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De religiosos a idosos, golpistas fazem vítimas de extorsão após nudes

Polícia Civil do Distrito Federal registra ao menos dois casos por semana e alerta para os cuidados que devem ser tomados na web

atualizado

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JP Rodrigues/Metrópoles
golpes cibernéticos
1 de 1 golpes cibernéticos - Foto: JP Rodrigues/Metrópoles

Ao menos duas ocorrências de extorsão após envio de fotos íntimas, popularmente chamadas de nudes, são registradas por semana na Delegacia de Repressão a Crimes Virtuais (DRCC) do Distrito Federal. As vítimas têm perfis variados e vão desde religiosos a idosos.

Um dos criminosos presos pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) confessou ter criado um perfil fake, em 2012, a fim de usar as fotos enviadas a ele para seu “próprio deleite”. No entanto, a partir de 2017, começou a ver a atividade como uma forma de ganhar dinheiro.

Apesar de haver algumas variáveis, os golpes possuem o mesmo modus operandi. O autor se aproxima por meio de perfis falsos, conquista a confiança da vítima, pede fotos sensuais e, depois que acessa o material, passa a exigir dinheiro para não enviar as imagens a amigos e familiares dela.

Os investigadores da PCDF especializados em crimes cibernéticos esclarecem que os criminosos estrangeiros atuam de forma diversa da praticada por brasileiros. Geralmente baseados na Costa do Marfim e Nigéria, os golpistas internacionais se passam por altos militares dos Estados Unidos, da Irlanda e de outros países, usam fotos falsas e, em troca da preservação das imagens íntimas, exigem as transferências em dinheiro.

Já os bandidos brasileiros se infiltram em sites de bate-papo, grupos fechados em redes sociais e aplicativos de relacionamento. “Alguns agem até de forma conjunta, em casais. Atuam em grupos de sadomasoquismo, swing ou em apps conhecidos de encontro. Enviam fotos deles ou de fakes incentivando a vítima a retribuir com outras imagens”, explica o delegado-chefe da DRCC, Giancarlo Zuliani.

“Pela nossa experiência, podemos afirmar que ceder e pagar dificilmente resolve a situação. Isso faz com que o criminoso passe a cobrar ainda mais, até esgotar os recursos da vítima. O que deve ser feito, nesse caso, é sempre procurar a polícia”, alerta o policial.

JP Rodrigues/Metrópoles
A PCDF recebe dois casos de golpes cibernéticos por semana
Extorsão

No último mês, a delegacia prendeu um homem e uma mulher acusados de extorquir usuários de sites de relacionamento. Segundo as investigações, a dupla exigia pagamentos de até R$ 2 mil para não divulgar as fotos e os vídeos sensuais.

Tiago Silva Morais, 29 anos, e Deusiene Pereira da Silva, 23, usavam imagens de homens e mulheres considerados bonitos para atrair a atenção e enganar os interlocutores. “Eles tinham uma conversa muito envolvente, que acabava imediatamente após as vítimas mandarem fotos delas nuas. A partir daí, começavam as ameaças e extorsões”, diz Zuliani.

Os investigadores chegaram aos golpistas após um casal denunciar o caso. Os dois estavam combinando com a pessoa do perfil um programa a três e chegaram a mandar as fotos. Após o início da chantagem, eles resolveram procurar a polícia. Na delegacia, mantiveram as conversas com Tiago e Deusiene enquanto os agentes descobriam a localização da dupla. Os golpistas foram presos em uma casa localizada em Taguatinga Norte.

“Nós percebemos o padrão criminoso e encontramos material íntimo de várias pessoas. É preciso ter muito cuidado, porque às vezes, você acha que é um Don Juan, mas está se sendo enganado por um criminoso”, orientou o delegado. De acordo com Giancarlo, os suspeitos estavam com o aluguel prestes a vencer e planejavam se mudar do Distrito Federal para aplicar golpes em outras cidades.

A quantia levantada pelos acusados ainda é apurada. De cada vítima, segundo o investigador, eles recebiam as importâncias em contas emprestadas por laranjas. “Existia uma negociação, na qual eles iam percebendo a condição financeira de cada um. Os valores variam de R$ 800 a R$ 2 mil”, disse o delegado.

Fernando Caixeta/Metrópoles
Delegado-chefe da DRCC mostrando o site usado pelo casal preso por extorsão

 

Estupro virtual

Além de obterem vantagens financeiras, alguns criminosos exigem novo material pornográfico da vítima em troca da preservação dos arquivos. Obrigar, sob grave ameaça, a pessoa a gravar imagens se masturbando ou protagonizando cenas eróticas consiste no crime de estupro virtual.

O primeiro caso registrado no Distrito Federal, o segundo no país, aconteceu em 2017. A investigação resultou em uma operação inédita da Polícia Civil. O ponto de partida foi o registro de cinco denúncias na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) e levou à prisão de um estudante de psicologia de 23 anos. Ele foi acusado de extorsão, estupro virtual, armazenamento de conteúdo pornográfico de menores e lavagem de dinheiro.

A frieza do suspeito impressionou os investigadores. Ao ser detido, na casa onde mora com a família, em Parnamirim (RN), ele debochou dos policiais: “Vocês demoraram, hein?”, disse, ao confessar que praticava os crimes desde 2012.

O homem, que não pode ter o nome nem o rosto divulgados porque o processo corre em segredo de Justiça, se passava por mulher nas redes sociais para conquistar a amizade de adolescentes e adultos. Os perfis tinham o nome de Gabriela ou Gabi. Quando estabelecia um elo de confiança, dizia que “queria se divertir” e pedia fotos íntimas. De posse do material, revelava-se e passava a extorquir e exigir determinadas condutas sexuais das vítimas, sob a ameaça de divulgar as imagens.

Confira algumas das mensagens trocadas pelo criminoso:

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Em alguns casos, o criminoso de Parnamirim exigia valores que superavam R$ 1 mil. As vítimas ficavam abaladas e chegavam a implorar para ele cessar as chantagens. A polícia teve acesso a um dos áudios enviados por uma mulher.

Ouça:

Na casa do criminoso, os policiais recolheram mais de 10 mil arquivos contendo imagens pornográficas. “Ele nos disse que apagou os arquivos, em maio daquele ano, porque fazia isso constantemente para liberar espaço no computador”, contou a delegada Sandra Melo, da Deam.

A policial ressaltou que a investigação foi complexa, uma vez que os domínios das páginas usadas pelo estelionatário estavam hospedados em outros países. “Ele tinha bastante conhecimento na área. O dinheiro que ele conseguia das vítimas era convertido em créditos para jogos de computador. Com essas moedas digitais, ele comprava produtos e depois os revendia. Prática que se enquadra em lavagem de dinheiro”, disse.

“Temos que ter uma atenção muito grande para saber quem está do outro lado da tela. Isso serve para que ocorra um amadurecimento na nossa sociedade, porque infelizmente temos algumas pessoas que são voltadas para o crime.”

Sandra Melo, delegada da Deam
Ameaças

José Luiz da Silva Júnior, 23, foi preso pela PCDF após a denúncia de uma adolescente de 15 anos moradora de Brasília. Do Espírito Santo, o suspeito coagia, ameaçava e chantageava a vítima pela internet. Ele dizia que ia divulgar fotos sensuais ou nuas dela, caso fosse denunciado.

De acordo com as investigações, que resultaram em uma operação deflagrada no ano passado, Júnior mantinha perfis falsos de homens e mulheres. A partir da ocorrência registrada pela brasiliense, o homem foi localizado.

A adolescente contou na delegacia que estava sendo ameaçada a encaminhar fotos sensuais e despidas para o perfil denominado “Luiz Hitchcock (snow)”, por meio do Facebook. Ainda segundo ela, teria sido obrigada a se exibir, em videochamada, introduzindo objetos em suas partes íntimas, o que configura estupro virtual.

PCDF/Divulgação
Sob ameaças, vítimas eram obrigadas a escrever “Snow” em seus corpos

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