Boletins de ocorrência feitos por PMs motivam briga dentro da PCDF
Em áudios que circularam no fim de semana, ex-dirigente sindical critica a atual gestão por não participar de reunião de Rollemberg com as forças de segurança. No encontro, foi discutida a implantação dos termos circunstanciados de ocorrência. Sinpol reage e ameaça acionar a Justiça
atualizado
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A controversa prerrogativa de policiais militares registrarem boletins de ocorrência voltou a acirrar os ânimos da Polícia Civil. Desta vez, no entanto, a confusão não é entre as categorias: a briga é dentro da própria Civil.
Neste fim de semana, áudios que circularam em grupos de WhatsApp colocaram em rota de colisão o chefe de gabinete do deputado distrital Wellington Luiz (PMDB), André Rizzo, e o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol-DF), Rodrigo Fernandes Franco, o Gaúcho. Rizzo, que é servidor aposentado da corporação e já foi dirigente do Sinpol-DF, acusa Gaúcho de apoiar medidas que desvalorizam o órgão. O exemplo citado é justamente a possibilidade de PMs registrarem termos circunstanciados de ocorrência (TCOs).“Esses caras querem destruir a Polícia Civil, querem acabar com a Polícia Civil. O TCO representa pelo menos 75% a 80% da atividade de uma delegacia”, reclama Rizzo. Ele acusa o atual diretor do Sinpol, o Gaúcho, de apoiar a mudança nas regras, o que o policial aposentado considera uma “palhaçada”. Ele também chama o dirigente sindical de “irresponsável”.
O estopim para a confusão foi a reunião da última quinta-feira (17/6) entre o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) e representantes das forças de segurança e do Poder Judiciário, para tratar da gestão estratégica da área. A pauta do encontro foi a implementação do TCO no Distrito Federal, mas não havia representantes do Sinpol, o que irritou Rizzo.
Nos áudios que circulam na internet, Rizzo critica a Secretaria de Segurança Pública e as entidades ligadas à PM e à Polícia Federal que apoiam o TCO. As declarações dele motivaram o sindicato a publicar nota de repúdio.
No documento, a entidade acusa Rizzo de “plantar dúvidas e confusão no seio da categoria” e diz que “o Sinpol chegou a ser convidado para a reunião, que tratava sobre o ciclo completo e o registro de TCOs. Como a categoria ainda não deliberou a respeito do assunto, a diretoria entendeu por bem não participar do encontro”. O sindicato afirma ainda que “tomará todas as medidas administrativas e judiciais cabíveis” contra as acusações de André Rizzo.
Indefinição
Ao Metrópoles, Gaúcho disse que o sindicato foi convidado para o encontro a meia hora do início e preferiu não participar porque o ato poderia ser interpretado como um apoio da categoria à implementação do TCO. “Nós ainda não decidimos o posicionamento sobre esse tema. O assunto será votado em assembleia nos próximos dias”, afirmou o presidente do Sinpol-DF.
Com relação aos áudios de Rizzo, Gaúcho completou: “Só posso lamentar esse tipo de posicionamento. Iremos registrar ocorrência a respeito das ofensas dirigidas aos diretores do sindicato”.
Já o deputado distrital Wellington Luiz (PMDB) saiu em defesa de Rizzo e afirmou que a situação é “extremamente temerária”. “Uma reunião para tratar desse assunto que ocorre sem a participação da Polícia Civil, sem o diretor-geral, sindicatos ou representantes políticos, me causa extrema estranheza. Parece que está tudo sendo decidido na escuridão”, disse o parlamentar, que foi presidente do Sinpol-DF por 12 anos. “A Polícia Militar tem um papel importante, que é o de policiamento ostensivo. O governo deveria concentrar esforços nisso, porque mais importante do que elucidar um crime é preveni-lo”, acrescentou.
Com relação aos áudios de Rizzo, Wellington Luiz disse que “a manifestação é algo natural, um desabafo. Entendo como a opinião de alguém que vê sua instituição ser diminuída pelo próprio governador e outros órgãos”.
Confira a íntegra da nota do Sinpol-DF:
“Sinpol-DF repudia mensagens de ódio de ex-dirigente
O Sindicato dos Policiais Civis do DF, legítima entidade representativa da categoria Policial Civil da Capital da República, vem a público repudiar as manifestações proferidas em redes sociais por um ex-dirigente da entidade, derrotado nas últimas eleições sindicais, desfiliado do sindicato a pedido e assessor direto do deputado distrital Welington Luiz.
Em dois áudios lançados na data de ontem, 18, em um aplicativo da internet, o ex dirigente tenta plantar dúvidas e confusão, no seio da categoria. Em tom de desespero, mistura temas diversos, soltando uma rajada de impropérios em todas as direções.
Necessário salientar que o Sinpol chegou a ser convidado a estar na reunião, que foi solicitada por deputados federais, e que tratava sobre ciclo completo e registro de TCOs. Como a categoria ainda não deliberou a respeito do assunto, a diretoria entendeu por bem não participar da reunião com o Governador e diversas entidades representativas. Em nenhum momento a reunião tratou de negociações salariais, até por que o assunto já vem sendo tratado entre Sinpol e GDF, em mesa específica de negociação.
Nos áudios, o policial recém aposentado ofende a honra de toda a atual diretoria do Sinpol. Não satisfeito, denigre a imagem de outros dirigentes sindicais, além do Ministério Público, Fenapef, Fenaprf e toda a Polícia Militar.
Ao vociferar palavras de baixo calão, que em nada combinam com as atitudes desejadas de um servidor público, o assessor da CLDF ainda faz acusações ao Governador do Distrito Federal e à Secretária de Segurança Pública do DF.
Antes de mais nada, salutar informar que referido cidadão não representa a voz da categoria policial civil, apesar de seu desejo incontido. Ainda assim, por tratar-se de um policial civil, ainda que desfiliado do sindicato, frisamos que não é o pensamento da categoria tratar colegas da segurança pública como inimigos.
Quanto ao Governo do DF, insistimos em dizer que o assessor do deputado distrital não representa o Sindicato, o qual vem mantendo diálogo com o Governo local a fim de ver o avanço de sua pauta reivindicatória. Esperamos sinceramente que esse tipo de postura reprovável não seja considerada como sendo o da unanimidade de nossos policiais de nível superior e que não atrapalhe nossas negociações.
Ao declarar guerra com o MP, policiais federais, policiais rodoviários federais, policiais militares, governador e secretária, o ex-dirigente sindical que gosta de gabar-se como amigo pessoal do atual Diretor Geral da PCDF coloca em cheque a Polícia Civil, uma vez que ela é uma Instituição Pública. Por causa disso, ela e seus servidores não tem “inimigos” nas suas relações com as demais instituições públicas, ao contrário do que quis afirmar o assessor parlamentar.
Infelizmente, visando as eleições sindicais do próximo ano, vozes isoladas e desesperadas têm pregado a desunião da categoria policial civil, justamente no momento em que a categoria mais precisa de União.
A diretoria tomará todas as medidas administrativas e judiciais cabíveis ao infeliz episódio.
Sinpol-DF”