Agente da PCDF é indiciada por homicídio do marido, sargento da PM
A Corregedoria-Geral da PCDF concluiu que Mirtes Gomes matou o marido. A agente, no entanto, alega que ele cometeu suicídio
atualizado
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A agente Mirtes Gomes Amaro, da Polícia Civil do Distrito Federal, foi indiciada por homicídio qualificado pela morte do marido, o sargento da Polícia Militar Daniel Quezado Amaro. Segundo a Corregedoria-Geral da PCDF, Quezado não se matou, como a mulher alegava.
O militar foi encontrado sem vida na sala do apartamento dele, no Sudoeste, em 24 de fevereiro do ano passado. Durante as investigações conduzidas pela 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro) e, posteriormente, pela corregedoria, Mirtes sustentava em seus depoimentos que o marido havia cometido suicídio na frente dela.
A morte do militar causou grande comoção. Além de ele ser muito querido na corporação, no dia do ocorrido, houve uma intensa movimentação policial no Sudoeste, provocando engarrafamento no bairro.
A confusão despertou curiosidade da população local e as primeiras informações dadas pela polícia eram de que o caso se tratava do suicídio de um militar. À época, no entanto, a polícia não confirmou oficialmente a informação. O que se tinha, naquele momento, eram relatos de policiais que participaram do socorro.
Muitas dúvidas
No decorrer das investigações, uma série de exames foram elaborados pelo Instituto de Criminalística. O resultado do laudo cadavérico, por exemplo, foi considerado “inconclusivo” para suicídio. As informações, no entanto, foram recebidas com desconfiança por investigadores da Polícia Civil, já que, em casos de suicídio, os laudos, em geral, apontam algum tipo de autolesão (como um disparo de arma de fogo contra o próprio peito).
De acordo com pessoas próximas a Quezado, o PM fazia planos de se mudar do Distrito Federal após se aposentar. O sargento sonhava viver no Nordeste e chegou a trocar mensagens com amigos, pelo celular, comentando o desejo. Tanto o telefone do militar quanto o de sua esposa foram alvo de perícia.
As apurações confirmaram que o casal viveu uma relação conturbada ao longo de 27 anos, fato que foi comprovado por parentes do sargento durante as oitivas. “A Mirtes era muito ciumenta e, no dia do velório do meu filho, ela se aproximou e me pediu perdão. Nunca havia entendido aquela atitude”, disse a mãe do PM, Maria Luíza Quezado Pinto Amaro, 83 anos.
O pai de Quezado, Sérgio Amaro, 82 anos, lembra-se que o filho tinha muitos sonhos após deixar a PM e queria colocá-los em prática o mais rapidamente possível. “Ele não tinha motivos para se matar. O Daniel tinha um relacionamento maravilhoso com os irmãos e com a gente [pais]. Era uma pessoa alegre, muito feliz e realizado com a própria vida. Não faz o menor sentido tirar a própria vida”, comentou.
Autópsia psicológica
Durante as investigações, um laudo de autópsia psicológica produzido pelo Instituto Médico Legal (IML) chegou a descartar que o PM apresentasse tendência suicida. Além do documento que confrontava essa tese, o depoimento prestado por uma colega de trabalho da ex-mulher do militar apontava para uma reviravolta no caso.
Na oitiva, essa servidora da PCDF contou que a esposa do sargento teria pego o celular dele, levado para o IML, onde trabalha, e usado um computador da corporação para “espelhar” a tela do aparelho. Assim, ela podia acompanhar as conversas do marido em tempo real.
Baseada em entrevistas com pessoas do círculo pessoal e análises comportamentais do sargento, a autópsia psicológica reconstruiu o estado mental do militar no dia da tragédia e a dinâmica de seus momentos finais.
No dia em que morreu, o sargento estava empolgado com a organização de uma confraternização marcada para três dias depois. “Novamente, esse fato vai de encontro às características de suicidas em potencial. Quezado não possuía nenhum transtorno mental nem era envolvido com abuso de álcool e drogas que justificassem um suicídio impulsivo”, aponta o laudo.
Já a servidora do IML contou, em depoimento, que a esposa do militar chegava a ir ao instituto durante os fins de semana para acompanhar supostas conversas do PM com outras mulheres pelo WhatsApp.
Outro lado
Procurada para falar sobre a condução do inquérito, a Polícia Civil se restringiu a informar que o processo está no Judiciário com vistas ao MPDFT. Já o advogado da policial, Asdrúbal Neto, afirmou que Mirtes mantém a mesma versão dos fatos desde o início das investigações e sempre colaborou com a apuração feita pela polícia.
“Minha cliente tem uma história coesa e que faz sentido. Ela não mudou uma linha sequer durante todos os depoimentos. Ela conta que seu companheiro afirmou que tiraria a própria vida. Vale lembrar que não há testemunhas do fato e todo esse processo está sendo muito traumático, pois ela viu um companheiro de muitos anos se matar na frente dela”, disse o advogado.