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D. Esmeralda: vidente da Asa Norte é investigada por estelionato

Apenas uma das supostas vítimas ficou no prejuízo de R$ 61 mil. O Metrópoles gravou uma consulta com a mulher, que faz previsões há 30 anos

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1 de 1 vidência - Foto: PeopleImages/Getty

Uma vidente que atua há mais de 30 anos no Distrito Federal oferecendo serviços de “limpeza espiritual”, “amarrações para o amor” e “afastamento de rival” virou alvo de inquérito policial e processos na Justiça.

Nazareth Luiz Jorge, 54 anos, que se apresenta como Dona Esmeralda, é suspeita de cometer estelionato majorado. Apenas uma das supostas vítimas ficou no prejuízo de R$ 61 mil. Nesta semana, o Metrópoles gravou uma consulta com a investigada (Confira abaixo).

Uma das vítimas mais recentes procurou a Polícia Civil para denunciar ter caído em um golpe. A mulher de 66 anos detalhou que, em abril deste ano, estava indo para um ateliê de costura quando parou para pedir informações a uma senhora. Após ser ajudada, a moradora a convidou para entrar em sua residência afirmando que “tinha visto alguma coisa” e que a idosa precisava de uma oração.

A partir daí, a aposentada diz ter sido envolvida por uma narrativa de medo e um ambiente de mistério. A vidente teria afirmado que viu algo muito perigoso e pediu para abrir as cartas de tarô.

Dona Esmeralda alegou que o filho da idosa sofreria um acidente muito grave e que traria muita dor para a família. A vidente, então, explicou que a tragédia poderia ser evitada se a “cliente” ascendesse sete velas de R$ 300 cada, totalizando R$ 2,1 mil.

Angustiada com o suposto risco que o filho estava correndo, a idosa fez o pagamento – mediante cartão de crédito. O dinheiro foi direcionado para uma loja de enxovais baseada em Osasco (SP). Após o ritual com as velas, a aposentada compareceu novamente à casa da vidente, na Asa Norte.

Esmeralda teria acrescentado que, para complementar o serviço, era necessário fazer a oferenda de um bacalhau no valor de R$ 100. Em seguida, fez uma reza, deu um algodão para a vítima e passou algumas orientações detalhadas.

Exigiu que ela ficasse com o algodão em casa, embaixo da cama. Após três dias, período estabelecido por Esmeralda, a idosa voltou a Asa Norte, pela terceira vez, e levou o algodão.

A mulher conta que a vidente colocou o material em uma bacia, fez uma reza e lavou as suas mãos com um óleo, deixando o líquido cair na bacia. Em um determinado momento, ela constatou a presença de larvas e pedaços de carne no recipiente.

Dona Esmeralda questionou sobre a idade da mulher, que respondeu: 66. A vidente, então, teria mandado voltar no dia seguinte com R$ 66 mil correspondente aos anos de vida. O valor seria usado para “fechar o corpo” da idosa. Caso contrário, o mal voltaria para a sua família.

A vidente ainda teria advertido para a aposentada não gastar nenhum valor até que fosse possível fazer o trabalho espiritual. Esmeralda detalhou que as entidades lhe informaram que a idosa tinha moedas estrangeiras e elas poderiam ser usadas para pagar o ritual.

Espírito do mal

No dia seguinte, assustada, a idosa retornou à residência da suspeita e entregou a quantia de 700 dólares e 300 euros. A vítima narra que Esmeralda achou pouco. Colocou as moedas na bacia com o algodão, as larvas mortas, o vestígio de sangue e alegou que a cliente não poderia mais ficar na própria casa, pois o mal poderia lhe atingir.

Para viabilizar a saída do suposto espírito maligno, a idosa teria que arcar com os custos de R$ 1 mil. Após esse último pedido, a mulher notou que se tratava de golpe e registrou ocorrência na 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte).

A casa onde a investigada mora foi alvo de recente busca e apreensão. No local, policiais civis do Distrito Federal encontraram recipientes com gasolina, larvas e restos de animais. As evidências foram apreendidas e integram o inquérito.

Pai Jacó

Em fevereiro deste ano, uma outra mulher, de 61 anos, amargou prejuízo ainda mais alto. Enfermeira da Asa Norte, a vítima conta que foi abordada pela suspeita em um supermercado.

Esmeralda perguntou se ela era espírita. “Estou vendo que alguém da sua família irá se suicidar”, disse. A mulher também teria acrescentado que o “mal estava atingindo a família” da enfermeira.

A investigada disse que poderia ajudá-la. Não cobraria e que, se ela quisesse, poderia levar apenas uma cesta básica para doar a uma instituição de caridade. A vítima aceitou o convite e foi até a residência da vidente.

A enfermeira narra que, quando chegou ao local, Esmeralda falou: “Vou ter que fazer um trabalho. Estou cobrando R$ 3,5 mil para comprar as velas e você precisa fazer isso hoje”. Diante das informações, a mulher informou que ia embora, mas acabou sendo convencida a fazer a limpeza espiritual.

Foi ao banco, sacou a quantia, passou na farmácia e comprou um algodão. Ela foi orientada a dormir com o item por três dias. Após esse período, voltou para uma nova consulta. A vidente teria mostrado larvas e sangue no algodão.

A vítima detalha que Esmeralda aparentou incorporar um espírito e pediu para ela fazer uma oração com a mão na cabeça. A vidente perguntou a idade da enfermeira.

Ao responder que era 61 anos, obteve a informação de que a vidente havia conversado com um espírito denominado “pai Jacó” e ele havia lhe dito para a enfermeira arrumar R$ 61 mil em dinheiro vivo para a continuação do trabalho.

Após o pedido, a vítima pegou um empréstimo de R$ 60 mil, realizou dois saques nos valores de R$ 30 mil cada, além de pegar algumas notas em dólar e entregou a Esmeralda.

A vidente orientou para que ela levasse todo o dinheiro que tivesse em casa. A investigada colocou as notas na mesa, incorporou “pai Jacó” novamente e disse, conforme o espírito, que o dinheiro era amaldiçoado e deveria ser queimado.

Em seguida, colocou as notas dentro de um balde e jogou um líquido. A vidente acrescentou que o “pai Jacó” estaria pedindo mais R$ 51 mil por causa dos anos de idade de Esmeralda. Diante da nova quantia, a mulher desconfiou e procurou a polícia. O caso tramita em segredo de Justiça na 4ª Vara Criminal de Brasília como estelionato majorado.

Consulta ao Metrópoles

Na segunda-feira (25/11/2019), o Metrópoles teve uma consulta com Dona Esmeralda. Os atendimentos são feitos na própria casa da suspeita, com data e hora agendadas. Ela orienta para que os clientes entrem pelos fundos da residência. Faz diversas perguntas pessoais como profissão, cidade onde a pessoa mora e como está o relacionamento conjugal. Segundo Esmeralda, informações que podem ser úteis nas previsões.

Inicialmente, ela cobrou R$ 70 pela “limpeza espiritual”, mas, quando a reportagem chegou ao local, informou que seria aconselhável fazer o “trabalho completo”. O preço subiu para R$ 80 reais, referente a uma “consulta geral” recomendada “para quem tem problemas”.

Aos fazer as supostas previsões, a vidente disse ter verificado que faltava sossego e paz espiritual na vida do jornalista. Em um determinado momento, ela afirma que o repórter tem um “espírito de luz”, mas que está sendo perseguido por uma pessoa com muita inveja e maldade.

“O seu nome está acorrentado em uma mesa de trabalho. O ano de 2020 pode ser o melhor da sua vida, mas o seu nome e o da sua esposa estão amarrados”. Ela orienta a quebra de tal corrente e a limpeza espiritual para tirar a inveja.

Então, sem saber que estava sendo gravada, Esmeralda receita sete banhos. “O meu trabalho eu não cobro, mas cada banho desse custa R$ 350. São feitos com sete tipos de água, sete tipos de plantas. Você tem que fazer isso rápido porque essa ‘demanda’ está te trazendo até problemas de saúde. A roda da fortuna está nas suas mãos, mas ou você quebra essa demanda ou ela te quebra”, alegou a vidente.

Esmeralda prevê ainda que o casamento do jornalista está “frio” e recomendou que a esposa dele também tome os sete banhos. O custo total: R$ 4,9 mil.

Compra de fogão

O Metrópoles localizou, ainda, mais duas possíveis vítimas de Nazareth Luiz Jorge. Uma moradora de Brazlândia pagou R$ 50 em uma consulta. A mulher recebeu a informação, proveniente de um suposto espírito, que precisava ofertar R$ 2,4 mil para desfazer um “trabalho de magia negra” feito em seu nome e que estaria prejudicando a vida da vítima.

A mulher, que já havia pago R$ 900, fruto de um empréstimo, alegou que não tinha condições de desembolsar mais dinheiro. Esmeralda, então, teria afirmado que “tudo estava contra ela e que a quantia deveria ser providenciada de qualquer maneira”. A vidente sugeriu que o valor fosse pago em forma de compras.

A vítima, então, foi a uma loja e adquiriu um fogão coifa no valor de R$ 945, dividido em cinco parcelas. Após o pagamento, a vidente alegou que a “maldição” foi desfeita e que em três dias a mulher poderia ver os resultados. Após tentar reaver o fogão, a vítima percebeu que poderia ser um golpe e registrou ocorrência na 18ª DP (Brazlândia).

Outra denunciante alegou que pagou mais de R$ 1 mil para a realização de trabalhos espirituais e passou a ser cobrada para pagar valores cada vez mais altos. O caso também foi formalizado na delegacia de polícia.

O outro lado

No primeiro caso narrado pela reportagem, o promotor do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) Valmir Soares Santos, responsável pela ação penal, representou pelo arquivamento. Ele alegou que, nesse caso específico, não foi possível constatar o crime e que “tantas outras crenças arrecadam valores de seus fiéis, com ou sem promessas de proveitos daí decorrentes”.

No entanto, a juíza Francisca Danielle Vieira Rolim Mesquita, da 8ª Vara Criminal de Brasília, afirmou na decisão que o caso poderá ser desarquivado se surgirem novas provas.

Procurada novamente pela reportagem para se manifestar sobre as denúncias, Nazareth Luiz Jorge não atendeu mais as ligações da equipe. O espaço segue aberto a possíveis manifestações da investigada.

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