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Novo golpe do cartão de crédito. Cuidado, você pode ser enganado

Estelionatários fazem vítimas acreditarem que o cartão foi clonado. Depois, as convencem a cortá-lo e entregá-lo com o chip intacto

atualizado

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Giovanna Bembom/Metrópoles
golpe do cartão de crédito
1 de 1 golpe do cartão de crédito - Foto: Giovanna Bembom/Metrópoles

Aposentados de alto poder aquisitivo de todo o Brasil se tornaram alvo de uma nova modalidade de golpe aplicada por criminosos envolvendo cartões de crédito. Em Brasília, os bandidos têm agido principalmente no Plano Piloto. O Metrópoles conversou com quatro vítimas que tiveram prejuízo total superior a R$ 33 mil, apenas em abril. Em uma das ocorrências, os estelionatários gastaram R$ 18 mil em lojas da cidade.

A fraude funciona da seguinte forma: de posse dos dados pessoais das vítimas, um criminoso entra em contato e se identifica como funcionário da central de segurança dos cartões. O golpista, então, informa que foi identificada uma compra não usual com o cartão do cliente.

Ao dizer que não realizou a compra, a vítima é orientada a seguir instruções de segurança, que consistem em digitar a senha do cartão no teclado do telefone, cortá-lo sem danificar o chip e escrever uma carta de próprio punho negando a suposta compra.

Os estelionatários asseguram que o cartão está cancelado e dizem que outro será enviado em breve. A audácia vem em seguida: a vítima é informada que um agente de segurança da operadora passará na casa dela para recolher o envelope com o cartão cortado e a carta escrita pelo cliente.

Sem desconfiar que está sendo enganado, o cliente entrega o chip intacto. Dessa forma, os bandidos o instalam em outro cartão, que é utilizado em compras, serviços, saques e empréstimos.

Segundo a investigação, os integrantes da quadrilha eram treinados para falar exatamente como os atendentes de telemarketing. O golpe era pensado nos mínimos detalhes para convencer as vítimas. Havia até música de espera nos telefonemas.

Ouça a ação de um golpista em uma gravação obtida pela polícia. O bandido, que conversa com uma mulher de Porto Alegre, é muito convincente

 

“Nem desconfiei”
Uma aposentada de 68 anos que pediu para não ser identificada afirmou à reportagem que o suposto funcionário informou todos os seus dados pessoais. “Sabiam o meu nome completo, endereço e CPF. Nem desconfiei de que se tratava de um golpe, porque eles foram convincentes”, lembrou.

A moradora da Asa Norte diz que só se deu conta do crime após verificar um débito de R$ 18 mil na fatura do cartão de crédito.

“Trabalhei 36 anos para ter uma renda e tranquilidade ao me aposentar. Agora estou no prejuízo. Depois que cancelei o cartão ainda me ligaram novamente, tentando aplicar o mesmo golpe. Fiquei tão nervosa que estou tomando remédio para ansiedade. Eles sabem onde eu moro, roubaram meu dinheiro.”

Vítima da quadrilha

Câmeras de segurança do prédio da aposentada registraram o momento em que um homem foi buscar o envelope com o cartão cortado e o chip na casa da vítima. O falso funcionário chegou por volta das 16h30 e se apresentou como Guilherme Carvalho. Ele estava com um capacete e forneceu até mesmo o número de um protocolo para a cliente. As gravações já estão com a Polícia Civil, que investiga o caso.

Veja vídeo do criminoso que, em 12 de abril, se apresentou como Guilherme Carvalho e pegou o cartão de uma vítima. O suspeito está de camiseta branca sentado no banco ao fundo

 

Também em abril, ao menos outros três moradores de Brasília caíram no golpe. Uma mulher ficou com dívida de R$ 6,8 mil. Desse total, R$ 6 mil foram gastos em um pet shop. O homem que foi buscar o cartão na casa da vítima também se apresentou como Guilherme Carvalho.

Outra vítima teve prejuízo de R$ 8,9 mil no cartão de crédito após seguir as recomendações dos estelionatários. Uma quarta pessoa enganada perdeu cerca de R$ 1,3 mil, pois percebeu a fraude e conseguiu cancelar o cartão antes de que os criminosos fizessem novos gastos.

Todas as pessoas enganadas foram orientadas a escrever uma carta informando que o cartão havia sido clonado e não reconheciam as transações bancárias. Um homem foi até a residência delas e levou os respectivos cartões, cortados, mas com o chip intacto.

Crime organizado
No começo de maio, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul fez uma operação para desarticular a quadrilha que aplicava o golpe no país. Batizada de Privilege, a ação mirou nos crimes de estelionato e lavagem de dinheiro. Oito pessoas envolvidas no esquema fraudulento foram presas durante o cumprimento de 22 mandados judiciais no Rio Grande do Sul e em São Paulo.

Em cinco meses de apuração, foi confirmado que o grupo possuía um núcleo em São Paulo, local de onde eram realizadas as ligações para as vítimas de várias regiões do país. Os integrantes do grupo deslocavam-se de São Paulo a Porto Alegre para realizar compras e saques. Na capital gaúcha, foram identificados e presos o responsável pela logística do golpe na cidade e a pessoa designada a repassar ao grupo as informações e dados privilegiados das vítimas.

Conexão RS-DF
As fraudes praticadas em Brasília podem ter partido do mesmo grupo, acredita o delegado responsável pela investigação, Hilton Müller. “Quem desenvolveu esse golpe, há dois anos, foi Danilo Vinícius da Silva Rosário, 29 anos. Ele mora em São Paulo e está com prisão preventiva decretada”, afirmou Müller ao Metrópoles. “O perfil das vítimas também é o mesmo em todo o Brasil”, completou.

Ainda de acordo com a Polícia Civil, Danilo chegava a oferecer uma espécie de franquia criminosa em todo o país, comercializando a tecnologia que desenvolveu. Pelo “produto”, ele cobrava um percentual do valor roubado de cada vítima. Os crimes rendiam altos valores para a quadrilha. Só em Porto Alegre, o lucro estimado do bando ficou em cerca de R$ 500 mil, roubados de um total de 29 vítimas.

Os criminosos chegaram a fazer um vídeo debochando dos “clientes”. Confira:

Atenção!
As vítimas de estelionato devem entrar em contato com o banco, para que o cartão seja bloqueado e não haja mais danos, e registrar a ocorrência na Polícia Civil. A notificação pode ser feita em qualquer delegacia, ou na internet.

O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) destaca que qualquer movimentação realizada depois da clonagem de um cartão de crédito ou cheque é de inteira responsabilidade do banco.
Se o caso não for solucionado, a vítima pode recorrer ao Instituto de Defesa do Consumidor (Procon) ou entrar com uma ação no Juizado Especial Cível.

Quem tiver informações sobre os golpistas pode entrar em contato com os investigadores da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) por meio dos seguintes números: (61) 3207-6334 ou (61) 3207-6331

Dicas
•    Não use senhas óbvias, como datas de nascimento de parentes próximos
•    Troque as senhas periodicamente
•    Não confie em mensagens eletrônicas e telefonemas que pedem sua senha. Bancos e operadoras de cartão não solicitam essas informações por e-mail
•    Antes de digitar a senha, verifique se o valor da compra foi digitado na máquina de cartão
•    Confira frequentemente o extrato bancário
•    Não perca o cartão de vista ao fazer compras em lojas físicas
•    Procure buscar o cartão na agência em vez de pedir que seja entregue em casa
•    Verifique se o antivírus do computador está atualizado antes de comprar pela internet. Ele impede a invasão de hackers que podem roubar dados bancários

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