua em que moramos [o policial e Luís são vizinhos] tem muitas crianças e quando vi que ele dirigia de forma perigosa, dei ré e consegui interceptá-lo no quebra-molas. Seria uma prevaricação deixá-lo prosseguir”, lembrou o militar, que tem 22 anos de serviço na PM e uma ficha funcional com mais de 60 elogios e nenhuma advertência.
Naquela sexta, o sargento estava de folga. Saiu de casa, no Setor de Mansões de Sobradinho, e levou o carro para lavar, já que havia vendido o veículo dias antes. Moradores vizinhos relataram que o militar teria gritado e agredido Luís com socos e chutes. Porém, nem os familiares do motorista têm conhecimento do fato. “Nenhum vizinho falou disso para a gente”, garantiu Marcos Eustáquio, cunhado da vítima. O familiar denunciou, entretanto, que a família recebeu ameaças. “Passaram na nossa porta e gritaram no portão que eu estava falando demais e era melhor ficar calado”, disse.A investigação está em sigilo e foi encaminhada à Corregedoria da Polícia Civil, já que a família não acredita na hipótese de suicídio, mesmo com o laudo preliminar do Instituto de Criminalística (IC) e do Instituto de Medicina Legal (IML) apontando que ele morreu “por asfixia secundária a enforcamento”.
O militar afirmou à reportagem que Luís Cláudio não conseguia ficar em pé direito. “Tive que segurá-lo e o levei para a calçada. Coloquei as algemas, pois ele estava muito agitado, por conta do teor alcoólico provavelmente e chamei a polícia. Um rapaz que saía da academia também me ajudou”, recordou. Questionado se sempre andava com algemas, mesmo de folga, o PM disse que é policial 24 horas por dia e, além do objeto, carrega sempre consigo a arma. “Já ocorreram ocasiões de precisar e eu não estar com elas”, argumentou.
O sargento afirmou que não houve conversa, porque Luís Cláudio “não falava nada com nada”. Além disso, começou a urinar e defecar na roupa. “Agi porque não poderia ser omisso. E se alguém fosse atropelado por ele?”, perguntou o militar, pai de um garoto que costuma brincar naquela mesma rua.
O PM acrescentou que a vítima seguiu para a delegacia algemada e sentada no banco de trás da viatura da corporação, pois o automóvel que foi atender a ocorrência não tinha o “cubículo”, local onde os presos são transportados. O carro usado pela vítima, que é de propriedade da Caixa Econômica Federal, foi levado por outro vizinho.
“Tive um pequeno contato com a família dele lá na delegacia. Um dos parentes até se ofereceu para arcar com os custos do conserto do carro, mas não aceitei pois era um problema fácil de resolver”, disse. A versão foi confirmada pelo cunhado de Luís Cláudio, Marcos Eustáquio: “Eu pedi para fazer o orçamento e me disponibilizei a pagar. Só que ele me disse que era coisa pequena, que tinha um mecânico conhecido e que poderia fazer a parte do polimento sozinho”.
“Minha rotina mudou”
Após prestar esclarecimentos ao delegado de plantão, o militar e o aluno da academia que auxiliou no caso foram liberados. “Só soube do que aconteceu depois, quando vi no jornal. O problema é que depois de tudo, a minha rotina mudou. Meu filho não sai mais de casa. Fica o dia inteiro preocupado com o que podem pensar da gente. Está complicado”, lamentou o policial, que tem a voz firme e alta, herança de sua descendência italiana, e serve há 11 anos no mesmo batalhão.
Depois que o delegado plantonista da unidade arbitrou o pagamento da fiança de R$ 1,2 mil para soltar Luís, um dos agentes da corporação foi até a cela e o encontrou sem vida. Enquanto a polícia tenta montar as peças do quebra-cabeça que se tornou a morte do motorista, a família se concentra em buscar a verdade.
O nosso foco, agora, é descobrir o que de fato aconteceu e entender o motivo dos agentes da delegacia não terem nos dado as roupas que ele usava. Quando entrei na cela, o Luís usava apenas de cueca e bermuda. Tinha sangue no nariz. Tentei fazer uma massagem cardíaca, mas não teve jeito. Fui lá pra fora e disse à família que o Carlos não estava mais entre nós
Marcos Eustáquio, cunhado de Luís Cláudio
De acordo com o laudo preliminar, os peritos não visualizaram no corpo qualquer outra lesão externa. No entanto, o resultado do exame só será concluído em 30 dias. Nesta terça-feira (18), a Polícia Civil, por meio de nota, voltou a afirmar que “todos os elementos preliminares, inclusive periciais, confirmam a hipótese de suicídio”.
Ainda de acordo com a PCDF, “não há qualquer indício, até então, que coloque em suspeição os agentes públicos envolvidos na prisão. Não obstante, já foi instaurado inquérito policial que conduzirá as investigações com absoluta isenção e transparência”. A corporação pretende, inclusive, fazer uma reconstituição do dia em que Luís morreu.
Índice de alcoolemia
De acordo com a Polícia Civil, o teste de bafômetro do motorista apontou 1,35 miligrama de álcool por litro de ar expelido. O índice de Luís Cláudio foi maior do que o recorde registrado em Goiás neste ano, quando um homem de 59 anos foi preso, no último sábado (15/7), com 1,34 miligrama de álcool por litro de ar expelido.
Segundo o diretor-geral Departamento de Trânsito (Detran), Silvain Fonseca, no DF há casos em que condutores foram flagrados com até 1,75 miligrama. “São números que representam uma grande ingestão de álcool. Dependendo do biotipo do condutor, levando em consideração a massa muscular e o funcionamento do metabolismo, o efeito físico pode ser significativo”, ponderou.
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados e a Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal (OAB/DF) também acompanham os desdobramentos da investigação.