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Agente da PCDF suspeito de fraudar concursos debocha: “Vou deitar e rolar”

Segundo as investigações, Márcio David faz parte de um grupo que agia há dez anos e movimentou R$ 30 milhões em todo o Brasil

atualizado

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policiais
1 de 1 policiais - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Operação das polícias de Pernambuco, Piauí, Paraíba e Distrito Federal colocou um policial civil lotado na 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Sul) atrás das grades nesta segunda-feira (15/1). A suspeita é de que o agente Márcio David Carneiro Liberal tenha participação em uma organização criminosa que fraudava concursos públicos no país. O grupo agia há dez anos e movimentou R$ 30 milhões.

O Metrópoles teve acesso a algumas conversas entre Márcio David e integrantes da organização criminosa. Em uma delas, o policial do DF chega a dizer que vai “deitar e rolar” e pede para “recrutar mais clientes”. Em outra situação, o agente ironiza dizendo que a “empresa” trabalha com sonhos e aprovação garantida. David também chegou a parabenizar o “profissionalismo” de um dos criminosos ao colocar as instruções para a prova em um documento de Word (confira abaixo).

Ainda segundo as interceptações, Márcio David chegava a trocar o plantão na delegacia de Ceilândia de acordo com as necessidades da organização criminosa, que ele trata nas interceptações telefônicas como “empresa”.

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O policial civil foi preso na casa onde mora, em Samambaia. Policiais da corregedoria da PCDF também cumpriram um mandado de busca e apreensão na residência. No domingo (14), ele ainda chegou a fazer plantão na delegacia em que trabalha.

O grupo é investigado desde fevereiro de 2017, após a Polícia Civil de João Pessoa receber uma denúncia anônima. Ainda no ano passado, os investigadores chegaram a localizar uma mansão na cidade que era usada como quartel general da quadrilha.

A polícia identificou que o agente do DF Márcio David chegou a viajar para Natal no dia da primeira operação, em 7 de maio. “Ele atuava como professor. Respondia as questões de direto dos concursos. Já pedimos a prisão dele duas vezes, mas só agora a Justiça deferiu”, explicou o delegado Lucas Sá, da Delegacia de Defraudações de João Pessoa.

Imagens da primeira ação em João Pessoa:

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A polícia fez um flagrante no local em 2017
A depender do cargo pleiteado, os clientes do grupo recebem a opção de pagar um adiantamento ou aguardar a aprovação
Durante a operação, diversos materiais foram apreendidos
Os clientes da organização criminosa fraudavam os concursos por meio de pontos eletrônicos
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Mansão localizada em João Pessoa era o quartel general dos criminosos

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A polícia fez um flagrante no local em 2017

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A depender do cargo pleiteado, os clientes do grupo recebem a opção de pagar um adiantamento ou aguardar a aprovação

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Durante a operação, diversos materiais foram apreendidos

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Os clientes da organização criminosa fraudavam os concursos por meio de pontos eletrônicos

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Integrantes da quadrilha orientavam os "clientes" sobre o que fazer na prova

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Pontos eletrônicos apreendidos

Em 7 de maio, quando o bando se preparava para  fraudar um novo concurso, os policiais fizeram o flagrante e levaram para a cadeia 19 pessoas em João Pessoa (PB) e Natal (RN). Entre os presos, estavam os líderes: Flávio Borges, policial militar, irmão dele, Vicente Borges, que também é PM, e o policial rodoviário federal Marcus Pimentel.

O material apreendido nesta primeira ação ainda é analisado pelos investigadores. No total, foram 37 GB de conteúdo armazenado. Celulares, documentos e planilhas também foram periciados.

“Essa primeira ação foi muito importante para a investigação. Geralmente, quando a polícia prende candidatos em locais de prova, dificilmente chega-se aos líderes da organização. Todas as informações são compartimentadas e a pessoa que paga pela fraude sequer sabe reconhecer quem faz parte do esquema”, esclareceu o delegado Lucas Sá.

Os investigadores afirmaram ao Metrópoles que o agente tinha certeza da impunidade. “Ele gostava muito de desenho animado. Sempre se referia aos integrantes do grupo com nomes de personagens. Também já chegou a ameaçar um dos delegados que o investigava. Disse que ia entregar um ‘presente’ para o policial”, lembra Lucas Sá. “Nessa operação de hoje, o fundamental foi a prisão dele, pois era um membro muito importante e ainda estava solto”, finalizou.

O grupo contava com cerca de 100 pessoas e há suspeita de que 98 concursos públicos do país tenham sido fraudados.

Em nota, a PCDF informou que o agente é acusado de fraudar 11 concursos públicos nos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí. “Até o momento, não está comprovada a participação dele no Distrito Federal”, diz o texto. A reportagem tenta contato com a defesa do policial.

A operação, batizada de Sem Barreiras, mobilizou um grande efetivo policial. Foram cumpridos mandados de prisões preventivas e buscas e apreensões em Brasília (DF), Teresina (PI), Olinda (PE), Jaboatão dos Guararapes (PE), Petrolina (PE) e João Pessoa (PB).

Apesar de a operação ser de suma importância para combater fraudes que ocorreram no país, além de tirar das ruas outros criminosos, um conflito de competência travou a conclusão do caso. Isso porque as justiças Estadual e Federal da Paraíba se declararam incompetentes para dar prosseguimento ao processo, já que há seleções locais e nacionais. O caso, agora, tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Polícia Federal
Em 15 de setembro do ano passado, a Polícia Federal fez uma operação que mirou no mesmo grupo. Deflagrada em Alagoas, Roraima e no Amazonas, a Operação Porta dos Fundos teve por finalidade o cumprimento de medidas cautelares probatórias para apurar um esquema de fraude no concurso para provimento de cargos de analista e técnico do Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região. Na época, foram cumpridos mandados de busca e apreensão e de condução coercitiva.

 

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