Sebrae: no DF, 100 mil microempresas não conseguem ajuda federal
Para a entidade, iniciativas do Planalto e da Esplanada não contemplam negócios como pet shops, restaurantes e lojas de confecção
atualizado
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No Distrito Federal, 100 mil microempresas castigadas pela crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus não conseguem acesso aos programas públicos de socorro financeiro do governo federal. O alerta é do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Com faturamento anual entre R$ 80 mil e R$ 360 mil, elas não se enquadram no auxílio emergencial, batizado como “coronavoucher”, para Microempreendedores Individuais (MEIs) e trabalhadores informais. Por outro lado, não têm dinheiro suficiente para acessar as linhas de financiamento. Juntas, empresas com esse perfil representam um terço dos CNPJs do DF.
Em âmbito local, empreendedores contam com o suporte oferecido pelo Banco de Brasília (BRB) por meio do programa Supera-DF. A linha de crédito especial, ampliada para R$ 1,5 bilhão na noite dessa quarta-feira (15/04), foi criada pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) e direcionada ao comércio e a empreendedores para superar a crise, em decorrência das medidas restritivas de isolamento.
Embora as autoridades do DF venham se empenhando em ajudar a economia a se manter nos eixos, quando o assunto é o governo federal, sobram reclamações.
“No Brasil, são 6,5 milhões de microempresas que não estão atendidas pela subvenção do governo federal nem pelo crédito. São 6,5 milhões de microempresas brasileiras que estão no respirador”, pontuou o presidente do Sebrae-DF, Valdir Oliveira.
Pelas contas de Oliveira, o DF tem 300 mil CNPJs. Deste total, 150 mil são MEIs, 100 mil são microempresas e outros 50 mil são de pequenas, médias e grandes companhias.
Segundo Oliveira, o coronavoucher contempla os microempreendedores individuais, com faturamento anual de até R$ 80 mil. Por outro lado, as linhas de crédito para capital de giro atendem preferencialmente empresas que faturam mais de R$ 360 mil.
“As microempresas estão no limbo. São pet shops, restaurantes, lojas de confecção. Estão há 30 dias sem faturar”, afirmou. Segundo Oliveira, estudos do Banco Mundial apontam que negócios desse gênero não conseguem superar 25 dias sem faturamento.
Pelos cálculos do Sebrae, se todas as microempresas no DF quebrarem de fato, vão desempregar pelo menos 300 mil pessoas. Do ponto de vista de Oliveira, os programas de socorro do governo federal deveriam focar na realidade dessas empresas.
Renda mínima empresarial
“O ideal seria a subvenção econômica, uma espécie de renda mínima, que possa garantir a sobrevivência delas nesse período. Elas não têm tem como conseguir crédito. A margem delas é muito pequena, não suportam custo do crédito”, sugeriu.
Por outro lado, segundo Oliveira, o governo federal precisa apertar o passo na implantação das soluções, inclusive aquelas que já foram anunciadas. “Quem tem os instrumentos é o governo federal. Vimos muitas promessas, mas ainda nada aconteceu na prática”, resumiu.
Problemas
O empresário Gustavo Mariasis vive esse drama. Ele possui uma fábrica de empanadas argentinas e emprega 10 pessoas. “Falta atitude dos gestores públicos. Vemos muita burocracia. Segundo Gustavo, os juros apresentados pelo governo federal são absurdos. “É como se você desse ajuda de quatro meses para o paciente de câncer terminal. Isso é maluco”, lamentou.
Sobrevivendo com vendas por delivery, o empresário fatura hoje apenas 10% do habitual. Ele suspendeu os contratos de 50% dos empregados. “Os demais, negociei redução de carga horária e salários proporcionalmente”, contou.
Carência curta
O empresário Marcelo Naves inaugurou uma fábrica de cerveja pouco antes de a crise estourar. Para o empreendedor, as linhas de financiamento apresentam juros elevados e carência muito curta. Nessas condições, o empreendedor fica preso em uma ciranda de dívidas.
“Dentro de uma visão conservadora, essas linhas de crédito são como afundar o pé no lamaçal”, disparou. Naves não espera caridade do governo federal, considera que seria necessário juros mais baixos, especialmente quem puder apresentar garantias e carência mínima de quatro meses.
Para sobreviver, decidiu abrir o negócio para investidores. Enquanto isso, trabalha nas ruas também fazendo delivery das bebidas. “Cada venda é a coisa mais importante nesse momento”, concluiu.
O empreendedor André Duarte compartilha das críticas dos demais empresários. “Mas, para mim, a melhor solução seria reabrir as portas”, afirmou. Mesmo assim, o empresário assumiu o compromisso: não vai demitir nenhum funcionário.
O que diz o governo federal
O Metrópoles entrou em contato com o Ministério da Economia sobre a questão. Por nota, a pasta afirmou que prepara o lançamento de linha de crédito especial para o socorro das microempresas.
“O Ministério da Economia, através da Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade (Sepec), está desenvolvendo uma linha de crédito só para as microempresas (com faturamento de até R$ 360mil por ano). Depois das medidas com foco na manutenção dos empregos (MP Trabalhista e crédito para folha de pagamento), nosso foco é em capital de giro para os microempresários, que são a maioria das empresas no país”, assinalou a pasta, em nota.
Segundo o ministério, foram colocadas em marcha medidas como o aumento de Concessões de Garantia (como exemplo, o Fampe – Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas) e as medidas provisórias Trabalhista e do FGTS. O governo também colocou no ar o site Vamos Vencer. A pasta não comentou as críticas do Sebrae.
Veja sugestões do Sebrae para os empresários enfrentarem a crise:
- Renegociar – O empresário deve renegociar custos fixos e cortar gorduras. Se puder, evite demitir, pois causa impacto no caixa. Além disso, após a crise, talvez tenha que contratar de novo. O aluguel costuma pesar no orçamento. Busque negociar a redução dessa cobrança durante a crise.
- Foco no time – O empreendedor deve valorizar e unir os funcionários. Mostrar credibilidade e liderança. Todos estão no mesmo barco. Por isso o time precisa estar coeso.
- Conectividade – Conexão com o cliente. Quem não fez a transformação digital, deve pegar o telefone e ligar para o cliente. Conectividade com o cliente é vital. O empresário deve ir para as redes sociais. Aproveite para fazer a transformação digital. Depois da crise, o Brasil terá um novo mercado. As gerações mais novas já usavam aplicativos para consumir. Agora, as mais antigas descobriram a comodidade e a agilidade do hábito de consumo digital. Sem evolução, a empresa estará fora jogo.
- Crédito – Procure financiar o seu custo fixo, caso seja possível. Para isso é importante ter cadastro atualizado junto às instituições financeiras. Ligue para o gerente de seu banco de relacionamento.