Adolescentes dizem ter matado motorista de app após ele reagir
O corpo de Henrique Fabiano Dias Coelho foi achado no Setor de Transporte de Cargas por um taxista
atualizado
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Seis adolescentes foram apreendidos pela Polícia Militar na noite de domingo (13/10/2019). Eles são suspeitos de roubar e matar um motorista de aplicativo. Eles estavam com o carro e outros pertences da vítima. À PM, eles deram detalhes do crime e disseram que estrangularam Henrique Fabiano Dias Coelho, 25 anos, porque o rapaz reagiu ao assalto. O corpo dele foi encontrado no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA) por um taxista. Em 48 horas, dois condutores de app morreram no Distrito Federal.
Policiais faziam ronda no Guará quando avistaram um HB20 branco (foto em destaque), na QE 30. Ao perceberem a aproximação da viatura, os suspeitos invadiram a calçada com o carro, mas foram alcançados e abordados. O menor que dirigia o automóvel ainda tentou sair correndo, mas foi capturado. Durante a fuga, ele jogou a chave do carro na rua.
Dentro do veículo, os policiais encontraram simulacro de pistola, facão, faca, canivete, cinco celulares, R$ 103 em espécie, além da Carteira de Habilitação da vítima. Três menores confessaram a morte por estrangulamento da vítima. Eles disseram que estavam em uma festa de igreja em Águas Claras e resolveram pedir um carro.
A corrida foi pedida para a QE 26 do Guará I. Ao entrarem no carro de Henrique, anunciaram o assalto. Em seguida, um dos adolescentes enforcou o motorista até ele desmaiar. Depois, o levaram para o banco de trás. Quando o rapaz tentou acordar, um dos suspeitos confessou ter forçado o braço até a vítima desfalecer novamente.
Após dispensar o corpo de Henrique no Setor de Transporte de Cargas, os suspeitos ficaram a noite toda andando no carro. Na manhã de domingo, deixaram o veículo do condutor de aplicativo em um beco no fim da rua na QE 44, do Guará, próximo à casa de um deles. Depois, por volta das 14h30, pegaram o automóvel novamente e o deixaram no estacionamento do Carrefour Sul.
Foram apreendidos ao retornarem ao Guará, onde ficaram dando voltas com o automóvel da vítima. Segundo relataram dos suspeitos, Henrique teria reagido ao assalto ao perceber que um deles portava arma de brinquedo.
Ao chegar na Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), foi confirmado que um dos adolescentes tinha mandado de busca e apreensão em aberto por ato infracional análogo ao crime de roubo. Os outros também colecionavam várias passagens por tráfico, assalto, furto e porte de arma de fogo. Os suspeitos têm entre 14 e 17 anos.
Henrique foi encontrado com sinais de esganadura e sem um sapato na madrugada de domingo. Um taxista o viu caído no Setor de Transportes de Cargas, nas proximidades da Cidade do Automóvel, segundo a Polícia Militar do Distrito Federal. O Corpo de Bombeiros foi ao local e verificou que a vítima estava sem vida.
No bolso de Henrique, os policiais encontraram nota fiscal de compra em um mercado da 402/403 Sul, constando horário de 20h02 de domingo, e uma sacola plástica do mesmo estabelecimento — ambos apreendidos pela perícia. As equipes também localizaram uma aliança de prata no local, que provavelmente pertence a Henrique.
A família dele chegou a registrar ocorrência por desaparecimento. Segundo uma tia de Henrique contou à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), o último contato do sobrinho aconteceu por volta da 0h10 de domingo, quando informou à namorada que iria pegar um passageiro em um posto de combustível na entrada do Núcleo Bandeirante. O rapaz trabalhava como terceirizado da Caixa Econômica Federal (CEF).
Outra vítima
A Polícia Civil investiga a morte de outra vítima. Tiego Cavalcante, 28, foi assassinado na Área de Desenvolvimento Econômico (ADE) de Samambaia na noite de sexta-feira (11/10/2019). Ele também trabalhava como motorista de aplicativo de transporte. Amigo de Tiego, o barbeiro Jonathan Gonçalves, 28, disse que o motorista era “uma pessoa maravilhosa”. “Ajudava os outros e gostava muito de trabalhar”, contou. Tiego trancou a faculdade de direito e se dedicava ao trabalho com os aplicativos e às artes marciais, treinando krav magá e jiu-jitsu.
Segundo levantamento feito pela Polícia Civil, ao qual o Metrópoles teve acesso, a quantidade de condutores dos aplicativos Uber, 99 e Cabify vítimas de roubo com restrição de liberdade ou sequestro-relâmpago, como o crime é popularmente conhecido, saltou de 22 casos em 2017 para 71 episódios apenas nos seis primeiros meses deste ano.
Para se ter uma ideia, no primeiro semestre de 2018, foram computadas apenas 14 ocorrências policiais. Na prática, isso significa que, neste ano, todo mês praticamente 12 condutores são sequestrados durante corridas no DF. O balanço expõe a vulnerabilidade de quem depende do trabalho para sobreviver ou encontrou na atividade uma forma de conseguir mais dinheiro ao final do mês.
Os números podem ser ainda mais alarmantes, uma vez que a PCDF disse não ter recorte específico que aponte o total de motoristas vítimas de outros crimes. À reportagem, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) atribuiu o aumento desses registros ao fato de que os criminosos estariam mantendo os condutores como reféns para evitar que a polícia seja comunicada sobre os delitos.
Em nota, a Uber disse operar com tecnologia para bloquear viagens suspeitas. Segundo a empresa, a ferramenta usa algoritmos que aprendem de forma automatizada a partir dos dados e bloqueia viagens consideradas potencialmente mais arriscadas, a menos que o usuário forneça detalhes adicionais de identificação.
A Cabify, por sua vez, diz que “repudia qualquer ato de violência que ponha em risco a segurança de seus motoristas parceiros” e acrescentou: “A segurança é prioridade nas operações da empresa”. De acordo com a companhia, há investimento em tecnologias a fim de melhorar a segurança das viagens para passageiros e motoristas.
Outra a defender a questão da segurança como “prioridade” foi a 99. O aplicativo afirmou ter diminuído em 53% o índice de ocorrências por milhão de corridas, na comparação de agosto de 2019 com o mesmo mês do ano anterior. Em 2018, o número de casos caiu 82% por milhão de viagens de janeiro a dezembro, segundo informou.
Após dois homicídios em 48 horas, motoristas de aplicativo farão uma manifestação no começo da tarde desta segunda-feira (14/10/2019) para pedir mais segurança. O protesto está marcado para começar às 13h30. A concentração será no Taguaparque. De lá, os condutores, que já estão circulando com a palavra luto nos veículos, seguem para o Cemitério de Taguatinga, onde Henrique Coelho será enterrado.