Caso Marinésio: PCDF muda local para o reconhecimento das vítimas
Duas mulheres que foram estupradas irão à 6ª DP a fim de identificar o carro, bem como ao DPE para reconhecer o maníaco
atualizado
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As duas vítimas que disseram ter sido atacadas por Marinésio Olinto, 41 anos, em 2017 e 2018, após serem obrigadas por ele a embarcar num carro vermelho, farão o reconhecimento do veículo e do maníaco, sob forte esquema de segurança, nesta quinta-feira (05/09/2019). As identificações estavam marcadas para as 13h, na 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), mas novo esquema definido pela Polícia Civil separou as ações.
Assim, as duas mulheres – de 17 e 46 anos – irão à 6ª DP para verificar se o carro vermelho – que pertence ao irmão de Marinésio – era o mesmo usado no dia dos estupros atribuídos a ele. O reconhecimento do maníaco ocorrerá no Departamento de Polícia Especializada (DPE), onde há controle no acesso de quem entra e sai, o que evitaria a presença de populares.
As denunciantes já identificaram, por meio de imagens na imprensa, o assassino de Letícia Curado, 26, e de Genir Pereira, 47, como sendo o autor da violência sexual praticada contra elas. O relato das duas é idêntico em vários aspectos. Ambas citaram o carro vermelho e disseram ter sido levadas para uma área de pinheiros no Paranoá e estupradas no mencionado local.
Há expectativa de que os laudos cadavéricos sobre a morte de Letícia fiquem prontos ainda nesta semana. Os investigadores terão acesso aos exames do carro e do lugar onde o corpo da vítima foi encontrado. Um dos documentos indicará se a funcionária do Ministério da Educação sofreu violência sexual. Os resultados vão definir o indiciamento e os crimes a que o maníaco responderá em relação à morte da jovem, que também era advogada.
Nos casos referentes à colaboradora do MEC e à diarista Genir Pereira de Sousa, 47, em 2 de junho, o homem é assassino confesso. Porém, outras 17 mulheres podem ter sido vítimas do cozinheiro.
As denúncias contra Marinésio cresceram depois de sua prisão e de os investigadores da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) descobrirem que o criminoso usava outros carros, além da Blazer prata encontrada dois dias após o desaparecimento de Letícia: um Fiat Palio vermelho e um VW Gol preto.
Na Blazer, os agentes encontraram pertences de Letícia Curado. Em um primeiro momento, Marinésio negou o crime. Disse ter comprado de terceiros o celular da advogada – o aparelho estava no banco de trás do veículo. Porém, no porta-luvas, havia uma bolsa com fichário e material escolar, além de um relógio – objetos pessoais da vítima. Em 26 de agosto, três dias após a jovem desaparecer, o corpo dela foi encontrado.
Desde então, a lista de acusações contra Marinésio inclui assassinato, estupro e assédio sexual. Entre as semelhanças que o colocam como suspeito dos casos, está o modus operandi adotado por ele. Aos investigadores da PCDF, o maníaco revelou que tinha o hábito de pegar o carro nos dias de folga e circular pelo DF atrás de mulheres.
Contou ainda que costumava abordar aquelas que estavam sozinhas em paradas de ônibus. Na versão dada aos policiais, o homem ressaltou que era praxe oferecer carona de Planaltina para a Rodoviária do Plano Piloto e, no trajeto, assediar as vítimas. Morador do Vale do Amanhecer, atualmente está detido no DPE.
Confira a lista de casos em que Marinésio dos Santos Olinto é suspeito:
1) Letícia de Sousa Curado – Desaparecida após sair para o trabalho, em 23 de agosto de 2019, a advogada e funcionária terceirizada do Ministério da Educação (MEC) foi encontrada morta três dias depois. Seu cadáver estava dentro de uma manilha perto da fábrica de sementes Pioneer, na DF-250, na região de Planaltina, onde ela morava. Em depoimento, o cozinheiro assumiu o crime e disse ter matado a jovem enforcada. Letícia tinha 26 anos;
2) Genir Pereira de Sousa – Desaparecida em 2 de junho deste ano, após sair do trabalho. Foi encontrada morta 10 dias depois. Empregada doméstica, a vítima de 47 anos foi vista, momentos antes de desaparecer, caminhando até parada de ônibus no Paranoá. Câmeras de segurança flagraram o carro de Marinésio rondando Genir no dia do desaparecimento;
3) Gisvania Pereira dos Santos Silva, 34 anos – Ela foi filmada pela última vez às 4h40 do dia 6 de outubro de 2018 por câmeras de segurança de um posto de gasolina em Sobradinho, região onde morava com os pais e a filha, de 15 anos. No vídeo, Gisvania estava acompanhada de um homem. Ele foi identificado à época, mas a polícia descartou a participação dele no sumiço da mulher, pois ela saiu sozinha do posto;
4) Irmãs atacadas – As vítimas, de 18 e 21 anos, contaram ter fugido de Marinésio um dia depois de ele ter matado Letícia, em Planaltina. Segundo o relato, elas foram atacadas pelo maníaco no dia 24 de agosto, na Rodoviária de Planaltina, menos de 24 horas após o assassinato de Letícia. No trajeto, o suspeito teria assediado as jovens, que conseguiram fugir após uma delas pegar uma panela que estava no banco de trás e ameaçar quebrar o carro dele;
5) Adolescente de 17 anos – Jovem diz ter sido estuprada, abandonada e chamada de “lixo”. Ela também foi abordada pelo cozinheiro em parada de ônibus. Para que entrasse no carro, o maníaco a ameaçou de morte com uma faca. A vítima foi levada à região de pinheirais, no Paranoá, onde foi abusada pelo suspeito. A adolescente foi a primeira a denunciar que Marinésio usava carro diferente da Blazer prata apreendida;
6) Moradora do Paranoá, de 42 anos – Segundo a vítima, que pediu para não ter o nome divulgado, ela chegou a tentar o suicídio duas vezes devido ao trauma causado pela violência sofrida: afirma ter sido estuprada e espancada. A vítima parou de trabalhar e fez acompanhamento psiquiátrico. Hoje, tem depressão e síndrome do pânico. O caso ocorreu em 2017. Naquele ano, Marinésio teria ameaçado a mulher de morte após ela tentar escapar do veículo do algoz. Aos investigadores, a vítima relatou que o maníaco estava em um carro vermelho;
7) Lays Dias Gomes, 25 anos – Desapareceu no dia 7 de julho de 2018, após sair de casa rumo a uma parada de ônibus, em Samambaia. A única notícia que a família recebeu sobre Lays foi a de que a jovem trabalhava como garota de programa em movimentado ponto de prostituição de Taguatinga.
Quando tomou conhecimento do fato, Léia Vieira, a prima, chegou a ir até o local conversar com colegas da desaparecida, mas nenhuma informação que a levasse à prima foi encontrada. Ocorre, no entanto, que as garotas de programa com quem a desaparecida dividia ponto reconheceram Marinésio com sendo um frequentador assíduo do local;
8) Vítima desaparecida no Paranoá – Caso de 2014 foi reaberto após semelhanças com modo de agir de Marinésio. A polícia não divulgou o nome nem mais informações;
9) Vítima desaparecida em Sobradinho – Essa ocorrência, entre 2014 e 2015, foi reaberta agora após semelhanças com o modus operandi de Marinésio. O nome da vítima não foi divulgado pela polícia;
10) Babá moradora da Fercal – Antonia Rosa Rodrigues Amaro desapareceu há um ano e meio após ter se dirigido a uma parada de ônibus. Ela era babá em uma casa do Lago Sul. A Polícia Civil do DF acredita que o cozinheiro tenha envolvimento com o sumiço dela;
11) Mulher de 23 anos – Segundo o depoimento da vítima, Marinésio a abordou na Rodoviária do Plano Piloto e se apresentou como motorista de transporte pirata – chamados de “loteiros”. A jovem revelou que iria ao Vale do Amanhecer, e o suspeito disse que o local era um dos pontos de sua rota. No meio do caminho, de acordo com a vítima, o suspeito a teria assediado e colocado a mão na perna esquerda da jovem. Para fugir, ela pulou do carro em movimento;
12) Marília de Lurdes Ferreira – Desaparecida em agosto de 2012, ela foi achada morta um mês depois, na linha férrea dos arredores do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). De acordo com familiares, Marília desapareceu após deixar o local de trabalho em direção a uma parada de ônibus para pegar transporte até agência da Caixa Econômica Federal, mas nunca chegou ao destino. A família acredita que ela tenha sido sequestrada por um motorista de transporte pirata;
13) Caroline Macêdo Santos – A adolescente de 15 anos foi encontrada morta no Lago Paranoá em maio do ano passado. A jovem era amiga da filha de Marinésio dos Santos Olinto e morava a 800 metros da casa do cozinheiro, no Vale do Amanhecer. Caso foi reaberto após prisão do maníaco;
14) Fabiana Santa Alves, 27 anos – Trabalhava como garçonete em um estabelecimento na Estrutural e teria sido deixada pelo namorado dentro de um ônibus rumo ao Paranoá. Após o desaparecimento, em 2013, a família passou a desconfiar do rapaz, mas nunca teve retorno da Divisão de Repressão a Sequestro (DRS), onde o inquérito segue em aberto;
15) Moradora de Planaltina de 50 anos – Disse ter sido abordada pelo cozinheiro quando ia até uma parada de ônibus na Rua Piauí, na mesma região administrativa. Recorda-se que o homem passou com a Blazer prata gritando: “Rodoviária do Plano Piloto”. Por se tratar de um local onde o transporte é deficitário, resolveu embarcar no carro do cozinheiro.
A mulher conta que, quando se aproximaram de alguns pés de eucalipto na estrada, o motorista desviou. Neste momento, o carro foi parado por policiais. Marinésio disse que ela era uma prostituta e os policiais acreditaram na história contada pelo agressor, que decidiu abandoná-la no local;
16) Confeiteira de 39 anos – Foi abordada pelo homem quando procurava transporte para sair de Sobradinho e chegar a Planaltina. De acordo com o relato, após embarcar na Blazer prata de Marinésio, ele começou a assediá-la. Após o suspeito ter dito a ela que os dois iam ficar juntos, a vítima fingiu concordar até que Marinésio parasse o carro. Quando ele parou, próximo ao Polo de Cinema, em Sobradinho, em uma região deserta, a mulher afirma que saiu correndo e conseguiu escapar. Com medo, chegou a se mudar do DF para fugir do homem;
17) Janaína Dias Lopes, 25 anos – Diz ter sido atacada pelo suspeito em 2015, próximo à parada de ônibus do Hospital Regional de Planaltina (HRP). O maníaco, segundo conta, usou uma faca para a obrigar a entrar em seu carro. Ele teria dirigido até matagal nos arredores, onde tentou estuprá-la e a enforcou. A vítima fingiu-se de morta para se livrar do suspeito;
18) Empregada doméstica de 46 anos – Coincidindo com depoimentos de mais duas mulheres, a vítima, que pediu para não ser identificada, afirmou que o maníaco usava um carro vermelho quando ofereceu carona para ela, no dia 14 de abril deste ano. Ainda de acordo com a mulher, ela só escapou porque fingiu ser uma ex-presidiária da Colmeia, na Papuda;
19) Jovem de 21 anos – Conta que foi abordada pelo maníaco quando ele estava em um Gol preto. O depoimento bate com a informação dada pelo irmão do assassino confesso. A estudante, que pediu para não ter o nome revelado, procurou inicialmente outra delegacia do DF para fazer a denúncia, mas foi encaminhada para a unidade de Planaltina (31ª DP), onde contou aos policiais sobre o caso de assédio que relata ter sofrido em novembro de 2017.