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Atiradores de elite do DF: sem permissão para errar. Veja vídeo

Anônimos nas missões policiais, eles atuam sob pressão constante. Qualquer distração pode custar uma vida. O Metrópoles acompanhou o treinamento dos snipers, como são chamados esses profissionais, no Batalhão de Operações Especiais da PM

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Michael Melo/Metrópoles
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1 de 1 Michael Melo/Metrópoles - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Com a proximidade dos Jogos Olímpicos, cresce a preocupação com a segurança das pessoas em lugares públicos. E um grupo em particular tem intensificado os treinamentos, que podem ser o detalhe que separa a vida da morte em situações-limite. Nove balas disparadas por dia — manhã, tarde e noite — em um alvo a 100 metros de distância. É assim que os atiradores de elite do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar, o Bope, treinam para manter a precisão. A rotina faz parte do aperfeiçoamento das técnicas desses profissionais que, numa fração de segundos, podem se tornar heróis ou vilões.

Tudo vai depender se a bala atinge ou não o alvo. Antes que o dedo acione o gatilho e a arma dispare, eles precisam cumprir uma longa jornada, que exige estudo, muito treinamento e sangue frio. Só integram o seleto grupo de snipers aqueles que têm o controle completo da respiração, dos batimentos cardíacos e do movimento de cada um dos músculos.

Não é à toa que são poucos. As forças policiais do DF contam com 39 profissionais. O suficiente para fazer a diferença na hora de salvar uma vida. Movidos pela convicção de que agem sempre em legítima defesa e dos outros, passam imperceptíveis nas situações de conflito.

Para isso, procuram o melhor ângulo para atirar. Se escondem atrás de muros, fachadas espelhadas ou camuflados em meio ao matagal. A luneta fixada na arma proporciona a visão detalhada do alvo.

Altamente técnicos, estudam o ambiente, desde a distância entre o oponente, que pode chegar a um quilômetro, até a velocidade do vento. Tudo precisa ser calculado para não afetar o disparo. Com habilidade de trabalhar sob pressão, não temem atirar para matar.

Hoje, muitas atividades são voltadas à preparação para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016. Como Brasília sediará 10 partidas de futebol, os snipers do DF estarão de prontidão, com também o fizeram na Copa das Confederações, em 2013, e na Copa do Mundo, em 2014.

Sem nomes, só números
A discrição durante as missões é necessária para garantir a própria segurança. Assim, o uso da balaclava (máscara) e a ausência de nomeclaturas na farda impossibilitam a identificação do atirador, que pode sofrer represálias após o disparo. Por isso, em vez de nomes, cada policial recebe um número.

Na operação, o trabalho é feito em duplas. O observador, ou spotter, é responsável por analisar o ambiente ao redor da situação de crise, assim como a movimentação das pessoas envolvidas na situação, zelando pela segurança de todos. O segundo mantém o alvo na mira, pronto para atirar. Essa fase de observação pode durar horas, exigindo grande preparo físico e emocional dos policiais que, muitas vezes, permanecem na mesma posição. Não importa se a missão é salvar o refém de um bandido, escoltar uma autoridade ou atingir o inimigo numa operação de guerra.

Controle total
Há 15 anos no Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do DF, o Atirador 12, 48 anos, conta que, para ser um sniper, é necessário ser metódico e perfeccionista. Desde cedo, aprendeu a controlar a ansiedade e a adrenalina. Questionado sobre o que passa na cabeça na hora de apertar o gatilho, ele responde, sem pestanejar: “Penso em cumprir a lei e salvar vidas”.

Entre tantas missões, ele estava na equipe que atuou, em 2008, num assalto em Ceilândia. Na ocasião, um tiro matou o assaltante que mantinha reféns em uma drogaria e se preparava para fugir do estabelecimento com uma das vítimas:

“Na época, a imprensa colocou a ação em dúvida, os familiares do assaltante também recorreram à Justiça, mas não tinha outra escolha a não ser atirar. Cumprimos o nosso trabalho e salvamos os reféns”

Esse, inclusive, foi o último caso em que um sniper do Bope matou um bandido.  “Nos casos em que uma vítima corre perigo, nossos profissionais são treinados para atirar no bulbo raquidiano, que fica próximo ao tronco encefálico, a parte do pescoço mais próxima à cabeça. Com isso, o criminoso perde os reflexos e as ações, evitando qualquer tipo de ameaça a vida do refém”, explica o capitão Marlon Oliveira, que comanda o time de atiradores da PMDF.

Michael Melo/MetrópolesTreinamento intensivo
Trajados de preto da cabeça aos pés e debruçados sobre o fuzil de longo alcance de origem austríaca, os atiradores de elite do Bope treinam diariamente. As atividades são intensas e exigem alto grau de concentração. Eles disparam nove balas por dia em um alvo a 100 metros de distância. Os treinos são divididos em períodos diferentes do dia porque o clima, a temperatura, o vento, a luminosidade e a umidade do ar influenciam no trajeto do projétil.

Não é fácil se tornar um atirador de elite da corporação. Durante quatro meses, a resistência física, psicológica e a capacidade de sobrevivência em diferentes situações são colocadas à prova. Primeiro, é preciso passar no curso de formação do Bope. Do total de inscritos, menos da metade se forma. Após esse processo, os que se interessam em seguir o ofício entram no curso de sniper. A opção é voluntária, mas sempre que enxergam um candidato potencial à vaga de sniper, os orientadores do curso podem fazer uma sugestão ao aluno.

Mil projéteis disparados
Atualmente, o Bope conta com efetivo de 120 policiais, sendo que 30 passaram pelo curso de aperfeiçoamento e oito se especializaram em tiro de precisão. A capacitação específica tem duração de 45 dias. No total, mil projéteis são disparados por aluno.

Acionados em casos de assaltos e sequestros, os atiradores vivem uma realidade peculiar: 70% das ocorrências atendidas são relacionadas a tentativas de suicídio. “Os snipers atuam nesses casos de forma não letal, atirando no revólver, na faca ou no objeto que a vítima usa para tentar tirar a própria vida”, conta o capitão do Batalhão, Marlon Oliveira.

Choque de realidade
A curiosidade sobre armas levou Fabiano Tomazi, 39 anos,  a largar a carreira na área de tecnologia da informação para prestar concurso na Polícia Federal. Na corporação há 13 anos, Fabiano passou pelo Comando de Operações Táticas (COT), onde se especializou como atirador de precisão.

Também foi professor de armamento e tiro, técnicas operacionais, de mergulho, montanha além de realizar cursos com forças da Alemanha e na França. Enquanto trabalhou empunhando o seu fuzil, era conhecido por Número 14. Hoje, Tomazi está lotado em outra área da PF.

Fabiano Tomazi/Arquivo Pessoal
Treinamento de tiro de precisão na Polícia Federal, em Brasília, com alvos a 200 metros

Mas as cenas de ação dos filmes de infância e as brincadeiras de polícia e ladrão tomaram outra proporção quando enfrentou uma quadrilha de assaltantes de banco. “Éramos apenas dois atiradores contra mais de 20 criminosos”. Tomazi se refere à Operação Topeira, que ocorreu em setembro de 2006, em Porto Alegre (RS). Os integrantes do COT impediram que um grupo ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC) chegasse aos cofres de um banco.

O mesmo grupo participou do roubo ao Banco Central, em Fortaleza, no ano anterior. “Ficamos muito expostos naquela ação, mas foi um risco necessário. A operação foi um sucesso e todos foram presos, sem policiais ou cidadãos feridos”, lembra.

Em seu currículo há também operações de combate a quadrilhas de tráfico de drogas em comunidades do Rio de Janeiro e missões internacionais. “Tive a oportunidade de aprender as melhores práticas utilizadas por forças especiais de todo o mundo e utilizar equipamentos disponíveis no mercado internacional”, conta. Sobre o ofício, explica:

“O atirador de precisão talvez tenha, mais ainda do que outros policiais, que trabalhar melhor esse paradoxo de matar para viver, pois muitas vezes estará longe do calor do combate e precisará efetuar um disparo para salvar a vida de um refém ou de outro policial”

Depois do expediente
Submetidos a uma rotina estressante no trabalho, seria correto imaginar que esses atiradores procuram atividades mais calmas e relaxantes quando o expediente termina. Mas isso não é verdade. Boa parte deles mantêm um ritmo frenético mesmo quando estão de folga.

O Atirador 12, por exemplo, prefere manter a adrenalina em alta. Escolheu o  muay thai, luta oriental. “Preciso manter o meu condicionamento físico e a disciplina”, justifica. Já o policial federal Tomazi, dedica boa parte do tempo fora do trabalho para estudar, ministrar cursos e escrever livros sobre operações da PF (ele é autor de “COT: Charlie, Oscar, Tango” e “Oscar Alfa). Ainda encontra tempo para pedalar, nadar, escalar e fotografar. “Sou hiperativo. Meu dia tem pelo menos 18 horas de atividade”, diz.

Sinal verde
Nas missões, a tensão é total. Nem sempre os atiradores precisam do sinal verde de quem está à frente da operação para disparar. Isso porque em miléssimos de segundos um refém, por exemplo, pode ser morto. Dificilmente uma posição favorável ou uma distração de um assaltante se repete. Trata-se de um momento único. “Não julgamos vidas, julgamos situações”, diz com convicção um atirador de elite.

Assim, o gatilho é acionado e o projétil viaja no ar. O destino da vítima está selado. Apenas após esse momento é que o atirador é invadido por uma onda de adrenalina e o seu coração, finalmente, bate aceleradamente.

Memória — relembre casos em que os atiradores do DF foram acionados

Refém no Buriti (4/11/2014)
Pedindo a presença da presidente Dilma Rousseff e visivelmente transtornado, Robson Batista da Silva, 33 anos, manteve a funcionária do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios Jurema da Silva Assunção, 28, sob ameaça de uma faca durante cerca de 30 minutos. Os atiradores do Bope foram acionados, mas não agiram. Robson foi imobilizado com o uso de arma de choque e bala de borracha por militares da corporação. A refém foi liberada sem ferimentos.

Sequestro em hotel (29/9/2014)
Atiradores de elite da Polícia Civil do Distrito Federal foram posicionados próximo ao Hotel Saint Peter, local onde Jac Souza dos Santos fazia um mensageiro refém. Amarrada com falsos explosivos e sob a mira de uma arma de brinquedo, a vítima viveu momentos de tensão por aproximadamente sete horas. Um sniper mantinha Jac na mira do fuzil. Após uma longa negociação, o homem se entregou e alegou que a insatisfação com o cenário político do país o levou a cometer o crime.

Assalto em Ceilândia (21/08/08)
Um assaltante foi morto por um policial do Bope em uma drogaria de Ceilândia. Sete pessoas foram rendidas e mantidas reféns. O disparo fatal ocorreu no momento em que o bandido se preparava para fugir com uma das vítimas.

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Jac Souza dos Santos faz refém
Assalto em farmácia de Ceilândia
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Robson Batista da Silva

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Jac Souza dos Santos faz refém

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Assalto em farmácia de Ceilândia

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Snipers famosos

  • O finlandês Simo Häyä é considerado o maior atirador de todos os tempos. Fazendeiro, trocou a vida do campo para ajudar o seu país, logo após a invasão soviética, em 1939. Conhecido como “Morte Branca”, por usar uma roupa de camuflagem para  se esconder na neve, teria matado 542 russos antes de ser baleado na cabeça, um ano depois, e sair da ativa. Morreu em 2002.
  • Franco-atiradores foram tema de vários filmes. O mais recente, Sniper Americano, conta a história de Chris Kyle, soldado dos Navy Seals da Marinha dos Estados Unidos e considerado o atirador mais letal da história do país, com 160 mortes confirmadas. Chris serviu durante quatro temporadas na ocupação do Iraque. Curiosamente, foi assassinado em 2013 por um veterano de guerra durante um surto psicótico num campo de treinamento de tiro, no Texas.
  • O britânico Craig Harrison acertou um tiro a mais de 2,4 quilômetros de distância, neutralizando insurgentes talibãs no Afeganistão. A bala levou 3 segundo para chegar ao alvo.
  • As mulheres também têm espaço no mundo dos franco-atiradores. A mais conhecida delas é a ucraniana Lyudmila Pavlichenko. Consta que ela matou 309 soldados alemães na Segunda Guerra Mundial. Se tornou a primeira cidadã soviética a ser recebida por um presidente dos EUA (Roosevelt) na Casa Branca. Morreu em outubro de 1974 aos 58 anos.
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O norte-americano Chris Kyle
O britânico Craig Harrison
A ucraniana Lyudmila Pavlichenko
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O finlandês Simo Häyä

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