Armadas e precavidas. Assustadas com a violência no DF, mulheres aprendem a atirar para se defender
Algumas escolas de tiro registraram aumento superior a 100% no número de alunas que desejam manejar e disparar revólveres e pistolas
atualizado
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Com medo da violência, as brasilienses resolveram pegar em armas para garantir a sua própria defesa. Algumas escolas de tiro registraram aumento superior a 100% no número de alunas que desejam aprender a manejar e disparar revólveres e pistolas. Um dos motivos é o crime mais temido entre a população feminina. O estupro cresceu 13,3% – passou de 45 casos para 51 – no mês de janeiro deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Os assaltos a residências e sequestros-relâmpagos também preocupam as moradoras do Distrito Federal. Mas manter uma arma em casa exige cuidados e muita atenção, alertam os especialistas.
O fenômeno provocado pela onda de violência é comprovado por um dos mais conhecidos instrutores de tiro do DF. O profissional de armamento e tiro Rodrigo Moreira é credenciado pelo Departamento de Polícia Federal (DPF) e pelo Exército Brasileiro. O especialista conta que, apenas no mês de janeiro deste ano, deu aulas para 35 mulheres, média superior a uma por dia.Em todo o ano passado, apenas 17 mulheres haviam participaram das aulas. “As mulheres querem se sentir mais seguras dentro de suas casas, pelos mais diversos motivos”, argumenta. A reportagem do Metrópoles acompanhou a demonstração feita por duas mulheres após passarem pelo treinamento.
Mostrando perícia com revólveres calibre 22 e pistolas 380, em um estande de tiros com alvos a 25 metros de distância, a publicitária Roberta Nasser (fotos), 31 anos, e a servidora pública Marcella Goulart, 28, passaram por oito horas de curso e já estão aptas a dar entrada em um pedido de posse de arma, na Polícia Federal.
Roberta conta que se sente mais confiante e segura após ter aprendido a atirar. “Hoje, se eu for assaltada por um homem que esteja portando um revólver desmuniciado eu saberei. Também aprendi a usar a arma de fogo sem correr o risco de ser desarmada pelo criminoso, caso isso ocorra. Essa é uma forma que encontramos de nos defender”, contou. A publicitária, que mora na Asa Sul, ressalta que não pensaria duas vezes em usar uma arma de fogo caso fosse atacada dentro de casa por algum criminoso. “Com certeza eu atiraria”, resume.
Marcella Goulart relata que o conhecimento e a perícia sobre a utilização de armas de fogo ajudariam a lidar com situações como roubos a residências. “Antes, era capaz de eu pegar a arma e jogá-la no ladrão. Esse curso nos dá uma alternativa, caso a reação seja necessária”, analisa.
Confira o vídeo de um dos treinamento:
Medo do crime
Segundo o especialista em segurança pública George Felipe de Lima Dantas, estudos criminológicos apontam que a mulher sofre de um medo específico quando considerado um tipo de fenômeno chamado “Medo do Crime”.
Enquanto os idosos temem a violação do local de residência e os jovens temem outros jovens e em determinados horários e locais, as mulheres temem a violência sexual em suas diferentes expressões, incluindo o estupro.
George Felipe de Lima Dantas
Dantas destaca que a indústria bélica – de olho no mercado feminino – começa a desenvoler armas e acessórios armamentistas que atraiam as mulheres. “É uma tendência que é aquecida pela criminalidade e isso não é positivo. A diversidade de produtos é enorme. Uma curiosidade são os coldres específicos para mulheres, hoje oferecidos no mercado norte-americano, incluindo modelos para sutiã”, destaca.
Precaução total
Armeiro e um dos instrutores de tiro mais experientes da Polícia Militar, o sargento do Batalhão de Choque da PM (BPChoque), José Vieira, alerta para uma série de cuidados que precisam ser tomados por pessoas que desejam manter uma arma de fogo em casa. Segundo ele, a precaução precisa ser total. “A primeira atitude é arrumar um local seguro para manter o armamento. O ideal é que um cofre seja usado para guardar a arma. De preferência, bem longe do alcance de crianças e curiosos”, recomenda.
O militar afirma, também, que além de treinamentos periódicos, a manutenção da arma precisa ser constante, para que a pessoa que a maneje não corra riscos. “Imagina um ladrão entrar na sua casa e você resolver apontar a arma e ela falhar durante o disparo. Uma situação como essa colocaria em risco todos os moradores”, pondera.
Atualmente, para ter a autorização de posse de arma de fogo, a pessoa precisa entregar uma série de documentos à Superintendência da Polícia Federal, no Setor Policial Sul. É necessário apresentar nada consta criminal, eleitoral e militar, além de uma justificativa de “efetiva necessidade”. Um laudo de capacidade técnica produzido por um instrutor de tiro credenciado ao DPF também deve ser entregue por quem deseja obter a posse de arma de fogo.
O Distrito Federal possui uma taxa de autorização de 13,4 portes de arma para cada grupo de 100 mil habitantes. O índice é o mais alto do país e está muito acima da taxa nacional de 1,85 porte por grupo de 100 mil habitantes. De acordo com estatísticas do Ministério da Justiça, nos últimos dois anos, o número de armas entregues espontaneamente nos estandes de recolhimento da Campanha do Desarmamento se mantém baixo. Em 2014, os moradores do DF se desfizeram de 326 armas, contra 354 no ano passado.