DF: veja os cursos que Marcola e outros do PCC fazem em presídio
Líder máximo da facção com berço em São Paulo também costuma ler livros. Entre eles, Crônicas de Gelo e Fogo
atualizado
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Preso no Distrito Federal desde março do ano passado, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, liderança máxima do Primeiro Comando da Capital (PCC), concluiu um curso na área de saúde. Outros integrantes da facção detidos no Presídio Federal de Brasília também participaram de aulas. As informações foram obtidas com exclusividade pelo Metrópoles.
Marcolinha, como é conhecido Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, o irmão de Marcola, faz curso de direitos humanos. Condenado a 40 anos de prisão, divide com o irmão a liderança do PCC. O criminoso foi um dos protagonistas da fuga do Complexo do Carandiru, em 26 de novembro de 2001. Ele escapou da cadeia com mais 101 detentos por um túnel. Desde então, era um dos líderes mais procurados pela polícia brasileira.
Patric Velinton Salomão, o Forjado, faz especialização em atendimento ao público. Indicado por Marcola, Forjado assumiu posto de liderança entre 2017 e 2018. Sentenciado a 15 anos, cumpre pena por tráfico e associação de drogas, porte ilegal de arma, formação de quadrilha, roubo e homicídio.
Assim como Forjado, Reinaldo Teixeira também optou pelo mesmo curso. Apelidado de Funchal, tem condenação superior a 66 anos. Ele foi o autor do homicídio do juiz Antônio José Machado Dias, em 2003, segundo o Ministério Público de São Paulo.
Cláudio Barbará da Silva, outro integrante da cúpula, faz curso de inglês. Nas ruas, exercia função de confiança. Contava com um elevado poder de decisão e chegou a determinar ataques em diversos estados.
Antônio José Müller Júnior, o Granada, se dedica a aprender direito constitucional. Condenado pela Justiça de São Paulo a 30 anos de prisão por corrupção ativa e pelo fato de integrar o PCC, ele é considerado membro da alta cúpula da facção criminosa paulista. De acordo com o Ministério Público de SP, cabia a Granada coordenar o “Conselho Deliberativo” do grupo.
Guerra dos tronos
Condenado a uma pena que ultrapassa 300 anos, o líder do PCC também dedica o tempo na prisão à leitura de livros. Atualmente, Marcola tem à disposição a saga As Crônicas de Gelo e Fogo. Ele dispõe de três livros escritos por George R. R. Martin. A narrativa serviu como base para a série Game of Thrones (A Guerra dos Tronos).
Outra obra disponível na cela de Marcola é A Colaboração: O Pacto entre Hollywood e o Nazismo, em que o escritor Ben Urwand conta que, para continuar a fazer negócios na Alemanha após a ascensão de Hitler ao poder, os estúdios de Hollywood concordaram em não produzir filmes que atacassem os nazistas ou que condenassem a perseguição aos judeus.
Os textos que tratam sobre guerras, estratégias políticas e violência estão entre os mais consumidos pela cúpula do PCC. Atualmente, Patric Salomão, o Forjado, está lendo A Eleição Disruptiva: Por que Bolsonaro venceu, de Juliano Corbellini e Maurício Moura. Trata-se de uma análise da eleição presidencial de 2018 e do cenário político atual. Outro livro escolhido por ele se chama Ilíada, que narra acontecimentos decorridos na Guerra de Tróia.
Cláudio Barbará optou por A Torre de Andorinha, Contagem Regressiva e 1942: O Brasil e sua Guerra quase Desconhecida, este último escrito por João Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso. Marcolinha conta com três exemplares à sua disposição: Cova 312, 12 Heróis e Pais Inteligentes, de Augusto Cury.
Além de A Escravidão, Sérgio de Arruda Quintiliano, o Minotauro, está focado em Ramsés, uma série de livros que retratam, com caracteres biográficos e fictícios, a vida do Faraó Ramessés II, bem como os costumes de vida dos egípcios dessa época. Antônio Müller preferiu 1984, Ascensão e Queda, O Forte e Simplesmente Mujica.
Minotauro foi indicado ao posto de liderança do PCC por Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, considerado o principal sócio em investimentos e propriedades de Marcola no Paraguai. Fuminho também é apontado como o responsável por um possível plano de resgate do Marcola em Brasília, revelado pelo Metrópoles em janeiro.
Cardápio
O Metrópoles também teve acesso ao cardápio dos integrantes do PCC detidos em Brasília. Eles têm seis refeições diárias: o café da manhã, servido às 6h15, conta com leite integral, café e pão francês com margarina e uma fruta.
No almoço, liberado às 11h15, os detentos comem arroz, feijão, farinha, legumes, salada verde e carne, que, dependendo do dia, pode ser branca ou vermelha.
O lanche da tarde e o jantar são oferecidos no mesmo horário, às 17h15. O primeiro fornece aos apenados biscoito de água e sal e margarina e o segundo, os alimentos disponíveis no almoço, além de sobremesa e um copo de suco. Todos os presos estão se alimentando normalmente. Na última semana, Marcolinha tentou fazer uma greve de fome com pretexto de reivindicar “melhorias nos presídios”. O ato, no entanto, durou menos de três dias. O preso já voltou a fazer todas as refeições.
Exército
Em dezembro de 2019, a ação de criminosos que pretendiam libertar o chefe da facção foi revelada pelo Metrópoles. A suspeita fez com que os ministérios da Justiça e da Defesa fechassem acordo para intensificar a segurança do complexo, localizado em São Sebastião.
Militares do Exército Brasileiro foram direcionados para a penitenciária de segurança máxima, onde ficaram de prontidão, com carros blindados. As informações sobre o plano de resgate partiram de São Paulo.
O estado é berço da facção criminosa. Marcola foi transferido para a capital federal em março, sob forte aparato policial.
De acordo com informações, os criminosos estariam aguardando o aval de um bandido chamado Fuminho para colocar o plano de resgate em prática. O PCC teria reunido um verdadeiro exército, incluindo pessoas com conhecimento militar e de armamentos.
A facção já teria mapeado os arredores do complexo penitenciário em Brasília com o uso de drones.
Desconforto
Uma das consequências da transferência de Marcola para Brasília é o mal-estar na relação entre o governo local e o Ministério da Justiça. O governador Ibaneis Rocha (MDB) entrou no debate e criticou publicamente o ministro Sergio Moro.
“Ele veio da republiqueta de Curitiba, isso todo mundo sabe. Mas, agora, é ministro e precisa entender que não está mais lá. Ele mora na capital do país”, disparou o titular do Palácio do Buriti.
O Presídio Federal de Brasília foi inaugurado em outubro de 2018. Os três primeiros detentos a ocuparem a penitenciária integram o PCC. A carceragem de segurança máxima conta com 50 celas individuais erguidas em uma estrutura de concreto armado e monitoramento 24 horas por dia.