Alunos do Gisno que fizeram ameaças são transferidos e terão “punição exemplar”
Secretaria de Educação informou ainda que aguarda conclusão das investigações da Polícia Civil para adotar outros procedimentos
atualizado
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Os cinco estudantes — quatro adolescentes e um maior de idade — do colégio Gisno, na 907 Norte, que divulgaram ameaças de atentado contra a escola nas redes sociais terão “punição exemplar”, informou a Secretaria de Educação na tarde desta segunda-feira (18/3). A direção do colégio já solicitou a transferência deles, que poderão responder ainda por incitação ao crime e “falso alarme”, quando a polícia é acionada.
“O diretor do Gisno encaminhou os nomes dos alunos para a Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto para que seja providenciada a transferência da instituição. Não é uma punição. É uma medida administrativa”, disse a pasta em nota.
A secretaria também aguarda a conclusão das investigações, conduzidas pela Polícia Civil, para decidir quais outros procedimentos serão adotados com os estudantes, uma vez que eles não podem ser expulsos por se tratar de estabelecimento de ensino público.
“A Secretaria de Educação solicitou à Polícia Civil uma investigação para punir os infratores, que devem ser responsabilizados e exemplarmente punidos por suas ações, que prejudicam toda a comunidade escolar”, diz a nota.
A ideia da secretaria é que os alunos maiores de 18 anos sejam responsabilizados criminalmente pelas infrações. Não apenas neste caso, mas em situações de agressão também. Porém, a proposta enfrenta resistência dentro do governo e no meio acadêmico.
Punições e transferências não são medidas que têm apoio da unanimidade do meio escolar. A pedagoga e especialista em gestão Ana Maria Gomes destaca que os colégios precisam “tirar proveito” desse momento. “É hora de discutir, conversar, estimular o debate e envolver o alunos. Não é o momento de excluir, transferir problema”, afirma.
A solução para esses comportamentos nada sociais está dentro da escola e no universo familiar. Temos que fazer um trabalho conjunto
Ana Maria Gomes, pedagoga
Varredura
Por volta de 4h50 desta segunda (18), equipes da Polícia Militar, Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros fizeram uma varredura no colégio atrás de artefatos explosivos. Nada foi encontrado, mas as aulas foram suspensas até esta terça (19).
O delegado Laércio Rosseto, da 2ª DP, contou ao Metrópoles ter recebido informações sobre postagem nas redes sociais em que alunos do centro educacional estariam falando que instalariam artefatos explosivos nas dependências da escola e planejavam atentado nos moldes do que ocorreu em Suzano, São Paulo.
No último dia 13, cinco estudantes e duas funcionárias da Escola Estadual Raul Brasil foram mortos por dois ex-alunos. Ambos morreram no ataque. Antes de invadirem a escola, um dos atiradores matou o próprio tio.
Nas publicações postadas no Facebook e em outras redes sociais, os menores usavam máscaras e diziam que colocariam três bombas na escola. Além dos explosivos, eles realizariam o ataque com armas. Um adolescente de 17 anos chegou a ser levado à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) no domingo (17), mas foi liberado.
Confira as mensagens postadas:
Segundo o delegado-chefe da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA-1), Vicente Paranahiba, em vistoria feita na casa do estudante, nada foi encontrado. Ao acessarem o celular do menor, os policiais localizaram a conversa trocada com os outros três colegas, na qual o atentado estaria sendo tramado.
“Ele veio à delegacia acompanhado da irmã, que se apresentou como responsável. No depoimento, disse que a história não passou de uma brincadeira e que não teria ‘coragem de fazer o que estava sendo tramado’. No entanto [durante a oitiva], ele teceu elogios ao atentado ocorrido em Suzano. Ao que parece, esses garotos foram negativamente influenciados pelo ocorrido em Suzano”, disse o delegado.
As mensagens foram trocadas entre a noite de domingo (17) e a madrugada desta segunda (18). Nelas, os estudantes marcam “uma competiçãozinha de quem mata mais” na escola. Um deles diz aceitar “fazer parte da linha de frente no massacre” e outro detalha como o atentado deveria ser executado.
“Pelas janelas de trás (áreas de escoteiros), lançar bombas de gás lacrimogênio nas três primeiras salas e efetuar disparos com revólver nas últimas a fim de colocar todos para correr. Depois dar a volta… eliminando todos que for possível, que estarão trancados por conta do portão”, recomenda uma das sete mensagens.
Em outra mensagem, um estudante disse já ter posicionado armas, bombas e munição em pontos estratégicos da escola.
De acordo com a irmã que acompanhou o estudante na condição de responsável por ele durante o depoimento feito nesta madrugada (18), o garoto apresenta problemas psiquiátricos, já tendo inclusive agredido a mãe, além de ter tentado suicídio. Segundo ela, o irmão foi vítima de bullying, pratica que pode ter contribuído para aumentar sua agressividade.
Os demais envolvidos no caso, segundo a DCA, têm histórico de problemas familiares, são isolados e disseram sofrer bullyng. Um deles, inclusive, teria tentado se matar e tem sinais de autoflagelação. ]
O Metrópoles conversou com alguns alunos que conhecem os suspeitos. Os colegas os descrevem como isolados e com poucos amigos. Além da PM e da Polícia Civil, o Corpo de Bombeiros deu apoio à operação.
As aulas devem ser retomadas na terça (19). Em nota, a Secretaria de Educação disse que a direção da escola e o coordenador regional estão acompanhando o processo. “A secretaria solicitou à Polícia Civil uma investigação para punir os infratores, que devem ser responsabilizados e exemplarmente punidos por suas ações, que prejudicam toda a comunidade escolar”, diz o texto.
O professor de português Ricardo Andrade disse estar “horrorizado”. “Um dos adolescentes é meu aluno. Semana passada, tivemos a notícia de que ele agrediu a mãe. Ele esteve presente em duas aulas minhas. Ele tem suásticas nazistas nas mãos e já socou as paredes da escola”, contou.
O docente disse que, no ano passado, foi ameaçado por um aluno e, desde então, trabalha com medo. “O Gisno tem problemas em relação à segurança, pois, atrás do colégio, tem uma grande mata e a unidade conta apenas com um vigilante”, falou.
Veja o momento em que um funcionário explica aos alunos o que houve:
Medo
Desde o atentado em Suzano, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) passou a investigar cinco ameaças a colégios públicos do DF. O Metrópoles mostrou, na semana passada, que os casos seguem em segredo de Justiça por envolverem nomes de adolescentes.
Uma das ameaças mais preocupantes foi a aparição do desenho de uma suástica no quadro de uma sala de aula. Abaixo do símbolo nazista, a frase “massacre em 20/3”. Para não atrapalhar as apurações, o nome da escola não foi divulgado pelos investigadores da PCDF.
A área de Inteligência da Segurança Pública também passou a monitorar as redes sociais, em especial Facebook, Twitter e Instagram, por causa de publicações que incitam violência ou veneram a atitude dos autores da chacina na escola de Suzano. Especialistas em crimes virtuais acompanham e pedem autorização judicial para tomar medidas preventivas.
Ao Metrópoles, o secretário de Educação, Rafael Parente, confirmou a informação dos cinco registros, mas disse que não pode detalhar os casos por envolver estudantes da rede pública. “Fomos realmente informados sobre cinco ameaças. Por isso, decidimos aumentar a segurança no prédio [da secretaria] e nas escolas, com mais vigilantes e maior presença da PM”, afirmou à reportagem na última sexta (15).
Os casos vieram à tona no mesmo dia em que um professor de violino da Escola de Música de Brasília (EMB) invadiu a sede da Secretaria de Educação, no Setor Bancário Norte. Ele estava armado com uma faca e uma besta (espécie de arco e flecha), mesmo equipamento utilizado pelos atiradores do massacre na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP). O alvo, segundo a PM, seria o próprio secretário.
Após ser preso e levado para a 5ª Delegacia de Polícia (área central), o professor foi encaminhado ao Hospital de Base em uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Na maca, gritou: “Me trouxeram para cá como um cachorro“.
O major da Polícia Militar Cláudio Peres informou que o alvo do professor seria o secretário de Educação, Rafael Parente. “Ele dizia que queria encontrá-lo para denunciar a forma como os professores são tratados. Reclamou de maus-tratos cometidos contra eles”, disse o policial.
Em meio à invasão e às ameaças, o GDF estuda medidas para garantir mais segurança a alunos e servidores nos colégios públicos.
Entre elas, a expansão do número de câmeras de monitoramento, botão do pânico para acionar a polícia em caso de situações de perigo, aulas de meditação e mediação de conflitos, catracas que exigem identidade estudantil para entrar nas escolas e até nota de comportamento, compondo a média final dos alunos, com o objetivo de estimular a disciplina dentro dos colégios. (Com informações da Agência Brasil)
Confira imagens da tragédia em Suzano (SP):