Áudio revela detalhes de fraude milionária com CPF de pessoas mortas
Quadrilha que tinha entre seus integrantes um gerente de banco e um ex-agente da Polícia Civil do DF deu golpe de pelo menos R$ 1 milhão
atualizado
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Em áudio obtido pelo Metrópoles com exclusividade, um dos integrantes da quadrilha que usava CPF de pessoas mortas para fraudar cartões e contas dá detalhes de como a atividade criminosa era executada dentro de diversas instituições bancárias. O esquema é investigado pela Operação Ammit, deflagrada pela 24ª Delegacia de Polícia (Ceilândia) nesta terça-feira (29/8). As apurações duraram um ano e o prejuízo estimado é de pelo menos R$ 1 milhão.
O esquema contava com a participação de um gerente de banco e de um ex-agente da Polícia Civil do DF. Na conversa encontrada no celular de um dos cabeças da organização criminosa, Sérgio Gonçalves Rodrigues e Wendel de Oliveira Rocha, segundo a Polícia Civil, falam sobre contatos que mantêm com gerentes do Itaú, Banco do Brasil e Caixa Econômica.
“As do Itaú dá para fazer assim. Estou vendo com ele as do Banco do Brasil e da Caixa aqui também… (sic) Como é que vai ser o trâmite. Esse povo aqui trabalha dentro do banco, moço. Deixa eu te explicar, aqui não é nada hackeado, não. A situação daqui é feita com o gerente, com o pessoal do banco”, garante um deles.
“São contas inativas, arrancamos dinheiro das contas inativas. Entendeu? Aqui dá para tirar o dinheiro de boa. São contas que estão paradas há mais de dois, três, quatro anos”, explicou. “Está fazendo a procuração e o movimentando dinheiro. Quando dá problema, a pessoa faz a procuração”, disse.
Servidores investigados
Há indícios de que servidores da Receita Federal e da Previdência Social façam parte da organização criminosa. O grupo falsificava documentos, idealizava e gerenciava as operações. Eles tinham contato direto com integrantes da Receita Federal e da Previdência Social, que facilitavam a atuação da organização criminosa.
A polícia também procura Moacyr Filho, que é ex-agente da PCDF e foi expulso há 15 anos da corporação. Ele é suspeito, segundo as investigações, de operacionalizar empréstimos bancários e financiamentos.
Já Michael de Jesus Castro, ainda de acordo com a polícia, seria um dos gerentes do Banco Santander que passava dados dos clientes e viabilizava as operações financeiras. Ele encobria os rastros no sistema do banco e também emitia cartões para a organização criminosa. Michael colaborou com a polícia e, por isso, responderá em liberdade.
“Os casos de estelionato são comuns, mas não com essa magnitude”, afirmou o delegado da 24ª DP Vitor Falcão. O inquérito já foi concluído e eles responderão por furto mediante fraude, estelionato, falsificação de documentos públicos e particulares e formação de organização criminosa.
Como funcionava
Um funcionário da Receita Federal passava à organização criminosa nomes de pessoas falecidas que ainda não constavam no site do órgão. Após obter esses nomes, os criminosos falsificavam toda a documentação da vítima e levavam para o banco. Na agência bancária, o gerente viabilizava empréstimos que chegavam a alcançar até R$ 290 mil. Após sacar o valor, eles dividiam entre os envolvidos.
No decorrer da operação, foram apreendidas dezenas de cédulas de identidade e carteiras de habilitação falsificadas, contratos bancários, cartões de banco e vários apetrechos utilizados para a falsificação de documentos. A operação foi batizada de Ammit, que na mitologia grega significa um demônio que devora almas.