Briga de PMs por disputa de terreno acaba em assassinato no Lago Norte
O autor do disparo se apresentou em seguida na 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), entregou a arma e foi preso por homicídio
atualizado
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Uma discussão entre dois policiais militares do Distrito Federal sobre a posse de um terreno na MI 10, no Lago Norte, na chácara Vale dos Ipês, acabou com a morte do sargento Raimundo Ribeiro dos Santos Muller, atingido no peito por um tiro. O crime ocorreu na manhã desta terça-feira (1º/8), por volta das 6h.
Quatro horas após o crime, o autor do disparo, o subtenente reformado Osvaldo Arcanjo de Souza, se apresentou na 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), acompanhado de um advogado. Ele alegou legítima defesa, mas foi preso em flagrante por homicídio e entregou a arma utilizada no crime (um revólver .38, particular). Familiares do PM morto, que estava desarmado, também passaram o dia na delegacia (foto em destaque).
Osvaldo e Raimundo eram vizinhos e, em 2015, entraram em desavença por conta de uma alteração nos limites do terreno, supostamente promovida pela vítima. Familiares de Raimundo contaram que os PMs travaram uma batalha na Justiça há cerca de dois anos. De lá para cá, os dois militares tiveram outros atritos, até que, nesta terça (1º), Osvaldo matou Raimundo.
A vítima, lotada no Colégio Militar Tiradentes, chegou a ser socorrida com vida, em estado gravíssimo, e levada ao Hospital Regional do Paranoá (HRPa). Porém, não resistiu aos ferimentos.
Ao Metrópoles, o filho de Raimundo, Camilo Yago Ribeiro dos Santos, disse que na manhã desta terça (1º) a família ouviu um barulho no portão e o sargento saiu para saber do que se tratava. “Depois que ele saiu de casa, só ouvimos um barulho semelhante a tiro. Saímos e vimos o meu pai deitado de bruços em um poça de sangue”, contou.
Ainda de acordo com ele, o subtenente teria ficado parado, olhando o outro PM ferido. Segundo o jovem, o pai saiu desarmado de casa e não teria motivos para ser assassinado.
Confira abaixo o desabafo de Camilo:
Para a cunhada da vítima, a policial militar Cinara dos Santos Nóbrega, 49 anos, o homicídio foi premeditado. “Ele [o autor] armou o crime. Onde já se viu um colega de farda que deveria nos proteger matar o outro dessa maneira? Raimundo estava desarmado. Só espero que [o assassino] viva muito e se lembre sempre da barbaridade de cometeu contra um inocente”, afirmou.
O outro lado
De acordo com o delegado chefe da 6ª DP, Érico Vinicius Mendes, o autor do disparo estava calmo e tranquilo quando se apresentou à polícia. O subtenente Osvaldo alegou legítima defesa, afirmando que ficou preocupado quando a vítima colocou a mão na cintura: Raimundo teria pego apenas o celular, mas o militar aposentado sacou seu revólver e disparou contra o vizinho.
Segundo o advogado Jonas Ramalho, que assumiu a defesa de Osvaldo Arcanjo de Souza, os fatos que resultaram no homicídio tiveram início meia hora antes do crime. “Por volta das 5h30, o Osvaldo estava lavando o rosto quando ouviu um barulho na cerca e notou que tinha uma pessoa vindo em sua direção. Ele perguntou quem era e pediu que se retirasse, mas a pessoa continuou”, detalhou Jonas.
Na sequência, Osvaldo teria sacado seu revólver. “Raimundo, então, chegou mais perto e disse: se você vai atirar, atira logo, senão eu quebro ela na sua cara. A partir de então os dois começaram a brigar e, em um certo momento, Arcanjo, com medo, pensou que Raimundo iria atirar e disparou uma única vez contra o vizinho”, acrescentou.
Ao contrário do que foi dito pelos familiares da vítima, o advogado garante que o pedido de socorro feito aos bombeiros, às 5h53, partiu de seu cliente. “Ele tinha medo, achou que morreria. Está totalmente arrependido e chora muito”, afirmou. “Meu cliente não tinha intenção de matar, foi um tiro de proteção. Não há ameaças a ninguém da família de Raimundo e ele tentou, sim, ajudar a vitima, chamando os bombeiros”, finalizou.
Até o final desta tarde, a equipe da 6ª DP já tinha colhido depoimentos de testemunhas, familiares da vítima, filho do autor, policiais que atenderam a ocorrência e do assassino confesso.
A Polícia Militar informou, por meio de nota, “que o fato será apurado pela Corregedoria e, por ser um crime comum, também será analisado pela Justiça comum”. A Corregedoria, inclusive, já teria conhecimento prévio da briga entre os vizinhos militares, segundo afirmou o delegado Érico Vinicius Mendes, chefe da delegacia.