A 50m de delegacia, posto de gasolina é roubado cinco vezes em um mês
Apenas 37 passos separam o estabelecimento da 33ª DP, na Quadra 214 de Santa Maria. Crimes costumam ocorrer durante a madrugada
atualizado
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Os bandidos estão cada vez mais ousados no Distrito Federal, o que tem aumentado a sensação de insegurança dos brasilienses. Dias após assaltarem o filho de um deputado, roubarem a casa de um desembargador aposentado e explodirem caixas eletrônicos do anexo da sede do governo local, ladrões atacaram pela quinta vez um posto de combustíveis localizado a apenas 50m da delegacia de Santa Maria.
Em pouco mais de 30 dias, o posto Melhor, na Quadra 214 de Santa Maria, foi alvo de cinco assaltos. O último ocorreu na madrugada dessa quinta-feira (26/7). A reportagem do Metrópoles esteve no local pela manhã e constatou que somente 37 passos separam o estabelecimento do acesso à 33ª Delegacia de Polícia: para ir de um lugar ao outro, basta atravessar a principal avenida da região.
Mas isso não inibiu os criminosos. Eles chegaram ao posto por volta das 3h desta quinta (26), renderam os frentistas e levaram o dinheiro que encontraram com os funcionários: cerca de R$ 74.
Apavorados, os trabalhadores do lugar, sob a condição de não serem identificados, explicaram à reportagem como os crimes são realizados. De acordo com eles, tanto o modo de agir quanto a aparência física dos responsáveis pelos cinco assaltos são semelhantes.
Geralmente, dois homens chegam ao comércio a pé ou de bicicleta, rendem os funcionários pelas costas e tomam quantias de dinheiro do caixa, além de celulares e outros pertences dos trabalhadores. Para tanto, sempre portam armas – tanto brancas, como facas, quanto de fogo. Fogem, em geral, com baixas quantias, entre R$ 70 e R$ 200.
Assalto virou rotina por aqui e os bandidos fazem a festa. A polícia não age e ficamos expostos ao perigo constante, mas o que podemos fazer? Todo lugar está assim. Não posso nem procurar outro emprego, pois corro risco em qualquer um
Frentista da unidade
Crimes em sequência
O primeiro roubo ao local ocorreu em 23 de junho, às 22h35. De acordo com os funcionários, os policiais civis lotados na 33ª DP chegaram a presenciar o assalto e tentaram impedi-lo, mas sem sucesso, pois a “ação foi rápida e os bandidos fugiram com facilidade”. Após quase serem pegos, os assaltantes passaram a cometer os crimes em horários diferentes.
Desde então, todas as outras ocorrências teriam acontecido entre 2h e 3h. Para o delegado-chefe da 33ª DP, Rodrigo Têlho, os “criminosos se aproveitam do baixo efetivo [na unidade] para cometer os crimes”. “Fico com um efetivo reduzido, apenas quatro pessoas tomando conta da delegacia e atendendo às demandas de toda a região”, justificou o policial.
Ao lado da DP funciona também uma drogaria, assaltada em duas ocasiões, segundo o atendente do comércio. “Paramos de funcionar durante as madrugadas. Está terrível. Fazem um arrastão, roubam a loja e o posto. Ninguém se salva”, contou um funcionário que pediu para não ser identificado, por temer a ação dos ladrões.
Investigação em andamento
Têlho admite que as ações são parecidas e não nega a possibilidade de os autores dos crimes serem os mesmos. No entanto, diz ser preciso “analisar as imagens do sistema de segurança do posto de gasolina e coletar os dados dos depoimentos das vítimas, para traçar o perfil dos bandidos”.
“Mas quem tem arma de fogo nunca vai preferir roubar usando faca. Quem rouba com faca é porque não tem acesso a uma arma de fogo. Há ainda divergência entre a forma como chegam ao local, às vezes a pé ou de bicicleta. Os fatos estão sendo investigados e chegaremos logo aos autores”, finalizou.
População refém do crime
De acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Paz Social do Distrito Federal (SSP-DF), as diferentes modalidades de roubo têm caído no Distrito Federal. Mas a população não tem se sentido segura, seja na rua ou em casa, ou no local de trabalho. Não é por acaso.
Em junho, 40 pessoas foram assassinadas no DF. Durante todo o primeiro semestre, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) atendeu 196.893 ocorrências – uma média de mais de 1 mil casos por dia. Os números da Polícia Civil são parecidos: 204.679 registros de janeiro a junho de 2018, indicando média de 1,1 mil incidentes comunicados diariamente. Nem todos são assaltos, mas se multiplicam pelo DF histórias de cidadãos sob a mira das armas de bandidos.
Nessa terça-feira (24/7), por volta das 3h40, criminosos explodiram dois caixas eletrônicos no Anexo do Palácio do Buriti. Os equipamentos estavam instalados na área do restaurante dos servidores. Armados com fuzis, os bandidos teriam aproveitado o número reduzido de vigilantes naquele horário para agir, mas fugiram do local deixando para trás cerca de R$ 6 mil. Não há estimativa da quantia de dinheiro levada. O caso espalhou o medo entre os funcionários do Buriti.
Veja vídeo da explosão:
Na véspera (23), um criminoso foi baleado durante assalto no Conjunto 2 da QL 4 do Lago Sul, na casa do desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) Pedro Aurélio Rosa de Farias, 72 anos. Ele reagiu ao roubo e atirou contra o suspeito que o havia rendido por volta das 14h – outros dois bandidos participaram da ação. O magistrado também se feriu e sua mulher foi agredida com coronhadas.
“Estava chegando de um almoço quando fui surpreendido pelos três assaltantes. Um deles desceu armado e os outros dois ficaram no carro”, disse. De acordo com o aposentado, os bandidos saíram do veículo gritando e perguntando onde estava o cofre. Levado para dentro de casa, o homem foi preso no banheiro com a secretária, enquanto os criminosos recolhiam relógios e correntes. Ao perceber que os ladrões estavam fugindo, o desembargador subiu ao quarto, pegou sua arma e disparou seis vezes, acertando um dos malfeitores, que ainda assim escapou.
No dia 14, um sábado, por volta das 9h30, um homem armado assaltou um cliente do posto de gasolina Auto Shopping, na QL 6 do Lago Sul. A vítima, filho de um deputado distrital, abastecia seu carro quando foi abordada pelo criminoso. “O assaltante encostou a arma na minha bochecha e me pediu para não olhar para ele, pegou o meu relógio e fugiu”, contou o rapaz ao Metrópoles. Com medo de sofrer nova violência, ele pediu para não ter o nome revelado.
A ação foi flagrada pelas câmeras de segurança do estabelecimento. Nas imagens (assista ao vídeo abaixo), é possível ver o motorista fora do veículo, conversando com os frentistas enquanto eles abasteciam o carro esportivo de colecionador. O assaltante passa pelo posto, avista o grupo e faz o retorno com a motocicleta. Alguns segundos depois, aborda a vítima com uma arma. O cliente e os funcionários não reagiram.