Empoeirada e sem uso, frota milionária da PM está parada no Buritinga
Fotos mostram carros Mitsubishi, comprados a R$ 124,3 mil cada, estacionados no pátio do Centro de Treinamento da corporação
atualizado
Compartilhar notícia
Compradas ao custo unitário de R$ 124,3 mil, dezenas de viaturas modelo ASX da Mitsubishi, pertencentes à Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), estão sem uso. Fotos tiradas do estacionamento do Centro de Treinamento da corporação, localizado no antigo Buritinga, em Taguatinga, mostram os veículos parados no local e cobertos de poeira.
Os carros, comprados em agosto de 2017, foram entregues em abril desse ano: 315 veículos novos, totalizando investimento de R$ 39,1 milhões.
As imagens foram feitas durante dois dias – na última sexta-feira (27) e no sábado (28) – e encaminhadas ao Metrópoles nesse domingo (29). Os carros “esquecidos” no Buritinga estão emplacados e ocupam uma grande área no pátio do Centro de Treinamento da PMDF.
Segundo a reportagem apurou, as viaturas seriam destinadas a profissionais do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Patrulhamento Tático Móvel (Patamo) e da Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam), entre outros.
Veja as fotos:
Procurada, a PMDF não se pronunciou sobre o flagrante das viaturas paradas no Buritinga. Foi solicitado à reportagem reencaminhar a demanda nesta segunda-feira (30/7), durante o expediente, entre 13h e 19h, horário de funcionamento do departamento responsável.
Na quarta-feira (25/7), o Metrópoles publicou reportagem revelando que a Controladoria-Geral do Distrito Federal (CGDF) encontrou uma série de irregularidades em contratos firmados pela Polícia Militar em 2015. O gasto elevado com a manutenção dos carros e a substituição reiterada dos sistemas de embreagem dos veículos é citado pelo órgão como exemplos desnecessários de dispêndio de recursos públicos.
Embora as supostas irregularidades tenham sido praticadas há três anos, o relatório do órgão foi divulgado somente em 2018. Após identificar as falhas na execução dos serviços, a CGDF recomendou à corporação instaurar procedimento administrativo a fim de investigar a atuação dos executores do Contrato nº 20 de 2013, que versa sobre assistências nos veículos da instituição.
Escândalo das Pajeros
Não é a primeira vez que contratos relacionados a viaturas da PMDF são colocados sob suspeita. Em novembro de 2017, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) deflagrou a operação Mamon, para apurar possíveis fraudes no contrato de aquisição dos 315 veículos ASX, da Mitsubishi, com valor unitário de R$ 124,3 mil e total de R$ 39,1 milhões.
Promotores da Justiça Militar (PJM), do Centro de Informações (CI) e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) suspeitavam que licitações poderiam ter sido direcionadas e propinas cobradas em troca do pagamento das notas de serviço.
Outro contrato na mira da operação trata da compra de rádios de comunicação para as viaturas adquiridas no final de 2016 e entregues em agosto. Os aparelhos não estão conectados ao sistema de comunicação da PMDF. Cada equipamento custou R$ 6,6 mil e as unidades chegaram a ser reprovadas por um especialista – ele foi afastado do cargo.
Além disso, entre outras irregularidades, as apurações feitas com a colaboração da Corregedoria da PMDF identificaram que responsáveis pelos pagamentos no Departamento de Logística e Finanças (DLF) da corporação faziam “vista grossa” para um esquema envolvendo a manutenção das viaturas modelo Pajero. Peças dos veículos jamais eram substituídas, apesar de pagamentos serem feitos pelo serviço. Durante a primeira fase da ação, o coronel Francisco Feitosa, chefe do DLF, foi preso.
Carros parados na PCDF
A frota da Polícia Civil do Distrito Federal também está com problemas. Dezenas de viaturas da corporação ficaram sem manutenção, no último dia 19, devido ao vencimento do contrato com a empresa responsável pelos reparos. Entre agentes, o temor era de metade dos carros acabar fora de circulação por conta do problema.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol-DF), Rodrigo Franco, mais de 1,3 mil viaturas (cerca de 40% da frota atual), rodam há mais de 10 anos e precisam passar por vistorias constante para possíveis reparos. Segundo a PCDF, 18 mecânicos prestavam o serviço, mas, desde o dia 19, só cinco permaneciam no trabalho, cumprindo aviso prévio: os demais pediram demissão após os salários serem reduzidos, uma vez que eles ganhavam acima do piso da categoria.
A previsão era contratar reforços no fim da semana passada, mas não havia prazo para a manutenção ser regularizada e os veículos parados voltarem a circular.
Em 2017, o GDF chegou a comprar 145 novas viaturas para a Polícia Civil. Os veículos, modelo Corolla XEI, custaram aos cofres públicos, cada um, cerca de R$ 100,3 mil – um total de quase R$ 15 milhões. Na época, a direção da Polícia Civil solicitou a aquisição de 100 veículos de modelos populares. Do total, foram autorizados apenas 50.
Sensação de insegurança
Enquanto isso, a população segue alvo de crimes diários e os bandidos ficam cada vez mais audaciosos. Em pouco mais de um mês, um posto de gasolina a apenas 37 passos da entrada da 33ª Delegacia de Polícia, em Santa Maria, foi assaltado cinco vezes. O último roubo ao estabelecimento ocorreu na quinta-feira (26), dias após criminosos assaltarem o filho de um deputado, roubarem a casa de um desembargador aposentado e explodirem caixas eletrônicos do anexo do Palácio do Buriti.
Confira imagens desses crimes:
Em junho, 40 pessoas foram assassinadas no DF. Durante todo o primeiro semestre, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) atendeu 196.893 ocorrências – uma média de mais de 1 mil casos por dia. Os números da Polícia Civil são parecidos: 204.679 registros de janeiro a junho de 2018, indicando média de 1,1 mil incidentes comunicados diariamente. Nem todos são assaltos, mas se multiplicam pelo DF histórias de cidadãos sob a mira das armas de bandidos e a sensação de insegurança.