Briguei, peguei meu carro e passei por cima
Intolerância nas ruas do DF. Em sete dias, três brasilienses envolvidos em brigas usaram veículos para tentar matar desafetos
atualizado
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Veículos têm se tornado arma nas mãos de agressores para resolver brigas e conflitos nas ruas. Na capital, em três dias desta semana, foram registrados pelo menos três tentativas de homicídio por atropelamento. Uma vítima permanece em estado grave.
A combinação explosiva de intolerância e álcool resultou na internação de Rafliu Ribeiro dos Santos, 30 anos, que está em coma no Hospital Regional de Ceilândia (HRC). Depois de uma briga generalizada em um bar do setor P Sul da cidade, Bruno de Souza Lima, 20 anos, saiu do estabelecimento, pegou seu carro e decidiu passar por cima do outro rapaz. O crime – por enquanto, tentativa de homicídio – aconteceu na segunda-feira (12/6).
De acordo com Fonseca, o consumo de álcool e/ou de entorpecentes funciona como combustível para esse tipo de ocorrência. “O uso acaba por intensificar as agressões. Os casos de atropelamento para resolver brigas não são tão comuns e por isso têm deixado em choque quem trabalha no trânsito. Acendemos o sinal de alerta”, ressalta.“É toda uma armadura contra um simples corpo. Geralmente, as consequências são graves e a situação preocupa, sim. Usar o carro em uma situação de conflito é muito prejudicial.”
Silvain Barbosa Fonseca Filho, diretor-geral interino do Detran-DF
Esse tipo de ocorrência ainda não aparece nas estatísticas da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF). Elas acabam diluídas entre os números de homicídio, tentativa de homicídio, agressão ou acidentes de trânsito, isso quando há registro oficial.
Banalização da violência
Para a especialista em Segurança Pública e professora da Universidade Católica de Brasília Marcelle Figueira, esses casos são consequência da banalização da violência.
“É só mais uma dinâmica de violência igual a todas as outras. A pessoa poderia estar usando uma arma ou uma faca. É uma resolução violenta de conflito. A lógica é a mesma, só mudam os instrumentos”, pondera. “Fazem uso de um recurso para impossibilitar a defesa do outro e solucionar violentamente aquele conflito no qual se envolveram”, reforça.
Brutalidade nas ruas
Enquanto Rafliu Ribeiro dos Santos luta para sobreviver, o responsável por mandá-lo para um leito hospitalar segue preso. Bruno de Souza Lima terá que responder por tentativa de homicídio e poderá pegar de 10 a 20 anos de cadeia. Se a vítima vier a falecer, um risco ainda não descartado, o agressor pode ter a pena aumentada em um terço (20 a 30 anos).
Dois dias antes (10/6), outra briga em bar, na QNM 34 de Taguatinga, também terminou em atropelamento. Zyldone das Graças Pinheiro Damaceno Filho, 35 anos, foi preso em flagrante pela Polícia Militar pouco depois de passar por cima de duas pessoas com seu veículo e fugir do local.
Na mesma noite, a alguns quilômetros dali, no Pistão Sul de Taguatinga, um homem jogou o carro em cima de uma jovem de 17 anos, após confusão na área externa da boate Capella Lounge Bar. A vítima sofreu ferimentos nos pés e foi atendida pelo Corpo de Bombeiros. Do atropelador, não há notícias.
Naquele mesmo sábado, em Manaus (AM), um homem de 33 anos atropelou sua esposa e o amante dela após descobrir a traição. O caso extraconjugal só foi descoberto pelo marido após ele utilizar um rastreador de celular. O homem, então, seguiu a mulher e o amante até um motel e esperou que o casal saísse. Assim que os viu, acelerou o carro e os atropelou.
Em 29 de abril, esse tipo de brutalidade resultou em duplo homicídio nos Jardins Mangueiral. A tragédia ocorreu após confusão em uma festa. Fernando Salvador Souza Rodrigues, 18 anos, teria pegado escondido o carro de uma das vítimas e jogado o veículo sobre Daniel Barreto Batista, 28 anos, e Douglas Araújo Santos, 21 anos. Os dois rapazes estavam sentados no canteiro central da via de acesso ao bairro quando foram atingidos. Eles morreram no local.
Lesões múltiplas
Os ferimentos causados por esse tipo de crime variam de acordo com o tipo de choque, o tamanho do veículo, a distância entre o carro e a vítima, além da velocidade no momento do atropelamento. Ao ser atingida, a vítima pode ter desde fraturas nos membros inferiores, escoriações e queimaduras até fraturas no tórax e crânio.
“O formato é como o de um atropelamento e tem o mesmo resultado. A orientação para quem for pedir o socorro é acionar o 193 e tentar resguardar o local, preservando a vítima”, aconselha Robson Martins, sargento do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF).