Empresa contratada pela PCDF foi reprovada em outros estados e no DF
Griaule deveria cruzar digitais coletadas pela polícia com bancos de dados, mas não consegue executar o serviço. Contrato é de R$ 2 milhões
atualizado
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A empresa contratada sem licitação e por meio de contrato emergencial pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) para prestar os serviços de identificação civil e criminal foi reprovada, em maio de 2016, nos testes de aptidão técnica realizados pela corporação brasiliense. Até hoje, segundo denúncia do Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF), a Griaule S.A. não conseguiu se capacitar tecnicamente para fazer o cruzamento de bancos de dados. Ainda assim, conseguiu um contrato de R$ 2,274 milhões em julho deste ano.
Pelos próximos seis meses, a Griaule será responsável pelo controle do Sistema de Identificação Automatizada de Impressões Digitais (conhecido pela sigla Afis). Uma das finalidades do programa é checar digitais coletadas em locais de crime com as armazenadas em bancos de dados de criminosos.
Ainda cabe ao Afis ajudar a identificar pessoas que morreram e cujos corpos não foram reconhecidos por familiares, assim como comparar digitais para evitar fraudes quando a população tira documentos, como a Carteira de Identidade. Contudo, desde que assumiu o serviço, a Griaule não conseguiu colocar o sistema em funcionamento.Segundo o Sindicato dos Policiais Civis do DF, desde que a empresa assinou o contrato, mais de 1 mil laudos criminais deixaram de ser produzidos. Anteriormente, a média era de 30 suspeitos identificados por dia. “A companhia não tem capacidade técnica para executar o serviço para os quais foi contratada”, critica Rodrigo Franco, presidente da entidade.
Serviço apenas no DF
Além da PCDF, a Griaule não presta serviços de análise de identificação criminal para nenhuma outra polícia do Brasil. A empresa chegou a tentar operar em outros estados, mas teve os pedidos negados. Em 2013, foi reprovada em Goiás por “não atender as exigências do edital” com a documentação que comprovaria a aptidão para prestar o serviço.
Em 2015, a empresa tentou firmar um termo de contrato com a Secretaria de Segurança Pública de Tocantins, mas não foi autorizada pela Justiça do estado por não ter passado pelo processo de licitação. Em 2016, a reprovação ocorreu no DF. Ainda assim, neste ano a Griaule conseguiu o contrato no Distrito Federal.
Filial vazia
A matriz da Griaule fica em Campinas (SP) e, no contrato firmado com a PCDF, diz manter filial na 502 Sul. Na tarde desta quinta-feira (31/8), a reportagem esteve no endereço, mas não havia sinais de que a companhia funcionava no local. Na sala comercial havia apenas uma secretária, que disse desconhecer o nome Griaule.
Poucos minutos depois, chegou outra secretária, que passou o telefone da sede da Griaule, em Campinas. O Metrópoles telefonou para a companhia e um atendente que não quis divulgar o cargo que ocupa afirmou que um gestor responderia aos questionamentos da reportagem “assim que possível”.
Procurada pela reportagem, a Policia Civil informou, em nota divulgada na noite desta sexta-feira (1º/9), que o processo de contratação da Griaule S/A foi submetido previamente à análise e manifestação da Procuradoria-Geral do Distrito Federal quanto a sua formalidade e legalidade.
“Cabe enfatizar que, desde a contratação da empresa, a despeito de eventuais intercorrências decorrentes de processos de migração tecnológica, os serviços vêm sendo realizados normalmente, com absoluta segurança e controle de fraudes, não havendo interrupção na emissão das carteiras de identidade. Quanto à identificação criminal, as pesquisas no sistema AFIS estão sendo realizadas normalmente pelos papiloscopistas policiais”, completou a direção da PC.