Déjà vu: pai e filho são presos pela PCDF por venda de autopeças roubadas
A primeira fase das investigações foi deflagrada em outubro do ano passado. À época, a Polícia Civil expôs esquema milionário de desmanche
atualizado
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A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) deflagrou operação para coibir desmanche de carros no Setor H Norte, em Taguatinga. A ação deflagrada na manhã desta terça-feira (30/06), batizada de Déjà vu, é conduzida pela Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri).
Foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão, alguns integrantes do grupo foram presos em flagrante, entre eles dois proprietários e um gerente de uma loja de revenda de autopeças. Os empresários são pai e filho. Segundo a polícia, o trio era receptador de caminhonetes roubadas e furtadas no DF. Após o crime, eles desmanchavam e colocavam as peças no estoque da loja. Comercializavam os produtos como se legítimos fossem.
Durante a investigação, foi identificada uma chácara isolada no Núcleo Rural Alexandre Gusmão. Nesse local, funcionava a central de desmanches onde até três caminhonetes eram cortadas por semana. Depois, as peças eram transportadas para a loja e revendidas. Na chácara foram encontradas diversas carcaças e sobras de outros veículos.
Os proprietários, pai e filho, e já desenvolviam a atividade há ao menos cinco anos, ambos com significativos antecedentes criminais justamente por receptação. Durante as buscas, foram encontradas outras caminhonetes adulteradas na posse dos presos: S10 prata, Hilux preta, Hilux Prata e uma F-4000 usada para transporte das mercadorias ilegais. Todos os veículos foram apreendidos, assim como todo o estoque de peças contido na loja.
De acordo com a PCDF, os três envolvidos foram presos em flagrante por receptação e associação criminosa. Ao final do inquérito ainda serão indiciados por lavagem de dinheiro, uma vez que usavam o fluxo de vendas da loja como meio de escamotear o lucro obtido com venda das peças ilegais.
Déjà vu
A ação foi batizada de Déjà vu em alusão às diversas operações anteriores contra pseudo lojistas de autopeças do setor H Norte, em Taguatinga. A PCDF já demonstrou que a maioria das lojas de revenda de autopeças naquela região trabalha à margem da legalidade e funciona como centro de absorção de significativa parcela dos carros roubados e furtados no DF. Além de prejudicar os lojistas que trabalham dentro da lei, essas “robautos” funcionam como grandes fomentadores de ladrões de veículos.
“Este é o vigésimo primeiro estabelecimento comprovadamente na ilegalidade. Não se trata, portanto, de uma coincidência. A PCDF indiscutivelmente comprovou que o setor de revenda de autopeças usadas no DF está em absoluto descontrole e precisa de mudanças. Nós iremos fechar e prender, um a um, todos aqueles que insistem em comercializar peças sem procedência, estimulando os índices de roubos e furtos de veículos”, afirmou o delegado Erick Sallum.
Rota da seda
A primeira fase das investigações foi deflagrada em outubro do ano passado. À época, a Polícia Civil expôs esquema milionário de desmanche enraizado na capital federal há ao menos uma década. Em depoimento aos investigadores, empresários brasilienses confessaram que encomendavam peças de carros a criminosos de Campinas (SP).
Os carros eram roubados e furtados no município paulista de acordo com a demanda dos clientes, especialmente no Setor H Norte, em Taguatinga. Ao Metrópoles, o Departamento de Trânsito (Detran) admitiu que a fiscalização às lojas de autopeças não era feita na capital do país.
Interceptações telefônicas revelaram que, quando um cliente ia na loja e pedia uma peça que não tinha, os comerciantes faziam conexão com os bandidos e pediam para roubar determinado produto. Também era comum ladrões de carro do DF percorrerem essas lojas no Setor H Norte em Taguatinga oferecendo pacotes com peças de veículos furtados
delegado Erick Sallum
Confira conversas de WhatsApp que integram o inquérito policial. Nos diálogos, a negociação é feita com comerciantes do DF e fornecedores paulistas.
Ainda de acordo com Sallum, lotado na Corpatri, carros populares eram os principais alvos, pois são mais comuns no mercado. “Os criminosos não escolhiam um perfil específico de vítima, agiam por oportunidade. A obtenção dos veículos também era feita por meio de golpes de financiamentos. Compravam carros em nome de laranjas e não pagam a dívida. Outros alugavam os automóveis com nomes falsos e desmanchavam nos galpões destinados para esse fim”, completou.
Carros apreendidos com empresários:
Quatro carros desmontados por dia
De acordo com a Polícia Civil, os galpões localizados em Campinas cortavam, em média, quatro carros por dia. Os integrantes da organização criminosa tinham funções definidas. Um grupo era responsável por conseguir os veículos; outro por desmontá-los; e, após esse processo, as peças eram enviadas para Brasília, em caminhões.
Para burlar a fiscalização, os suspeitos usavam notas fiscais frias. Todos os números de identificação do chassi também eram suprimidos, impedindo que fosse possível identificar e vincular as peças transportadas a ocorrências de roubos e furtos em São Paulo (confira abaixo). A PCDF estima que a quadrilha teria enviado ao DF, nos últimos 10 anos, ao menos 2 mil carros cortados.
Investigação
Os policiais se infiltraram no comércio de autopeças do Setor H Norte em Taguatinga e, passando-se por empresários, simularam compras de lotes de peças – chamados de “pacotes” ou “kit lata”. A partir daí, conseguiram descobrir todo o esquema e chegar até os núcleos da quadrilha em SP e GO.
Segundo a PCDF, ficou comprovado que pelo menos 95% das lojas do DF estão fora da legislação vigente, que exige uma série de condicionantes para autorização de funcionamento. Os policiais constataram que, direta ou indiretamente, a grande massa de estabelecimentos da capital federal está vendendo peças de carros roubados e furtados não só no DF, como também em outros estados.